A tempestade de neve tinha começado e estava muito forte, em alguns momentos a casa balançava com os ventos. Dentro de casa não estava tão frio por conta das lareiras mas as vezes pelas frestas da casa batia um vento que me causava arrepios.
Riven vem comer.- Ouço Arthur chamar da cozinha.
O cheiro da comida invadia o quarto e era maravilhoso.
Chego na cozinha e me sento em frente a um prato de ensopado e alguns pães do lado. Coloco a primeira colher na boca e sinto aquele caldo quente e maravilhoso.
Você deveria vender essas maravilhas que faz. - Falo com a boca cheia.
Isso não dá tanto dinheiro quanto as peles.- Fala se servindo.
Eles não sabem o que estão perdendo.- Falo com os olhos fechados e saboreando a comida.
Já deitada na minha cama só ouço o vendo assobiando lá fora. Em alguns momentos me arrepio de frio mesmo embaixo de três cobertores de lá e com a lareira acesa.
Após alguns minutos finalmente não ouço mais nada.
.......
Ela vai valer uma grana.- Ouço um homem dizer.
Tudo que eu vejo são as árvores de baixo para cima e sinto um gosto de metal na boca. Estou praticamente jogada no chão com dores no corpo todo. Ouço alguém ou alguma coisa gritando no fundo mas não consigo me mexer.
Meus sentidos já não estão mais tão apurados e a última coisa que sinto é uma lágrima quente descendo no canto do meu rosto frio e machucado.
.............
Acordo tentando me acalmar e lembrar de onde estou, todos os dias o mesmo pesadelo e a mesma falta de ar ao acordar de madrugada.
Me sento na cama e respiro mundo sentido meu coração apertar.
Vou até a cozinha beber uma água. Me sento na poltrona em frente a lareira e observo o fogo dançando.
Alguns minutos se passam até que começo a ouvir passos do lado de fora, passos meios desengonçados na neve.
Me levanto devagar, vou até a cozinha pego uma faca e vou na porta. Olho pelo buraco no canto da janela e vejo uma pessoa, um homem meio ou melhor, muito bêbado tentando andar.
Ele cai na neve e não consegue levantar, não tem forças. Eu não deveria fazer isso mas vou assim mesmo.
ARTHUR LEVANTA, PRECISO DE AJUDA. - Grito em direção ao quarto do meu irmão. Pego um casaco que estava na poltrona, abro a porta e vou em direção aquele homem.
Tento ir rápido mas a neve está muito alta. Um tempo depois chego no homem desmaiado no chão. Era o Bram com um cheiro horrível de sangue. Não dava para enxergar muito, por sorte a luz da lamparina do vizinho ajudou um pouco.
Pego ele pelos braços e vou arrastando até em casa.
Me solta seu animal.- Ele resmunga tentando andar.
Cala boca ou eu te deixo aqui para morrer de frio. - Falo fazendo força para não deixar ele cair de novo ou nós dois iríamos para o chão.
Assim que entro em casa me irmão corre fechar a porta e depois me ajuda a levá-lo para o meu quarto.
O que aconteceu com ele?.- Arthur pergunta observando todos aqueles machucados no rosto do desacordado.
Ele disse que ia no festival da cidade ao lado, deve ter bebido e arrumado briga por lá. - Falo colocando ele na cama e começo a tirar o sapato do mesmo. - Você pode pegar uma roupa sua e me ajudar a trocá-lo?! - Digo tirando seu casaco enquanto Arthur vai pegar uma roupa limpa.
Depois de alguns minutos o vestimos e cobrimos, por sorte a cama ainda estava quente. Bram estava pálido de frio e tremendo igual porco indo para o abate.
Essa cara não toma jeito mesmo, um dia vai acabar sendo morto. - Meu irmão fala para ninguém específico e vai para a cozinha.
Pego suas roupas molhadas pela neve e coloco no chão do banheiro.
Depois de uns minutos Arthur entra no quarto com uma panela de água quente e uma toalha.
Vai colocando na testa dele até ele parar de tremer, eu vou dormir. - Ele fala meio irritado colocando as coisas em cima da mesinha ao lado da cama, dá uma última olhada no Bram e sai.
Me sento na cama e começo a fazer o que Arthur mandou.
Eu poderia deixa-ló morrer lá fora. Não sabia quem era até sentir o cheiro ruim dele. Provalmente as pessoas me deixariam morrer, seria um peso a menos para eles. De alguma forma por mais que ele me tirasse do sério e as vezes passava do limite, Bram não era uma pessoa ruim pelo menos não pelos os olhos das pessoas dessa vila. Ele sempre ajudava todo mundo quando podia, brincava com as crianças e trazia ótimas caças.
Mas depois dequela noite de inverno no bosque não confio mais nele e nem em ninguém nesse lugar.
.................................
Após um tempo Bram parou de treme e o único som que se ouvia era de sua respiração pesada.
Me sentei na cadeira em frente a cama e o observei dormir.