Capítulo 1: A cabana.

18 2 0
                                    

Estava com uma sensação estranha, que fluía pelo meu corpo a partir de minha barriga.  Eu despertava perante ao caos. Ao longe escutava um som familiar. Era a voz de uma pessoa conhecida, que me chamava pelo nome.

— -trick, Petrick! Levante-se vamos, ainda não acabou!

A voz era trêmula, como se algo estivesse se esvaindo de suas mãos lentamente. Era uma voz feminina muito familiar. A sensação de raiva percorria o meu ser, todavia me sentia impotente, fraco. Ao olhar ao redor com a visão ainda embaçada, tudo que podia ver eram labaredas tão altas quanto casas, chamas vermelhas como sangue. A visão se entorpecia mais uma vez, deixando por fim apenas uma ira pura e genuína. Não durou muito, do mesmo jeito que este fragmento de algo ainda não compreendido.

*       *       *

Acordo ainda anuviado com uma dor em minha cabeça. Minha visão era turva, mas consegui distinguir o farfalhar das folhas das árvores e a sensação da grama em minhas mãos. Me encontrava deitado sobre um chão gramado e macio, mas com um feixe de luz batendo em meu rosto. Ainda era dia. Levanto-me do chão frio e olhando ao redor noto que me encontro em uma floresta. Era calma e me afastava daquele… O que era aquilo afinal? Isso eu já não sabia, mas olhando os meus pertences, encontrei alguns itens que nunca havia visto. Encontrei uma espada de uma mão feita de ferro comum, e um frasco com um líquido roxo.

Nenhum desses pertences era meu e não lembrava de forma alguma onde eu estava ou o que estava fazendo ali. Como me encontrava perdido, segui caminhando sem rumo por alguns minutos até que ouvi o próprio vento. Era como se conversasse comigo e me indicasse o caminho, não havia uma palavra sendo dita de fato, mas a sensação que estava sendo guiado persistia. Conforme seguia a estranha brisa, eu percebi que a floresta ia ficando gradualmente mais densa. Avançando cuidadosamente, eu entrava na floresta lentamente. Após caminhar por cerca de 2 horas, me dou o luxo de parar para descansar. Como uma faca gélida cortando a calmaria, escutei alguns ruídos a minha volta. Eram como passos rápidos e astutos, porém tudo parou de forma repentina. Um pequeno arbusto começou a se agitar como se guardasse em si uma grande surpresa para mim. Uma criatura estranha saltou de um arbusto próxima pronta para me matar. Quase não tive tempo de reação, com um rolamento improvisado consegui escapar da criatura. Agora um de frente para o outro, posso enfim ver contra o que estava lutando.

Diante de mim, emergia uma figura humanoide, pequena como uma criança, mas sua pele verde e o sorriso demoníaco que adornava seu rosto criavam uma aura sinistra. Seus olhos amarelos, parecidos com os de uma cabra, fitavam-me com malícia. Orelhas pontiagudas, lembrando as dos Elfos, e uma adaga enferrujada em suas mãos completavam a imagem macabra. Apesar de já ter me deparado com criaturas semelhantes, o conhecimento de que minha força superava a delas fazia o enfrentamento parecer quase trivial. Decidi iniciar a batalha com determinação, correndo em sua direção. A espada foi sacada no calor da corrida, cortando a distância entre nós em meros segundos. O primeiro golpe, um corte preciso em seu peito, fez o sangue azul do ser jorrar, e seu grito de agonia ecoou no ambiente. A vitória parecia certa, pois aquele golpe estava destinado a encerrar sua existência ali mesmo.

A incredulidade se instalou, pois minha força deveria tê-lo aniquilado, mas ali estava ele, persistentemente vivo. A surpresa deu lugar à dor quando percebi a ferida em minha coxa, evidência da lâmina inimiga banhada com meu próprio sangue. O pequeno confronto não fora sem custos para mim, e não permitiria que tal cena se repetisse. Empunhando a espada com ambas as mãos, movi-me rapidamente em sua direção. O golpe desferido foi preciso e determinado; minha lâmina cravou-se no olho direito da criatura. Seu sangue, como um chicote, atingiu meu rosto, mas a certeza de que aquela criatura não se ergueria contra mim novamente trouxe um alívio momentâneo.

Ao extinguir a vida da criatura, desabo ao lado de seu corpo inerte. Apenas então, percebo minha respiração ofegante, o coração pulsando forte, e uma exaustão que permeia toda a minha adrenalina dissipada. Minha força, outrora inabalável, revela-se alterada, algo estava claramente errado em minha resistência, agilidade e vigor. Agora, cai a ficha de que estive à beira de um perigo real de morte. Esse poderia facilmente ter sido meu último embate, no meio do nada.

Tentei afastar os pensamentos indesejados ao retomar a caminhada que ainda se estendia diante de mim. Ergui-me com dificuldade, um ardor flamejante marcando meu ferimento. Improvisei uma atadura, rasgando um pedaço da calça e enrolando-o no corte, uma tentativa de conter tanto a dor física quanto o sangramento.

Entre as árvores imponentes, avancei pela floresta sem qualquer noção do tempo. A exaustão pesava em cada passo, e a tontura ameaçava me derrubar a qualquer momento. A atmosfera densa e úmida tornava a caminhada ainda mais desafiadora. Cada respiração era um esforço, e meus sentidos estavam embotados pela fadiga.

Foi quando, como um presente da própria floresta, me deparei com uma pequena erva crescendo aos pés de uma majestosa árvore. Embora não fosse um botânico experiente, sabia o suficiente para reconhecer uma planta medicinal. Esta pequena folha verde seria minha salvação no momento de necessidade. Ao me abaixar para colher a planta, meu corpo pareceu sucumbir à exaustão acumulada. No entanto, firmei-me e arranquei a erva do solo. Suas folhas, vibrantes em tons de verde, agora eram minha única esperança.

Com mãos trêmulas, macerei as folhas, liberando um aroma herbal no ar. Apliquei a pasta improvisada sobre a ferida que ardia incessantemente. Uma dor aguda, como uma ferroada intensa, percorreu meu corpo, mas também trouxe um alívio palpável. A hemorragia que antes parecia incontrolável cedeu, e a cura estava em andamento.

Sentado entre as árvores, deixei-me absorver pela quietude da floresta. Cada respiração recuperava um pouco mais das forças que haviam se esvaído. Olhei ao redor, agradecendo às sombras das árvores que me acolhiam e prometiam abrigo em minha jornada incerta. Quando, por fim, me senti renovado, ergui-me para continuar pela trilha, agora mais consciente da complexidade e da beleza escondida na natureza ao meu redor.

Caminhei penosamente por mais uma hora, minha perna latejava a cada passo, até alcançar uma colina desprovida de árvores, coroada por uma casa velha e abandonada. O sol já se despedindo no horizonte indicava a iminência da noite, e sem dúvida, aquele era o destino para onde o vento me guiara. Decidi acampar ali, no topo, e cuidar do meu ferimento antes que a escuridão tomasse conta do lugar.

À medida que me aproximava, um arrepio percorreu minha espinha. A casa, testemunha do tempo, erguia-se feita de madeira corroída, duas janelas de vidro encarando-me à frente, e um alpendre adornando sua fachada. Não era exatamente convidativa, mas uma inexplicável sensação me instigava a entrar. Ao segurar a maçaneta, uma última oportunidade de recuo se apresentou diante de mim, mas o cansaço do meu corpo venceu, compelindo-me a adentrar aquele local.

Ao girar a maçaneta, deparo-me com uma casa banhada por luzes tênues emanando de cristais luminosos dispostos como velas. O suave resplendor revela o interior: uma sala central com uma mesa cercada por várias cadeiras, ocupadas não apenas por móveis, mas por duas figuras enigmáticas. Uma delas é uma garota encapuzada, envolta em um manto cinza, enquanto a outra é um homem misterioso oculto sob uma capa escura. A porta, silenciosamente, se fecha atrás de mim. O encapuzado quebra o silêncio, pronunciando:

— Boas-vindas, Petrick Sans.

Estigma Do Destino Onde histórias criam vida. Descubra agora