País Normallis

0 0 0
                                    


Me esquivo para o lado e desvio de uma torrente de água que quase me pega em cheio, tento alcançar o corpo em minha frente com as chamas, mas a água me vence dessa vez e caio no chão, me afogando, quando sinto mãos humanas em torno do meu pescoço, sinto que minhas chamas me abandonaram, devido ao meu corpo estar completamente ensopado, e fraco demais para vencer a água.

Até que ouvi um apito dando o sinal de que ele poderia me soltar.

Era um acqua, mas não estávamos lutando até a morte. Era uma luta de treinamento.

Nos acampamentos fornecidos pelo governo, para os nine órfãos como eu, haviam treinamentos diários. Eles não eram obrigatórios de início, o governo não sentia necessidade de nos fazer treinar, pois o objetivo das arenas era exatamente nos matar e nos manter sob as correntes do medo e do controle.

Porém nós, os nine, nos preparamos a vida inteira para esse momento, para entrar nas arenas. Sabíamos que se quiséssemos ao menos uma chance de viver, deveríamos saber ao menos lutar, então com muita briga, conseguiram ao menos o direito de treinar suas habilidades, para ter alguma chance em batalha.

E era isso que eu fazia dia após dia. Em meu acampamento, todos tinham um certo respeito por mim, pois eu passava exatamente a imagem que eu queria: que era a de que eu era forte e não tinha apreço por ninguém mais além de mim. Na verdade, eu sempre tive medo de morrer, e não queria que a minha vida fosse essa, então sempre foquei em sobreviver.

Sobreviver para que exatamente? Eu também não sei, mas precisava descobrir que existia algo lá fora, fora dos acampamentos e das arenas, que eu ainda não sabia o que era.

Ao acabar os treinamentos, voltamos aos alojamentos. Me dirigi ao meu dormitório e encontrei com a minha colega, Mia.

- Você perdeu hoje né? - Disse ela
- Perdi, você sabe como a água quase sempre ganha do fogo - Digo, meio chateada por ter perdido
- Fica tranquila, na próxima você ganha! - Falou com um tom animado

Era a verdade, sempre que lutava com um acqua, ou perdia, ou saía gravemente ferida. Um ardente precisa ser muito forte e ter muita sorte para vencer contra a água. Mas os acqua também temem os ardentes, pois se não forem fortes os suficientes, podem ser queimados.

Eu estava sem machucados agora, pois havia acabado de sair da enfermaria, aonde uma curandeira me ajudou e saí de lá como se nunca tivesse sido machucada.

Nos acampamentos tem sempre alguns curandeiros para ajudar aos que gostam de treinar. Assim como eles, muitos nine também trabalhavam em várias partes da sociedade, e todos esses que trabalham, seja como guardas, curandeiros de alojamentos, organizadores de arenas, todos eles haviam passado pelas arenas e ganhado a incrível oportunidade de ter "uma vida normal". E os que não tinham essa chance, eram aqueles que morreram e morriam nas arenas.

Eu treinava dia após dia e agora, cada vez com mais afinco, pois como venci em minha arena individual, isso significava que a minha arena final era daqui a 1 mês.

Vencer daquele telec foi fácil. Mas nas arenas finais há muitos nine habilidosos, os melhores.

Todo poder de um nine poderia e deveria ser desenvolvido. Por exemplo, uma ardente como eu pode fazer chamas aparecer em suas mãos, mas somente um ardente que tem muito talento ou que treina muito, consegue fazer chamas fortes e aparecer em todas as partes de seu corpo. Ou então um destruidor, que quando chega no nível final de seu poder, pode destruir qualquer tipo de construção, camada, pele, ossos, somente com um toque indireto, ou seja, encostando no chão em que a pessoa pisa, poderia destruí-la. Mas isso exige um nível intenso de treinamento de habilidades, e era isso que todos buscavam ao treinar todos os dias incessantemente: poder ficar vivo.

Eu era considerada uma das mais fortes do meu acampamentos, mas isso porque sempre treinei muito mais do que o necessário.

Agora, mais do que nunca, todos que querem viver, treinam como se suas vidas dependessem disso (meio que dependem) para ter uma oportunidade de sobreviver às arenas.

É engraçado pensar que um povo que possui poderes é todos os dias massacrado por pessoas comuns. Mas era exatamente por isso que não revidávamos, pois estamos ocupados demais em ficar vivos.

Mas, apesar dessa realidade, muitos de nós não tentavam fazer nada além de treinar e esperar sobreviver às arenas, pois os poucos que se atreviam a quebrar as regras, e tentar viver de outra maneira, era torturado com a tecnologia tenebra, pelos guardas do governo, que ironicamente, quase sempre são nines (os que passaram pelas arenas e se tornaram servos do governo). Eles o colocam em um quarto separado e ligam a vibração terrível para te ensinar uma lição, ou te matar.

Até hoje ninguém descobriu como burlar essa tecnologia, e se descobriu, foi morto pelo governo, pois obviamente, era uma ferramenta muito útil na manutenção do poder dos normais.

Por isso, o maior desejo hoje de um nine, é se tornar um servo. Logicamente, o nome oficial para isso não é esse, eu particularmente chamo de servo, pois é isso que são. Mas o nome certo é normie. Um normie é um nine que obteve o direito de viver como um normal, mas utilizando seus poderes à favor da sociedade. E para isso, precisava vencer na arena final, que acontece a cada 6 meses.

E essa é a vida de um nine que nasce no país de Normallis.

Sobreviva, nine!Where stories live. Discover now