A arena individual

1 0 0
                                    

Aurora! Aurora! Aurora!
Ouço a multidão gritar meu nome, com assobios e vozes delirantes. Vejo o corpo que está à minha frente se mover cambaleante, quase como um bêbado, devido aos machucados severos que levou, deve estar com sua visão turva e sentidos embaçados, me admiro que ainda esteja vivo.

Sinto meu corpo delirar com as chamas sob minha pele, estou com a respiração ofegante, devido a luta. Meus pensamentos não estão em mim, nem nas vozes ensurdecedoras e enlouquecidas da plateia que nos cerca, nem na arena destroçada sob meus pés, nem no oponente em minha frente que desesperadamente luta por sua vida. Não, meus pensamentos estão somente em uma coisa: sobreviver.

Toda a raiva impregnada em mim, durante todos esses anos, está dançando sob minha pele em formato de chamas, sinto-as passar sobre meus braços, e fazerem meus olhos brilhar com o dourado do fogo e da ira que agora me toma por completo, por ter que lutar com um igual.

Desvio rapidamente dos destroços que são jogados até mim, rolando no chão e lançando chamas em toda parte, sentindo explosões saírem das palmas das minhas mãos, e incinerar tudo ao meu redor.

Ele é um telec, infelizmente para a sua sorte, quando chegou sua vez de lutar nas arenas individuais, ele teve de enfrentar uma moduladora de fogo, eu.

Sinto minhas mãos vibrarem com as chamas, e cada vez que me aproximo, sinto meu adversário, tremer sob minha presença, como se fosse uma espécie de presa que está encurralado pelo seu predador.

Mais uma vez, ele tenta movimentar pedras e objetos com o poder de sua mente para se defender, mas com um só movimento, sinto as chamas que não saem somente de minhas mãos agora, mas de todo o meu corpo, queimarem todos os objetos, e a multidão enlouquece mais uma vez.

Se essa multidão, repleta de esnobes e ricos, soubessem que minha ira não está nesse homem em minha frente, mas neles, correriam como se suas vidas dependessem disso. Mas não haveria como eu fazer nada contra eles, então faço a única coisa que poderia fazer, lutar contra esse telec.

Eu não fazia isso porque queria. Não! Eu precisava sobreviver. Eu não gosto de matar pessoas, ainda mais um nine, que era como eu. Mas nessa sociedade, ou você luta, ou morre, e eu não queria morrer, então lutava.

Ao chegar mais perto, olho o corpo esguio de meu oponente, sem forças jogado ao chão, e quase como um sussurro, digo as palavras que seriam as últimas que aquele homem ouviria em sua vida: "você lutou muito bem, agora você pode descansar", e com um último ato, termino com sua vida, em poucos minutos, as chamas quentes dançavam por seu corpo, já sem vida.

A arena estava completamente destruída, com destroços no chão e com as colunas completamente incineradas, era quase ensurdecedor o som nojento que saía da boca dos normais, quase como se fosse uma espécie de show, o qual servia somente para os alegrar, e não como se fosse a subjugação de uma espécie inteira, como se não estivéssemos lutando para salvar as próprias vidas, em uma espécie de cultura controladora da ordem e dos nine.

Nine, esse era o nome designado a pessoas como eu, que possuem poderes. Haviam 9 categorias, e daí o nome "nine". As categorias de poderes eram os ardentes, acqua, telec, telep, forcadores, curandeiros, electrons, speed e destruidores.

Os manipuladores de fogo, ou ardentes, assim como eu, poderiam criar chamas a partir de seu corpo, e conforme o nível de treinamento, fazer surgir chamas não somente pelas palmas, mas pelo corpo inteiro. Os manipuladores de água, que também poderiam ser chamados de acqua eram igualmente fortes e inimigos naturais dos manipuladores de fogo. Telecinese, ou telec, como eram chamados, seriam os que podem fazer objetos flutuar, assim como seu próprio corpo também. Os telep são os telepatas capazes de ler a mente de qualquer um. Os manipuladores de força eram chamados de forçadores e continham uma força física absurda que poderia causar muitos danos a alguém apenas com seus punhos, e então os curandeiros, que poderiam curar qualquer um e até mesmo eles por si só. A eletricidade era a capacidade de criar e de manipular a eletricidade e os que possuíam esse poder eram chamados de electron, a velocidade era o poder de se movimentar muito rápido, os speed. E por fim os destruidores, aqueles que poderiam destruir qualquer coisa ou qualquer pessoa apenas tocando.

Nós, os nine, somos obrigados pelo governo a lutar em arenas individuais a cada semana. Assim que você completava 18 anos, era designado à uma arena individual para lutar com outro nine, até que um morresse e o outro sobrevivesse. O vencedor seria designado à arena final, uma arena que acontecia a cada 6 meses, com o objetivo de escolher os 10 vencedores da temporada, a qual seriam venerados e louvados, apenas como capa, pois internamente, todos sabiam que na verdade, os vencedores de temporada, viraram servos oficiais do governo, tendo que realizar todo tipo de trabalho sujo para o governo e sem um pingo de liberdade, apenas com alguns luxos que nines comuns não tem, como fama, por exemplo.

Como a maioria dos nine morriam nas arenas, a maioria das crianças eram órfãs, e assim como eu, cresciam em dormitórios designados pelo governo, para serem criadas e enviadas para o abate aos 18 anos.

O discurso que era pregado é que as arenas nos mostravam a verdadeira essência de um nine, mas a realidade era apenas um meio de manter aqueles que tinham poder, sob controle, e ensiná-los que na verdade não tinham poder algum.

E agora você me pergunta, como que os normais (assim chamados os que não possuíam poder) conseguiram controlar de tal forma os nine?

A séculos atrás, quando a realidade era completamente o contrário, e quando os normais estavam quase erradicados, foi criada a tecnologia tenebra, um dispositivo capaz de vibrar a frequência dos nine, fazendo com que a dor fosse tanta, que além de torturar e machucar severamente, poderia facilmente matar um nine. Esse dispositivo é usado em larga escala até hoje para manter o controle e a escravidão dos nine, mesmo que não precise ser utilizado com frequência, pois as arenas já faziam muito bem o seu trabalho: nos manter entre as correntes.

Sobreviva, nine!Where stories live. Discover now