O começo da viajem

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Chovia. As gotas escorriam pelo meu rosto, misturando-se com as lágrimas que eu não conseguia controlar. Eu olhava para o corpo da minha irmã, imóvel no chão frio, e a pergunta me corroía: como tudo chegou a isso? Meus pensamentos voltaram ao início, ao primeiro dia que passamos neste vilarejo esquecido pelo mundo.

"Duas semanas atrás"

Estávamos a caminho da cidade natal do meu pai, um lugar que ele raramente mencionava. Ele era um homem rico agora, mas nascera nesse vilarejo afastado. Foi uma surpresa quando anunciou que faríamos essa viagem. Com nossos avós mortos, não havia visitas familiares a fazer. Eu achava que era apenas nostalgia.
No carro, o silêncio era quebrado pela inquietação da minha irmã, Lyvia.

Lyvia: Pai, falta muito? ela perguntou, impaciente. - Esse lugar parece o fim do mundo.

Pai: Estamos quase lá. - Respondeu ele, com o tom impaciente de sempre.

Lyvia era assim: reclamava de tudo, mas sabia ser doce quando queria. Eu, por outro lado, mantinha-me em silêncio, observando o caminho pela janela, enquanto a estrada de terra nos sacudia como se resistisse a nos levar até lá.

Mãe: Querido, você tem certeza de que esse caminho é seguro? - perguntou minha mãe, quebrando o silêncio. - Já faz horas que estamos nessa estrada.

Pai: Eu cresci aqui. Sei o que estou fazendo - ele retrucou, com irritação. - Só sabe reclamar.

Minha mãe suspirou, voltando o olhar para mim.

Mãe: Está tudo bem, Raquel? - ela perguntou. - Você não falou nada a viagem inteira.

Raquel: Estou bem, mãe - menti, com um sorriso forçado. - Só estou surpresa que estamos realmente fazendo isso.

A verdade é que nunca entendi essa súbita necessidade do meu pai de voltar ao passado. Ele sempre foi um homem duro, fechado, mas essa viagem parecia diferente.

"Alguns dias antes"

Estávamos jantando quando ele anunciou a viagem.

Pai: Vamos visitar minha cidade natal daqui a dois dias.
Quase me engasguei com a comida.

Raquel: O quê? - perguntei, incrédula.

Minha mãe sorriu, como se aquela fosse a melhor notícia que já recebera.

Mãe: Finalmente uma viagem em família! A última vez, as meninas tinham 6 anos.

Eu não queria ir. Aquilo parecia estranho, forçado.

Raquel: Não quero ir - declarei, cruzando os braços.

Mãe: Você vai, queira ou não - minha mãe disse, sem hesitar.
Suspirei. Sabia que não tinha escolha.

Raquel:Tá bom, mas não me peçam mais nada.

Mãe: E você, Lyvia? - minha mãe perguntou.

Lyvia, percebendo a animação da minha mãe, cedeu.

Lyvia:Vou por bem.

"Dias atuais"

Voltando ao presente, olhei pela janela e vi que finalmente estávamos chegando. A estrada esburacada deu lugar a um caminho de pedra, e a pequena cidade começou a aparecer. As casas eram simples, muito diferentes do que estávamos acostumadas. Parecia que o tempo havia parado ali.
O carro finalmente parou em frente a uma casa antiga, quase caindo aos pedaços.

Lyvia: Pai? Que lugar é esse? - perguntou, boquiaberta.

Pai: É a casa onde cresci - ele respondeu, como se fosse óbvio.

Lyvia: Como você conseguiu morar aqui? E ninguém quis comprar essa casa?

Pai: Eu comprei ela - ele disse, com um tom firme. - Vamos entrar.

A casa, apesar de velha por fora, estava surpreendentemente arrumada por dentro. Uma sala pequena, uma cozinha modesta, dois quartos e um banheiro.

Lyvia: Dá pra sobreviver, eu acho - murmurou.

Subimos para o quarto que íamos dividir, um espaço apertado com um guarda-roupa antigo. Depois de arrumar nossas coisas, deitamos na cama e ficamos em silêncio, olhando para o teto.

Lyvia: Nós vamos ter que ficar aqui por duas semanas? - perguntou.

Raquel: Parece que sim

Lyvia: Esse lugar é tão afastado que não deve ter nada pra fazer

Raquel: Podemos explorar o vilarejo - sugeri.

Lyvia:Melhor do que ficar aqui sem fazer nada.

Estávamos prestes a sair quando nosso pai apareceu na porta.

Pai:Para onde vocês pensam que vão?

Raquel:Vamos dar uma volta, pai. Já não somos mais crianças - respondi.

Pai: Não vou deixar vocês andarem por aí sozinhas. É fácil se perder por aqui. Esperem um minuto.

Ele saiu, e nós ficamos esperando, impacientes.

Raquel: A gente podia fugir dele e sair assim mesmo - sugeriu

Lyvia: Eu não! Prefiro ter um guia. Vai que tem algum bicho venenoso por aí - Lyvia retrucou.

Quando a porta se abriu novamente, esperávamos um guia forte e imponente, mas, para nossa surpresa, uma garota apareceu.

Pai: Esta é Bárbara, filha adotiva de uns amigos meus - disse nosso pai. - Ela vai guiar vocês.

Bárbara sorriu timidamente.

Barbata: Oi, sou Bárbara. Vou ajudar vocês a não se perderem por aqui.

Raquel: Muito prazer, Bárbara - respondi. - Eu sou Raquel, e essa é minha irmã, Lyvia.

Lyvia olhou desconfiada para a garota.

Lyvia: Tem muitos animais perigosos aqui? Cobras? Escorpiões?

Barbara: Alguns - respondeu com um sorriso. - Mas não se preocupe, eles são raros.

Lyvia suspirou, aliviada.

Raquel: Então podemos ir agora, pai?

Pai: Agora podem - ele disse.

Saímos com Bárbara, prontas para explorar. Mal sabíamos que essa pequena aventura mudaria nossas vidas para sempre.

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