PARTE I

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O sol estava se despedindo aos poucos, e logo as pessoas na praia se despediam também. Dona Ruth e tia Márcia estavam organizando os itens: as cadeiras dobradas, os guardas-sóis empacotados, o cooler repleto de cerveja e refrigerante, agora está vazio e leve. 
De repente minha avó, dona Ruth, fechou os olhos e colocou as mãos na barriga e começou a gritar: 

— Ai, ai, ai! Minha barriga! Acho que foi o pastel de queijo.

— Mãe, a senhora é teimosa! Avisei que o pastel de queijo a senhora não podia comer.

— Ah Márcia! Me poupe de seus sermões! Estou com muita dor para falar disso agora! 

— Então vamos procurar um banheiro aqui perto. 

— Menina, todos os banheiros daqui são pagos e eu gosto da liberdade que tenho na minha casa.

— Então vamos para casa já! Helena e Guilherme, podem levar as coisas no carro de vocês? Ok, beijos! 

E antes que eu pudesse respondê-la, elas se foram, subindo pequenos degraus de concreto que dão entrada na praia em direção ao carro.

Fico sem reação por um bom tempo porque saio do transe com um aceno na minha frente, chamando atenção 

— Helena? Pode me ajudar, por favor? 

Eu concordei sem dizer nada e o ajudei a levar as coisas até a sua picape prata e entramos no veículo.

O silêncio se instaurou brevemente, ele deu ré e seguiu em direção a pista. Neste exato momento, relembro de como acabamos aqui. 

Tomava meu café da manhã calmamente, pensando em como estaria a praia neste dia ensolarado. Os pássaros estavam cantando uma melodia suave. Até que uma voz ecoou lá fora, uma familiar porém, estava mais madura e grave. 

De repente, minha tia que estava levando o pão em sua boca, o largou com tudo no prato e correu até o portão. Tento não imaginar ou sequer deduzir quem seja o dono daquela voz. E quando ele entra, a sensação de déjà vu me atinge, como uma onda forte que você não prevê o impacto, logo depois de se distrair com algo. Reconheceria o seu olhar em qualquer lugar. 

Guilherme havia mudado fisicamente da última vez que nos vimos. Estava mais alto, robusto, com aspectos de um homem maduro. Desviei imediatamente o olhar, não é como se eu me importasse com o fato dele estar aqui, bem na minha frente após anos. Há exatamente sete anos.

Ele observou todo o ambiente até seu olhar cair sobre mim. Era um misto de surpresa, vergonha e apreensão. 

— Helena, este é o Guilherme. Ele é o nosso vizinho. 

Acho que fiquei por cinco segundos tentando absorver as palavras da minha tia. Ele engoliu seco antes de dizer: 

— Oi…Helena. 

— Olá, Guilherme. — respondi rispidamente.

— Quanto tempo, não? 

— Espera? Vocês já se conhecem? — questionou tia Márcia.

— Sim— disse Guilherme, ao mesmo tempo que neguei a pergunta. 

— Hmm, interessante.

— O que é interessante, Márcia? — perguntou a minha avó, aparecendo na cozinha alheia a nossa conversa, até que ela avista Guilherme. — Ah, Gui! Quanto tempo, meu filho! — se aproximou dele e abraçou. 

— Oi dona Ruth! Como a senhora está?— perguntou Guilherme.

— Eu estou bem, menino…— ela deu um passo para trás e o observou, comentando — que agora está um rapaz bonito! 

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