Olhos

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- Por quanto tempo pretende ficar de luto moleque?

Sanji não sabia quantas vezes Zeff o tinha questionado a mesma coisa em todos esses anos, em todos os primeiros de março de cada ciclo.

Sinceramente, estava exausto demais para pensar sobre isso.

- Eu não estou com paciência hoje para lidar com você, seu velho acabado. Arranje algum outro para perturbar com seus resmungos.

- Escuta aqui pirralho - Zeff aproximou-se da mesa do escritório a passos firmes. O velho cozinheiro estava determinado a tirar o seu filho adotivo dos seus pensamentos sombrios - Faz séculos que ele morreu, por quanto tempo mais você pretende ficar assim? Sabe que se ele o visse tão infeliz, ele te cortaria no meio e eu o ajudaria a pontapés.

- Você não pode me deixar em paz só por hoje? - Sanji questionou cansado. O cigarro em sua boca já tinha perdido o seu sabor há muito tempo, assim como os quatros maços de cigarros vazios espalhados por sua mesa.

Não é como se um vampiro como ele fosse morrer de câncer no pulmão.

Não é como vampiros em si morressem.

Era um vampiro puro, um vampiro desde o nascimento, desde de toda a glória da era de ouro e seu final horrendo. Porém, a percepção da morte, a sensação de sentir o seu coração parar de bater e o pressentimento de uma devasta escuridão assolar sua alma, apenas teve o desprazer de conhecer essas sensações quando Roronoa Zoro resolveu aparecer em sua conturbada vida.

Mais especificamente, quando Roronoa Zoro decidiu morrer em seus braços e sussurrou sorridente em suas últimas palavras que Sanji deveria encontrar o seu tesouro e ser feliz no vasto mar azul.

Como assim encontrar o seu tesouro e sua felicidade quando a única fagulha do mais belo amor estava morrendo na sua frente?

Zoro era um grande de um hipócrita, imbecil, idiota, arrogante, sem nenhum pingo de mínima inteligência.

Estúpido Marimo.

Droga. Ele estava pensando no maldito apelido novamente.

- Garoto, você está com uma cara que está prestes a chorar horrivelmente feito um bebê remelento - Zeff acusou sem nenhuma misericórdia. Por mais que o seu tom fosse duro, os olhos azuis do antigo perna vermelha transbordavam preocupação - Vamos lá criança, você tem um império de restaurantes para comandar. Não pode colocar tudo sobre minha responsabilidade, tenha pena de um vampiro acabado.

Sanji sabia que o velho estava certo. Deveria ter superado o maldito marimo a alguns séculos atrás. Ter esquecido a vibração da voz grave, o ritmo de sua respiração, os olhos cinzentos tempestuosos, os cabelos esverdeados e maldita gargalhada que assolava todos os seus sonhos como uma tortura.

Como que diabos supera a perda de sua alma gêmea?

Roronoa sempre roubava beijos depois de breves discussões, como se estivesse selando um acordo de paz depois da tempestade. Mesmo com os seus dedos gélidos, se Sanji colocasse suas digitais sobre seus próprios lábios, ele conseguia sentir o calor humano da boca de Zoro na sua. Porém, o calor humano de Zoro parecia desaparecer cada vez mais com os anos passando.

-Olha, fossa ou não pirralho, você pelo menos tem que sair daí para dar as caras nas turmas novas.

Com todo respeito aos velhos que conhecia, não tinha ideia do porquê não ter matado Zeff ainda, mesmo com todos esses séculos de convívio.

- Do que caralhos você está falando velho gagá?

- Presta atenção nessa língua seu porra - Zeff jogou um dos efeites da mesa bem na sua cara, fazendo-o quase engasgar com o seu cigarro - Não te criei assim seu bostinha, onde você ver eu falando isso seu animal? Ainda de ser boca suja é esquecido? As turmas de bartender e confeitaria começam hoje.

Olhos da lua (Zosan)Onde histórias criam vida. Descubra agora