Uma tarde

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Era uma caminhada breve, dessas que ele fazia apenas para levar seu cachorro para passear, o frio persistia na sombra e o sol fazia seu papel de aquecer os corações solitários de quem se aventurava a sair em meio ao caos. E era isso que ela procurava naquela tarde comum de domingo, olhar o mar e entender o motivo da vida. Talvez estivesse no caminho certo, até que o cachorro dele consegue corajosamente fugir da coleira, pulando exatamente no colo dela, fazendo perder os pensamentos tão próximos de descobrir a razão de tudo, ou não.

Nesse momento, embaraçado com o ocorrido, se aproxima, detém o animal voraz por carinho e atenção, que nesse instante encontra-se atacando sua vítima com lambidas furiosas. Cria-se um laço, iniciado por um ser que agora lhe cai perfeitamente a alcunha de "melhor amigo do homem".

Ele pensa em ir embora, mas algo lhe impede de dar o próximo passo depois de já ter dito Adeus;

- Posso me sentar?
- Claro, acho que eu e seu cachorro temos muito para conversar (um sorriso de canto de boca).

Ainda envergonhado ele se senta ao lado daquela menina tão cheia de vida, curtindo a si mesma e a cada pedacinho do seu dia.

- O que faz aqui sozinha?
- Curtindo a areia, o mar, a vida, a mim...

Nesse momento, mesmo sem entender se isso é realmente possível, ele se sente perdidamente apaixonado por ela, uma alma tão livre e linda.

- E você, o que faz por aqui?
- Tentando fugir de mim, fugir da solidão, do tédio de domingo e levando ele para fazer coco na rua...

Nesse exato momento, mesmo sem entender se isso é realmente possível, ela se sente perdidamente apaixonada por ele, uma alma tão cheia de medos e mesmo assim linda.

Depois de algumas horas de boa conversa e já íntimos, como se tivessem vivido uma vida inteira ali sentados... seu cachorro mais uma vez, no auge da bravura, foge em direção ao mar, os dois correm, quase que sentindo o momento em câmera lenta, sentido toda vida possível, o vento, o amor, tudo em sinestesia, alcançam o mar revolto, quase numa euforia por recebe-los sendo ele a sentir a energia daqueles dois e não o contrário. Lembram de agradecer ao amigo pelo empurrãozinho e se beijam, um beijo longo, intenso, um beijo que a faz sentir o medo e a solidão dele, um beijo que o fez sentir-se livre, conectado com tudo que o cerca.

Nesse momento eles se misturaram, nasceram ali e até permaneceram um tempo, com uma percepção diferente dos que passavam por perto, suas horas renderam para a vida um ponto de esperança, um sentimento de êxtase e coragem para ser um pouco melhor que antes.

Agora ela enfrenta os seus maiores medos e ele se sente grato pela vida e sua própria companhia, ambos curados por um lampejo de amor.

Enquanto durarOnde histórias criam vida. Descubra agora