Capítulo um (Degustação)

26 5 0
                                    


Ana Luíza

Paro em frente ao prédio e começo a me lembrar de tudo que aconteceu nos últimos anos. Tento me concentrar no aqui e agora, mas as lembranças chegam sem pedir permissão.

Fui criada sempre com muito amor pelos meus pais, eles se casaram quando ainda eram novos, sem o apoio da família da minha mãe, que sempre foi contra o relacionamento dos dois.

Meu pai era de origem humilde, já minha família materna tinha muitas posses e sempre o acusaram de querer se aproveitar da filha para subir na vida.

Quando ela completou dezoito anos, eles fugiram. Deram duro juntos, sem nunca pedir ajuda aos meus avós, conseguindo se estabilizar. Nunca me deixaram faltar nada. Não éramos ricos, mas tínhamos uma vida confortável. Eles sempre me incentivaram a estudar e a lutar por aquilo que eu queria.

Na época em que entrei na faculdade de administração, deram uma festa para comemorar. Não cansavam de dizer que, independentemente de qual profissão eu escolhesse, tinha que dar tudo de mim.

Foi na faculdade que conheci o Guilherme e, logo no primeiro dia de aula, me encantei por ele. Dois meses depois, estávamos namorando.

Caminho em direção ao elevador e, enquanto aguardo, as lembranças do dia da minha formatura voltam para me atormentar. Já se passaram dois anos, mas não consigo esquecer. Uma data que tinha tudo para ser a mais feliz da minha vida se tornou o meu pior pesadelo. O dia em que meu mundo desabou.

Cumprimento no automático o ascensorista, dizendo para onde estou indo. O elevador faz seu caminho e para em todos os andares. Pessoas entram e saem o tempo todo, mas não consigo prestar atenção em ninguém.

Na minha cabeça vêm cenas do meu baile de formatura, quando meus pais se despediram de mim. Eu queria ir com eles, mas o Guilherme começou a reclamar e os dois concordaram, me dizendo para ficar e aproveitar o restante da noite com meus amigos.

Estava na pista de dança quando senti um aperto no peito que só se intensificou quando meu telefone começou a tocar. Aquela ligação foi o começo do meu tormento. Foi ali que meu mundo desabou.

Corri para o hospital depois de saber que meus pais tinham sofrido um acidente. Assim que cheguei lá, descobri que meu pai não resistiu aos ferimentos e que minha mãe estava passando por diversos exames para saber o estado real da sua saúde.

O elevador para no andar em que tenho que descer e quase não percebo. Sacudo a cabeça para os lados, como se para voltar a mim e saio, seguindo até a recepcionista para me identificar.

— Boa tarde, meu nome é Luíza. A Sra. Rosane está me esperando. Você pode avisar que eu cheguei, por favor?

— Boa tarde, você deve ser a sobrinha dela. Meu nome é Aliane. — Responde sorrindo. Forço um sorriso como resposta e ela continua — Sua tia pediu para te avisar que está em uma reunião com o senhor Marcelo, mas não vai demorar.

— Claro. Você pode me informar onde fica o banheiro? — Pergunto.

— Segunda porta a direita, neste corredor — Responde solícita enquanto aponta o dedo na direção em que devo ir.

Sigo pelo caminho indicado, na intenção de lavar o rosto, já que as lembranças me fizeram chorar, mais uma vez. Mesmo tentando deixar esses acontecimentos no passado, eles insistem em me atormentar e não me permitem relaxar.

Deixo a água cair sobre meus pulsos, em seguida, lavo o rosto, tentando me recompor. Começo a dar um jeito em minha maquiagem, na intenção de disfarçar o meu estado para que a tia Rosane não perceba que andei chorando, mais uma vez.

Apaixonada pelo meu chefe recluso (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora