O ar da manhã era frio e úmido na floresta de Ottery St. Catchpole. Gotas de orvalho pendiam das folhas, reluzindo à luz tênue, enquanto o vento soprava levemente entre as árvores. Ali, entre troncos altos e musgos densos, um túmulo solitário repousava, coberto por flores selvagens, colares feitos à mão e fotografias de uma mulher sorridente, de olhar sonhador, que seria eternamente jovem.
Ajoelhada diante da lápide, Maya Lovegood passava os dedos levemente pelo mármore frio, quase como se quisesse gravar cada linha em sua pele. Havia algo doloroso e doce naquele toque; era a única forma de conexão que lhe restava com a mãe. Aos 14 anos, a jovem bruxa já conhecia o peso do luto, uma dor constante, que parecia mais densa a cada ano que passava. A menina que costumava correr pelo campo com a irmã mais nova, rindo e inventando histórias junto com os amigos, não existia mais.
Sentindo o peso da saudade se espalhar por cada parte de seu ser. Ela mal respirava, temendo que qualquer som pudesse quebrar a quietude daquele momento, como se ali, naquele silêncio absoluto, Pandora pudesse ouvi-la. O rosto sereno de sua mãe nas fotos ao redor parecia observá-la, os olhos alegres e cheios de ternura.
Maya baixou a cabeça, deixando os cabelos loiros caírem ao redor do rosto, formando uma cortina que a isolava do mundo.
— Oi, mamãe — Murmurou, sua voz rouca e entrecortada pelo vento — Papai publicou uma nova matéria sobre como o Ministério da Magia é uma fraude... Luna aprendeu a fazer colares usando saca-rolhas, até fez um para dar de presente para a Gina, disse que é um colar de amizade... Estou cuidando deles direitinho, da mesma forma que você fazia. E eu... bom, tive uma nova visão algumas semanas atrás, mamãe.
Passando as mãos pelos cabelos loiros bagunçados, respirou fundo enquanto seus olhos vagavam pelos anéis em suas mãos.
— Começou em uma rua escura com chuva bem gelada, casas iguais e sem graças, cachorro preto todo mal cuidado e muito magro... O Rolf choraria se visse...Ele encarava uma casa que parecia estar havendo uma discussão dentro, quando me aproximei a visão mudou para uma praia que tudo estava normal a não ser pelo cachorro estranho de novo, ele parecia bastante cansado e estava molhado... Tinha areia grudada nele, parecia os frangos empanados que a Sra.Weasley faz...— Descreveu, pausando para tentar organizar sua fala — Perdi a concentração com um grito de uma mulher pedindo ajuda só que parecia estar voando... Dessa vez só tive leves tremores nas mãos, batimentos acelerados, mas continuei no quarto e acordei sozinha... É uma evolução, eu acho... Não parei no paradeiro da janela de novo.
— Eu... eu sei que você está em algum lugar... Eu só queria... — Ela hesitou, as palavras escapando de seus lábios em murmúrios entrecortados — Eu só queria entender... Essa coisa que você e papai diziam ser tão especial. Mas, tudo que consigo sentir é medo. E tem as pessoas que me chamam de estranha ou loucas...Eu não sou isso, sou?
Seu olhar pousou em um dos colares pendurados no túmulo, uma delicada combinação de contas de pedras e pedaços de vidro colorido que refletiam as primeiras luzes da manhã. Aquela peça fora feita por Pandora, cada conta escolhida com o cuidado e a calma que só sua mãe parecia possuir. Ao lado do colar, uma foto de Pandora sorrindo com as filhas no jardim, uma memória capturada de tempos que agora pareciam tão distantes.
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Saturn | Hermione Granger
FanfictionMaya Lovegood sempre soube que carregar um dom significava um fardo. Desde criança, suas visões do passado e do futuro a isolaram, tornando difícil diferenciar sonhos de realidade e criando medos que ela não sabe como controlar. Agora, aos 13 anos...