O agir de Deus

Jardim Secreto

Anastácia olhava ao seu redor as pessoas indo e vindo sem parar, algumas demonstravam estarem apressadas, outras perdidas em seu celular, outro mundo paralelo.

A menina balançava o cestinho feito com palha queimada, algumas pessoas colocavam de moedas até notas altas.

— Dá para ver que isso não preenche seu vazio, moça.

— Quem é você? — indagou encarando minimamente o homem desconhecido, mas que chamava sua atenção de forma curiosa.

Ele balançou a cabeça e abriu um sorriso cintilante e esticou as mãos para ajudá-la a se levantar, não sabia ao certo se podia confiar, mas queria o acompanhar. Sua curiosidade aumentou com os movimentos dos cachos curtos em sua testa.
Agora frente a frente poderia reparar os detalhes do desconhecido, roupas brancas e pele parda com leves bronzeados, cabelos curtos e cacheados, e olhos castanhos.

— Você me parece está...

— Flutuando? — completou a frase sorrindo ao perceber que a adolescente percebeu — só estou a um chinelo de diferença do chão. Ninguém vai perceber isso. Não precisa ter medo.

Ela saiu caminhando ao lado do estranho que mal se quer teria se apresentado, seu coração balançava desgovernado dentro da caixa torácica, colocou os cabelos longos e embaraçados para trás da orelha. Enquanto andava, ficava vermelha, sua mente fazia questão de lembrá-la que era apenas uma moradora de rua e isso a levava a perguntar o motivo de ainda está ao lado dele.

— Não responderá minha pergunta? — sua voz saiu ríspida e parou bruscamente na frente dele.

— Anastácia, sou o Miguel e vim aqui para te ajudar. Por favor, não tenha medo.

— E você está flutuando se dizendo anjo? — fechou os olhos fortemente e se beliscou — estou louca, não estou andando do lado de um anjo. — abriu os olhos e ele ainda estava em sua banda se divertindo com a cena.

Ele se deu por vencido e abriu um sorriso. Tirou um aparelho que a menina não sabia exatamente de onde estava e ligo, isso fez com que a garota encarasse a tela e percebeu que o que havia ali era diferente de tudo que imaginou um dia. Mostrou para Anastácia o seu passado, que até os seus dez anos era maravilhoso, a família unida até ser abandonada sem um motivo aparente, aquilo fez seus olhos encherem de lágrimas e seu peito apertar. Não queria mais ser a adolescente de rua conhecida por ser perdida na vida, jogada ao léu pelos pais para que se virasse sozinha.

Miguel limpou suas lágrimas e abraçou a garota que naquele momento estava tão frágil quando uma rosa recém-aberta.

🙌❤

Seus olhos percorreram pelo jardim enorme com variadas flores e animais, ali sentia a paz que há muito tempo não sentia. Seu rosto se iluminou e correu pela trilha ao chegar no meio abriu os braços rodopiando, sentiu os cheiros de cada flor que via pela frente.

— Pela primeira vez em muito tempo me considero a pessoa mais feliz do mundo. — emanou pulando de alegria — muito obrada. Miguel, fazia muito tempo que não sentia essa alegria e essa paz tão gostosa.

— O jardim é seu. Pode ir e vim quando quiser, eu lhe dou de presente! — a voz que espalhou pelo ambiente era grossa, mas não causava medo algum, apenas despertou sua atenção que a fez sair procurando pela voz pelo jardim.

— Quem é você? — olhava o corpo branco em sua frente, mas não conseguia ver o seu rosto. Enquanto tentava se aproximar não conseguia.

— Prazer, sou Jesus. Você não me conhecia porque sempre me desprezou, quando estava triste em angústia eu estava ao seu lado, porém, não me via e não fazia questão da minha presença. Sempre estive com você e por fim enviei Miguel ao seu encontro para que eu pudesse falar com você, te mostrar o meu amor e daí poderá decidir se quer permanecer ao meu lado, se quer a minha presença ou não.

— Então se colocou face a face comigo para me ajudar? Tu és Jesus e Deus ao mesmo tempo? — andou ao redor dele observando cada movimento e assim que ele deu o primeiro passo, ela o seguiu balançando a cabeça desconfiada — já estou aqui mesmo. Não tenho nada a perder.

Ainda com o coração fechado, porém, com paz ela o acompanhava pelo imenso jardim e se encantava com o que via, conseguia conversar em concórdia e com a felicidade transbordando. Jesus mostrou um pouco do seu amor, e lhe garantiu que poderia confiar nela em todas as situações.
Permitirá que Anastácia passe por tudo, mas a protegerá, ela poderá tomar todas as atitudes que quiser, porém, haverá consequências sendo boas ou ruins e não deixará que se livre delas, mas ajudará a passar por cada etapa do processo. Assim como venceu o mundo, ela da mesma forma vencerá também.

— Incrível. — sorriu encarando o céu e voltou seu olhar para ele — e qual igreja posso ir?

— Não me importo, vejo o seu coração e não a placa de igreja. Estou em todas as igrejas, mas receberá o seu chamado no templo certo. Não se esqueça, você é a verdadeira igreja e se deixar, posso habitar em você.

Anastácia acenou com a cabeça em um sorriso fechado e se ajoelhou na frente dele, pediu perdão por tudo que havia feito de ruim com o próximo, como se deu com suas consequências, fez um pedido para ser renovada, para que ele transformasse sua vida.

— Farei isso e muito mais. Feche os olhos, lembre-se, filha que poderá voltar aqui e não se preocupe, saberá como retornar.

A menina fechou olhos e sentiu um vento frio em seu rosto, uma leveza caiu sobre o seu corpo, pela primeira vez se sentiu amada e protegida sabendo que poderá contar com eles.
Quando abriu os olhos os piscaram algumas vezes ficando de frente com a avenida, um pouco decepcionada por querer está no jardim. Ficara pensando ter sido um sonho ou real, ainda encostada no muro foi conferir o dinheiro e para a sua surpresa estava cheio e correu no mesmo momento para um restaurante pedindo o seu prato predileto.

— Pretende mesmo viver em comunhão com os irmãos? — ouviu a voz conhecida e olhou para trás e encarou o rapaz de volta.

— Não foi um sonho.

— Não, você sabe para aonde ir.

Ela afirmou com a cabeça e viu o homem sumir de sua vista. Assim que terminou de comer foi para a igreja aceitar a ajuda que tinham lhe oferecido e desprezava todas às vezes, mas aquele dia seria diferente não ia apenas ser ajudada como iria ajudar também. Espalhando o seu testemunho de transformação através da sua experiência.