Por mil anos ❤❤ #capítulo 5

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Podem perguntar como é que se apaixona assim, tão facilmente e sem conhecer a pessoa. Quando era pequeno, a minha mãe dizia-me muitas vezes que o amor não se explicava. Por mais que nos esforçássemos nunca o poderíamos compreender. E eu só lhe perguntava: Como é que eu sei que sinto amor? Ao qual ela respondia sempre o mesmo, sem alterar nada: "Meu filho, são borboletas que enchem a nossa barriga, momentos que invadem a nossa mente e arrepios que percorrem o nosso corpo. Quando aparece a pessoa certa, tu percebes logo que é ela" 



Acordei por volta das sete horas. A casa estava em silêncio à exceção da cozinha. Dirigi-me até lá.

- Bom dia filho.

- Bom dia pai. Onde está a Joana?

- Ela saiu com a Maria há cerca de cinco minutos. Ela passou cá a noite porque os pais chegaram tarde.

- Ah. Não sabia que ela tinha cá ficado. Vou lá para cima descansar mais um bocado.

Subi muito devagar as escadas enquanto olhava para o sofá e recordava tudo que se passara na noite anterior. Quando cheguei ao quarto sentei-me no cadeirão e deixei-me lá ficar. Olhei pela janela e consegui ver a minha irmã e a Maria no pátio. Ela estava com o mesmo vestido de ontem, mas estava com o cabelo preso numa trança muito bem feita tornando-lhe assim mais visível o rosto. Pode ter sido só impressão mas tive a ideia que ela tinha olhado para mim. Fiquei a observá-las por longos momentos.

A minha irmã era uma rapariga muito dócil, carinhosa e meiga. Tornou-se fria desde o acidente da minha mãe. Éramos bastante parecidos, éramos ambos crianças perdidas muitas vezes sem ter o apoio total que precisávamos. Tive de ser eu a dar-lhe força para ela continuar.

Eu e Maria éramos o oposto. Ela era sorridente, destemida e bastante corajosa. Tinha um sorriso brilhante  e um brilho nos olhos de quem passava a vida presa aos pensamentos de amor e aos seus sonhos. Era magnifica, uma miúda extraordinária. Tinha tudo o que alguém podia querer.

Olhei para o relógio. Eram quase onze da manhã. Não conseguia perceber se tinha adormecido ou não. Fui de novo para a janela e reparei que elas ainda lá estavam. Vesti-me com pressa e fui ter com elas. 

- João! - exclamou a Joana - A Maria já vai embora queres fazer-lhe companhia?

E, ao ouvir isto a Maria corou e olhou para o chão. Ri-me e ofereci-lhe o meu braço. 

- Dá-me a licença de lhe fazer companhia? - perguntei em tom de brincadeira.

- Será um prazer - riu-se 

Despedi-me da minha irmã e seguimos pela rua. 

- Queres falar sobre o que aconteceu com a tua mãe? - começou- Imagino que tenha sido difícil e a Joana contou-me que desde aí não tens tido muitas pessoas com quem falar. 

- Foi muito complicado especialmente porque era a minha mãe que cuidava de nós. O meu pai sempre foi muito ausente devido ao seu trabalho por isso foi complicado. 

Ela olhou para mim fixando os seus olhos nos meus e eu senti que a minha respiração tinha parado. Encostou a cabeça ao meu ombro em sinal de apoio e soube que tinha uma amiga. 

Fizemos o resto do percurso a rir e a contar anedotas até que chegámos a uma vivenda, situada numa rua muito bonita. A vivenda era branca e tinha cerca de três andares. Tinha uma varanda com cadeiras de baloiço e uma mesinha em madeira que possuía três livros. As janelas eram de madeira e o jardim era grande, com um canteiro de rosas bem cuidado do lado direito. Este estava coberto por uma construção de mármore. Tinha também uma fonte no meio do jardim e do lado esquerdo havia uma mesa de pedra junto a uma churrasqueira. Um bom local para passar o serão. 

- Maria! - exclamou a sua mãe quando a viu. - Quem é este rapaz? -perguntou ao notar a presença de João.

- É o irmão da Joana e veio trazer-me. - respondeu ela com ar divertido.

- Sendo assim muito obrigada. - e mostrou um sorriso falso - Agora vem que o Manuel já esteve aqui à sua procura. 

Com um ar aborrecido, a Maria olhou para mim e despediu-se. Fiquei a vê-la entrar em casa enquanto a mãe lhe arranjava o vestido e fiquei a pensar em que mundo é que ela vivia. 

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