No dia seguinte a Maria apareceu lá em casa. Foi a Joana quem lhe abriu a porta e chamou-me.
- Olá Maria - disse sem mostrar muito interesse
- Olá, podemos falar? - respondeu ela quase num murmúrio
- Claro. Aconteceu alguma coisa?
- Não... Ou melhor, eu penso que não mas preciso que me esclareças.
Continuei a olhar para ela sem saber bem o que ela pretendia. O meu coração batia muito depressa e as mãos começavam a transpirar.
- Desculpa por ontem. Eu devia ter-te dito logo desde início que tinha um namorado.
- Não tens de pedir desculpa. Nem tinhas que vir cá com esse propósito - e fiz um sorriso que mal teve tempo de ser considerado um.
- Pareceu-me que ficaste um pouco incomodado, mas secalhar foi só impressão minha. De qualquer das maneiras os meus pais vão dar um jantar amanhã e convidaram-vos aos três. Vão lá estar pessoas muito importantes incluindo os donos de vários bancos e os meus pais pensam que é bom para o teu pai já que ele trabalha neste ramo.
- Infelizmente o meu pai foi viajar e não deve estar de volta a tempo.
- Sendo assim aparece tu e leva a Joana. Levem roupas formais mas não se preocupem que estes jantares costumam ser divertidos.
***
Acordei na manhã seguinte com umas dores de cabeça muito fortes. O relógio marcava as sete e um quarto da manhã e olhei pela janela. Geralmente nunca baixo as persianas para dormir porque ao acordar gosto de olhar lá para fora. Apesar de estarmos no Verão, o tempo parecia escuro e as folhas das árvores dançavam ao som do vento. Viam-se passarinhos voar de um lado para o outro enquanto chilreavam e ao olhar para a parte de cima da janela via-se o rio ao longe.
Ao abrir as portadas da janela podia sentir-se a humidade que pairava no ar. Inspirei fundo com esperança que a dor desaparecesse mas não aconteceu. Desci lentamente as escadas, e fui preparar o pequeno almoço: torradas, panquecas, leite e sumo de laranja.
- Joana - gritei - o pequeno almoço está na mesa.
Passado vinte minutos ela desceu. Trazia a sua camisa de dormir que lhe chegava até aos pés e era de seda.
Desde novos que os nossos pais faziam questão que as nossas roupas fossem da melhor qualidade possível. O mesmo aplicava-se ao calçado, ao material escolar e a tudo que possuíssemos. O meu pai sub gerente do banco de uma cidade que se situava ao lado da nossa e a nossa mãe era empresária. Ambos tinham bons salários sendo que não nos faltava nada. Desde a morte da minha mãe, o meu pai assumiu o seu cargo para que as coisas continuassem iguais e, no que toca ao dinheiro, não houve mudanças.
A verdade é que o nosso pai não conseguiu recuperar da morte da nossa mãe. Eles eram inseparáveis, eram uma equipa, eram um par, amigos, amantes, eram um casal. Eram casados há cerca de vinte e um anos e antes disso tinham namorado muito tempo. Antes moravam na cidade onde o meu pai nasceu mas acabaram por mudar-se para cá para "ter mais tempo um para o outro" como diziam em coro quando nos contavam a sua história. Esta fazia parte de muitos dos serões em que passávamos no alpendre de trás nas noites de verão.
- Já tens o teu fato? - perguntou a Joana
- Na verdade ainda não sei o que levar - respondi calmamente - E tu?
- Eu queria levar um vestido mas não tenho nenhum formal. Como sabes os pais não gostavam que fôssemos a esses jantares.
- Que tal irmos à baixa quando acabarmos de arrumar e limpar a casa?
- Parece ótimo! - exclamou com um sorriso na cara - Tirando a parte de limpar a casa - e revirou os olhos
Rimos os dois enquanto arrumávamos a cozinha. Vestimos uma roupa velha e depois dirigimo-nos para a baixa. Paramos numa loja e depois noutra e depois noutra. Percorremos a avenida toda e quando demos por isso, já era hora de almoço. Quando acabamos de almoçar, ainda não tínhamos tudo o que precisávamos por isso voltamos às lojas.
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Por mil anos
RomansaAmar não é fácil tal como manter um relacionamento que dure "para sempre". Este romance fala de um casal que ultrapassa todas as dificuldades que lhes aparece no caminho até finalmente ficarem juntos. "Porque apenas se ama quando somos capazes d...