Ato II: Cariri.

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Cerca de três dias após a partida, finalmente chegaram na entrada da cidade, onde havia um rapaz parado, próximo a um cavalo que tinha a cabeça escondida pelas árvores.
- Ei! - ele chegou perto do grupo, desmontando. - Tomem cuidado ao entrar, as pessoas aqui são levemente preconceituosas.
E tornou a montar no cavalo, que aparentava estar comendo de maneira escondida.
- Acho que sei exatamente o que ele quis dizer. - Carcará amarrou seu cavalo onde pôde, começando a andar para um armazém que ali tinha.
- Perdão, mas esses sangues sujos não podem entrar. - o vendedor foi hostilmente contra Guará e Lua Nova.
- Como é? - uma aura sombria tomou conta do local, o cangaceiro se aproximava devagar do velho vendedor. - Repete. - ele puxou seu punhal, apontando para o olho do velho.
O vendedor tremia com força, se segurando no balcão.
- Eu não pretendia roubar você, mas...- o cangaceiro fincou o punhal na mão do velho, que soltou um berro de dor.
- Passe todo seu dinheiro, vocês, peguem os mantimentos que precisamos. Ele soltou a mão do velho a receber o dinheiro, dinheiro este que aparentemente eram cinco contos de réis (cinco mil réis).
- Pegaram tudo? - alguns olhares de admiração do bando cercaram o capitão.
- Sim, capitão. - Agulhão pegou uma saca com alguns ingredientes e medicamentos que recolheram.
- O velho foi chamar a volante, se preparem pra balas voando nas nossas cabeças. - Gonzaga empunha seu violão.
- Muito bem...- Carcará sacou uma pistola dessa vez. - só preciso disso.
Em segundos, uma chuva de balas começou a voar nas paredes do armazém. O bando se abaixou, começando a sair pelos fundos. Carcará começou a correr, se protegendo das balas e atirando certeiro duas vezes, derrubando dois dos policiais.
- PEGUEM ESSA PRAGA, SÃO VINTE CONTOS DE RÉIS PELA CABEÇA! - gritava o que parecia ser o chefe da volante, ainda haviam muitos ali, os cavalos estavam longe demais.
- GONZAGA, TACA O PAU! - Gonzaga se preparou e tacou uma forte onda de choque, batendo o violão fortemente no chão, o que derrubou alguns, nocauteando.
Agulhão e Rasteira começaram a disparar contra os que ficaram em pé, derrubando parte deles.
- PAROU, PAROU! - o capitão puxou os dois pra perto dele, na parede, quando um tipo de redemoinho forte atravessou fortemente a estrada de terra, arremessando a voltante pra longe.
- Avisei. - Era aquele mesmo jovem da entrada, usava agora um gorro vermelho, fumando um cachimbo.

 - Era aquele mesmo jovem da entrada, usava agora um gorro vermelho, fumando um cachimbo

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- SACI, SACI! - os homens da volante gritavam e corriam, sumindo naquele instante.
- Ahh, isso explica o redemoinho. - disse Carcará observando os inimigos correndo.
- Você não devia ter só uma perna? - perguntou Rasteira sem a menor preocupação de estar sendo indelicado.
- Na verdade, tenho - ele tirou uma prótese de madeira por um instante, colocando de novo. - é conveniente ter duas pernas de vez em quando.
O jovem deu uma risada sem graça.
- Capitão, o que te traz aqui? - disse ele soltando fumaça, caminhando com o bando para os cavalos - Me acompanhem por enquanto, sei como "fugir".
Seguiram o encapuzado para uma clareira levemente distante de cidade, onde contaram o que pretendiam.
- Serra Talhada? Desgraça em... - ele largou o cachimbo, bebendo de um cantil feito de uma cabaça - Até posso ir, se quiserem.
Aquela última fala deixou Guará e Lua Nova admirados, pois conheciam muito bem a lenda do Saci.
- Nos acompanhar não interfere nos seus deveres? - ela chegou mais perto do rapaz, enquanto Guará começou a preparar algo pra comer junto de Agulhão.
- Que deveres, bonitinha? - ele deu uma boa gargalhada - Encher o saco dos outros não é um dever, além de que ainda não tenho a idade do meu povo pra isso.
Em uma breve explicação, os Saci nesse universo, quando atingem certa idade, tornam-se guardiões da mata, como as Caipora antes da queda e os Curupira, sendo mais altos no geral, tendo algo de 1,80 à 2,50.
- Capitão, a noite vai chegando! - a mata era densa, então era meio difícil dizer quanto tempo de sol ainda tinham, Rasteira estava no alto de uma árvore, observando.
- Então até ter uma certa idade você só atazana os outros?! - Lua Nova parecia indignada com aquilo.
- Perfeitamente, mas não faço isso, só vivo como um rapaz normal, por sinal, meu nome é Daniel. - ele tirou o gorro, deixando perto do cachimbo. - Eu perco meu nome quando atingir a idade, sendo só Saci, assim como minha mãe, meu pai e as gerações passadas.
- Certo, certo... - a garota se retirou começando a repor os medicamentos.
- Sendo assim, bem-vindo ao bando. - Carcará se pôs a ler um livro, localizando certos pontos naquele livro que o interessavam.
- Fiquem de olho, essa região, podemos ser atacados por cultistas, por corpos secos e pelo papa figo. - ele recarregou sua espingarda com balas especiais, fazendo um selo, tendo agora seu punhal pronto para adversidades.
A madrugada chegou enfim, dormiam tranquilos, Daniel estava de vigia, esperando o momento para trocar, até ouvir as árvores mexendo muito.
- Acordem! - ele se levantou, armando seu redemoinho, pronto pra lançar.
As árvores começaram a secar e morrer, revelando dezenas de entidades estranhas.

Carcará - um contoOnde histórias criam vida. Descubra agora