Conto 1 - A Mulher e o Dragão

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Uma brisa fria arrastava algumas partículas cinzentas pela floresta de cogumelos gigantes. Era início de noite e uma mulher encapuzada apontava para a luz forte e alaranjada dos fungos enormes, enquanto os olhinhos cor violeta de seu filho cintilavam diante do que viam.

— Vê, Óliver? São bonitos, não são? — ela perguntou, com a criança em seus braços.

— Eeh uh — cantarolou o bebê, enrolado em um pano velho, quente e macio, ao passo que seus dedinhos tentavam agarrar a luz.

A mãe sorriu e, em seguida, ergueu o garoto em direção aos cogumelos, fazendo-o cair na gargalhada. Depois, caminhou mais um pouco pela terra fofa; se ela pudesse, deitaria ali durante toda a noite, mas já era hora de voltar para casa, Júlio havia pedido que evitasse sair à noite e sozinha. Então girou, cantarolando com Óliver, e partiu em direção a seu vilarejo.

Um som de passos fez o seu coração gelar instantaneamente; colou o filho junto ao peito, ajeitou melhor o capuz e olhou para trás, tentando fazer o mínimo barulho possível. Ao longe, viu a cabeça de um homem. Ele estava atrás de um dos gigantescos cogumelos e a observava com curiosidade. Seus olhos emitiam um brilho escarlate que fez o corpo dela se enrijecer por completo.

Sem pensar muito, ela correu, correu o mais rápido que pôde. Saiu da área dos cogumelos e entrou em uma floresta de árvores retorcidas e negras, com folhas grossas e ladeadas por espinhos. O ambiente também era iluminado por cogumelos alaranjados, mas estes eram pequenos e incrustados nas raízes das árvores.

Ela tentou esquivar o máximo possível, mas algumas folhas engancharam em seu sobretudo negro, arrancando uma das mangas por completo. Ela soltou um grito abafado e se livrou do pedaço da roupa, um pouco de sangue escorreu de seu braço.

Óliver começou a chorar. A mãe já conseguia ver o vilarejo, olhou para trás e não viu nenhum sinal do homem. Ofegante, parou, por um momento, e tentou acalmar o garoto, não foi muito difícil dessa vez.

Ela arrancou alguns dos pequenos cogumelos alaranjados e colocou em um dos bolsos de sua vestimenta. Na sequência, correu mais um pouco e passou por trás dos casebres, tentando evitar a fogueira ao centro, em que os homens conversavam. Deslizou-se como um gato até sua velha cabana de pedra basáltica, abriu a porta de madeira e sentou-se no chão duro do lugar que chamava de casa.

Em volta do fogo, um dos moradores do vilarejo disse:

— A jovem mãe estava perambulando de novo — informou Diego — talvez devesse amarrá-la, para que não morra; a criança precisa dela, para crescer forte e saudável — aconselhou o homem magro, de orelhas anormalmente grandes.

O céu era um breu, a lua era somente uma manchinha cinza e fosca que não clareava nada por causa das nuvens de cinzas que pairavam naquelas terras.

— Ela não é minha filha — respondeu Júlio, um homem barbudo, de olhos castanhos, enquanto girava um animal de carne escura e quatro patas enfiado em um espeto. — Por que se preocupa tanto com a criança, homem?

— O menino é mestiço, pode ser o príncipe, aquele que nos tirará deste inferno e montará dragões! — respondeu ele com os olhos arregalados e abrindo os braços, tentando imitar as criaturas.

— Bobagens... é só mais uma criança, abandonada pelo pai que deixou a mãe pelo simples fato de ela habitar estas terras. Não é a primeira, nem será a última — disse Júlio.

— Até pouco tempo atrás, só tínhamos visto ossadas de dragões. A jovem mãe e o pai da criança viram três. Vivos! Tudo está de acordo com a profecia, é o início da Tempestade dos Dragões! — rebateu Diego.

— E uma serpente gigante! — completou Caíque, animado. — Se eu montasse um dragão, poderia atravessar a muralha e ver o paraíso — refletiu o jovem magricela, enquanto afiava um machado de lenhador.

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⏰ Última atualização: Feb 03 ⏰

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A Tempestade dos Dragões - Contos e RevelaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora