O caso dos canibais

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O dia de hoje começou totalmente estranho, meu trabalho é exaustivo, minhas mãos procuraram o calor do meu namorado que não estava ao meu lado, provavelmente porque ele é fotografo jornalístico, ele começa cedo, eu nem tanto, entro as 14:00 na delegacia de homicídios onde trabalho até as 22:00 da noite, observo a Alexa na mesa de cabeceira e o céu de São Paulo nublado como sempre, mais tarde o dia vai ficar quente, essa cidade é um caos completo, meu celular que estava debaixo do edredom, escondido, tenho ressentimentos em colocar ele em cima da cômoda quando chego, até que sinto sua vibração e um toque nada lisonjeiro, parte da música "Que Tiro Foi Esse", apropriado por eu ser um policial, peguei e atendi a ligação, era meu superior, um babaca completo sem jurisprudência nenhuma, Otávio, no meu primeiro ano como policial me deu uma comunidade inteira para vigiar, é claro que eu me saí bem, sou muito carismático, vai ver esse é meu eu de verdade, fui promovido para detetive depois de um teste de aptidão, eu gosto do meu trabalho, claro que me torna imune a coisas horríveis, mutilação de 5 pessoas e minha cara é a mesma, esquartejamento, a mesma face, mas agora, ser acordado por ele 11:00 da manhã, isso é de foder.

--bom dia, bela adormecida-Piada clássica de superior homofóbico. -Como está o caso do Beco? espero que esteja indo bem, a imprensa está enchendo meu saco, logo eu estou enchendo seu saco, passou uma semana e você nem resolveu ainda, deveria colocar o Ramirez nesse caso?

--Bom dia, e é Rafael-Minha ironia era minha maior chave para lidar com superiores que nem ele-O caso de Elizabeth e Senhor Ramiro, eu trouxe uma caixa de arquivos e sinto que estou perto, o policial Ramirez nem precisa se intrometer okay? deixa ele lá com os narcóticos e eu com meus desaparecimentos súbitos.

--Perto de me encher a paciência eu aposto. Eu estou tentando te ajudar, mas sério, tem vezes que você pede pra ser transferido--Depois disso ele desligou como um rude e bruto, não sei sinceramente como a esposa gosta dele.

Virei e tirei da gaveta a pasta com os arquivos do caso, lugar de desaparecimento "Beco Do Batman" no centro, 2 testemunhas e 4 câmeras de segurança não flagraram nada, eles entraram em um ponto cego e as testemunhas pararam de seguir eles com o olhar, se fossem mais espertos e esquisitos poderiam evitar isso, a real é que eu não sei aonde eles se meteram e o Gregory, meu namorado, também sofre de chefe babaca e esse caso está correndo o Brasil, parece que todos estão procurando, e eu estou no foco central da investigação, meu celular toca novamente e é o alarme, o sinal sonoro do meu desespero matinal.

Coloquei uma jaqueta preta e embaixo uma camiseta de um abacaxi escrito ''Vadia" e ele usando uma calcinha, a calça preta padrão de delegacia e um óculos escuro, meu capacete da moto tinha um rachado por causa de uma queda que sofri a uns meses atrás, estava andando pelas ruas até que um pipeiro babaca usou um fio de náilon para cortar uma pipa rival, quase perdi minha cabeça nessa brincadeirinha; de última hora decidi passar novamente no beco do Batman, claro que eu tinha passado uma semana inteira lá monitorando e de vigia, em minhas investigações o assassino ou o sequestrador como aponta a mídia sempre volta para o lugar do ato, mas ninguém voltou, a faixa policial ainda estava lá junto com uma patrulha rotineira, eles me viram chegar e acenaram com a cabeça, girei minha cabeça tentando entender para onde esse casal de idosos foram, a família não era tão rica, vinham da zona leste para um passeio, qual seria a motivação do sequestro ou assassinato de ambos, que mente criminosa daria ao luxo de não me dar uma única pista sequer, o esgoto fedia, mas tudo fedia, meu celular vibrou em meu bolso da jaqueta, era o Gregory, a voz dele me acalmava um pouco, nós nos conhecemos pelo trabalho, quem diria que numa coletiva de imprensa do caso Richthofen, era uns dias após a Suzane ter confessado publicamente que matou os pais, nunca vou esquecer da cara do Gregory, enojado porém curioso, na saída peguei seu número e nunca mudei o contato ''Chris e Greg", acho que ele me odeia por isso, mas eu perco o amor e não a piada.

--Amor-eu literalmente amo quando ele me chama assim, geralmente é pra me confortar-A policia acaba de emitir uma nota falando que vai arquivar o caso, mas você não pode desistir, eu estou com os filhos deles aqui...

--Baby, eu tentei de tudo, mas não consigo, eu não sei onde eles estão, eles só sumiram-Eu gesticulava enquanto olhava pro chão, o sol começava a estralar, minha sombra chegou até o pé de um bueiro, eu o encarei e senti meus pelos se oiriçarem.-A menos que não tenham saído daqui-Falei quase sussurrando-A menos que eles estejam aqui-A respiração pesada de Gregory encantou meus ouvidos, nossas excitações ficam apenas na cama, era quase um orgasmo de ideias e de brilhantes ideias.

--Amor, fala comigo.

Eu não tive tempo a perder e desliguei o telefone, ele vai ter que me perdoar por isso, eu me agachei perto do bueiro e senti o odor de fezes vizinhas, deslizei minha mão sobre a tampa do bueiro tentando encontrar uma abertura para ser aberto, quando consegui tirar, bastantes treinos na academia do meu prédio me tornaram forte pra abrir, peguei a lanterna que estava no meu bolso e no coldre minha pistola semi automática, as escadas me levaram até uma poça d 'agua, abaixo do chão, eu olhei para os lados, um breu, a direita e a esquerda, dois caminhos só, quando ia virando para a direita eu percebi um vão na minha frente, quase aberto, passei a mão na parede e senti ela recém molhada, recém construída, mas os esgotos da cidade foram feitos a mais de 60 anos atrás, comecei a cutucar a parede sentindo ela, até encostar minha cabeça para ouvir, então eu ouvi uns sussurros incontroláveis.

--Ele vai nos achar

--Fica quieto Hudin

Nome estranho, nunca ouvi ele antes, eu ouvi mais sussurros, respirei fundo, apertei a arma na minha mão então dei um chute, um único chute para fazer a parede desabar e todas as 14 ou 16 pessoas lá dentro se assustaram, elas estavam com suas bocas ensanguentadas, pareciam moradores de rua, daqueles que você vê na Paulista, eles levantaram a mão e começaram a implorar, mirei a lanterna para a parede então eu vi o que vai tirar meu sono pelas próximas noites, vi os desaparecidos acorrentados no teto, suas barrigas cortadas, suas tripas para fora e um machucado na cabeça de ambos, então tudo fez sentido, ninguém desconfiaria dos mendigos da região, são franzinos e não lutam, mas as testemunhas, as únicas duas são fortes o bastante pra isso, eu comecei a sentir um asco enorme quando encarei a boca de uma criança que estava lá, cheia de sangue e no seu dente, no seu dente um pedaço de unha, peguei meu celular e comecei a discar, ainda apontando minha arma para todos ali.

--Capitão, eu achei.

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