Dilema

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Me afasto dele e bato as costas na parede, ao lado de um dos seus quadros de mulheres seminuas.

— Por favor, não me leve a mal, filhote. — Trata de dizer de uma vez.

— O que você...? Por quê...?

— Eu não quis ofendê-lo, eu só... Estava curioso.

— Curioso por quê?

— Eu só pensei que poderia se sentir confortável para falar sobre isso com uma figura masculina, mas me desculpe por invadir esse limite. — Meu coração continua batendo forte.

— Acho melhor eu ir embora.

— Não, filhote, não vá.

— É melhor. — Me desvencilho dele e praticamente corro para a saída sem ouvir protestos. Não sei se preferia que ele tentasse me fazer ficar, todavia me sinto contrariado de qualquer jeito. Escancaro a porta e quase caio de cara no chão, contudo me firmo rápido e vou para casa sem ver nada em volta.

A verdade é que ninguém, além de Luan, sabe que sou gay. Não tive coragem de contar para minha mãe, uma vez que por mais que ela seja uma mulher boa e amável, sinto que nenhum de nós estamos prontos para essa conversa, mas dizem por aí que mãe sempre sabe essas coisas.

Entro em casa e vou direto para o meu quarto. Minha mãe está na cozinha, fala alguma coisa que nem entendo quando fecho a porta e me jogo na cama.

O misto de emoções causa um alvoroço em meu peito. Eu gostaria de ter confidenciado a verdade para Fábio, mas acho que tudo ficaria esquisito depois disso.

Me mexo na cama e fico virado para a janela do quarto. Através dela, vejo diretamente à frente da casa dele. Isso me deixa com raiva.

Minha mãe bate na porta devagar, contudo abre antes mesmo que autorize a entrada. Ela entra com uma expressão estranha.

Minha mãe é bonita, tem cabelos negros, nariz pontudo e lábios finos. Dizem que me pareço com ela.

— Tudo bem? — Quer saber.

— Sim, por quê?

— Você parece um pouco estressado. O que aconteceu na casa do Luan?

— Nada, mãe. Ele nem estava aí.

Ela entra, e mesmo que não precise, fecha a porta. Minha mãe vem se sentar na ponta da cama, puxa meus pés para o seu colo e começa a fazer cócegas neles. Isso me faz rir instantaneamente.

— O que o Fábio te contou? — questiona, meio hesitante.

— Como assim?

— Sei lá, você ficou lá por um tempinho. Pensei que tivessem falado sobre alguma coisa.

— Você esperava que ele falasse algo? — Franzo as sobrancelhas. Ela dá de ombros. Seus cabelos caem em suas costas como uma cortina.

— Não é nada, meu anjo, só fiquei preocupada pela maneira como você chegou.

— Eu estou bem, não se preocupe. — Ela esboça um sorrisinho.

— Preciso me arrumar porque o plantão vai ser puxado, mas você vai ficar bem, não é?

— Eu vou, não se preocupe!

Tento parecer animado, embora não esteja. Minha mãe é enfermeira, trabalha para uma família rica tomando conta de uma senhorinha, o lado ruim é que ela folga pouco e sempre tem que dormir no trabalho. O lado bom, é que é perto e ela consegue voltar para casa todos os dias.

Ela tira meus pés do seu colo, se levanta e vem beijar minha testa.

Quando ela sai e fecha a porta, volto a me perder nos meus pensamentos.

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