Capítulo I

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Fecho a porta agradecendo o mensageiro pela carta entregue e respiro fundo antes de abrir, já sabendo que não terei como adiar o que estava prestes a acontecer.

" São João do Ouro, 25 de Novembro de 1950.
Filho, eu e seu pai estamos ansiosos para sua chegada no dia 04 de Dezembro. Graças ao bom Deus existe o recesso de Dezembro aí na capital. Dessa forma podemos te ver e comemorar seu aniversário juntos no dia 09. Mal posso acreditar que meu filinho já está prestes a completar 22 anos e ano que vêm terá se formado em Administração e irá se tornar um doutor! tenho tanto orgulho de você.
Seu pai não vê a hora de você pedir a mão da Maria Júlia em casamento. Ele vive falando para os serviçais aqui de casa que você se casando com ela seremos juntos a família exportadora de alimentos mais rica da cidade, já que metade da exportação feita é dele, e a outra metade é do Francisco, pai da Maria Júlia. Juntando todas as fazendas o lucro será maior para ambos. Você sabe que não entendo muito de finanças, fui criada para ser apenas uma boa esposa e mãe, o que muito me agrada.
Eu e seu pai fomos até a capital de Minas Gerais para comprarmos o anel para que você possa fazer o pedido. Ele é lindo! É um Anel em ouro amarelo 18 K, com pedras de esmeralda e diamantes. Você sabe como o seu pai Jorge é teimoso e turrão, não me deixou escolher nada e disse que compraria o melhor anel para o pedido para impressionar seu futuro sogro. Penso comigo que não era necessário gastar a fortuna que ele gastou, já que você e ela foram prometidos um ao outro desde a infância, mas não disse nada, não é esse o meu papel como esposa. Por falar nisso a Maria Júlia está cada dia mais bela com aqueles lindos olhos verdes e cabelos dourados de sempre, acabou de concluir com louvor os estudos no curso de etiqueta da capital e também está ansiosa com sua chegada.
Filho, essa carta já está muito grande, aguardo sua chegada, não se esqueça de nos esperar na estação de trem quando chegar. Um abraço, mamãe.
Carmem Campbell Ross."

Meus olhos se encheram de lágrimas ao ler a carta enviada pela minha mãe. Eu sabia que esse momento chegaria, meu pai estava só esperando meu penúltimo ano da faculdade para me obrigar a fazer esse pedido maldito de casamento. Eu sabia que os planos dele sempre foi me juntar com a filha do dono da outra boa parte de terra da nossa cidade. Ele não me pedia para fazer isso por amor, para ele se tratava apenas de um explícito contrato jurídico com o objetivo de transmitir bens e manter o poder das nossas famílias. Só que a grande questão é que eu não queria me casar de forma alguma com a Maria Júlia e com nenhuma outra mulher. Desde que me tornei adolescente e entrei na puberdade nunca enxerguei mulheres como alguém para me relacionar, as enxergava sempre como amigas. Já os garotos deixavam meu coração batendo forte e fazia minha mente viajar para outros lugares ao ver algum deles sem camisa ou até mesmo nús dentro do rio. Só que isso nunca seria aceito pela sociedade e muito menos pela minha família. Minha mãe se descobrisse seria a maior decepção de sua vida já que seu sonho era ter muitos netinhos e meu pai me daria uma surra, me tiraria da faculdade que ele mesmo pagava e iria me desertar. Se eles descobrissem seria o maior escândalo. Por isso eu sempre concordei com esse assunto sobre casamento, mas eu sabia muito bem que era algo que não me faria feliz e realizado, seria apenas uma farsa. Só de pensar que teria que ser obrigado a me deitar com ela para ter futuros herdeiros o meu coração sangrava, eu nunca tocaria ou beijaria a Maria Júlia por prazer, apenas por pura obrigação.

-Tudo bem por aí, ruivinho? - guardo a carta rapidamente em uma gaveta enquanto me viro para olhar o José, um dos meus casos da faculdade, já que aqui era o único lugar que eu poderia ser eu mesmo, mesmo que ainda de forma discreta...

-Nenhum problema, onde paramos mesmo? - digo enquanto beijo seu pescoço e o levo para o quarto.

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