ii. consenso

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"uma vez, em uma época de ouro, tive um império
eu era admirado, eu costumava ser ótimo
eles costumavam se alegrar quando viam meu rosto
agora, temo que tenha caído em desgraça"
— castles crumbling, taylor swift

***

KETTERDAM, KERCH

Miro Velez não morava no Barril, a escória de Ketterdam, embora o cenário lhe fosse bastante semelhante. Ele morava em um beco quase tão pobre quanto, que ficava do outro lado da cidade, onde as cores terrosas e meio encardidas eram tudo o que o acompanhava.

Miro não conhecia Waffles, que trabalhava numa casa de prazeres exóticos exageradamente conhecida; nem Isaac, que fazia alguns bicos em nome de sua família; muito menos Mora, cujo as sombras eram tudo o que a maioria dos cidadãos de Ketterdam já tinham visto. Ele não conhecia essas pessoas, porque ele não morava no Barril, nem era um membro do Clube do Corvo, nem era um bandido.

Mas ele conhecia Orfeu Archeryon por culpa de Freya e toda sua fama. Não havia um único ser vivo em Ketterdam que não conhecia Orfeu Archeryon, o bandido mais procurado em toda a ilha, àquele ponto. Isso não significava que Miro Velez gostava ou mesmo ia com a cara dele. Não, ele não era um tolo. Ele também não era Freya.

Freya Brekker era um enigma para ele; amiga de poucos, cética em relação a muitos. Apesar de que, ela sempre parecia disposta a dar o melhor de si para se dedicar aos outros. Uma mulher complexa, era como Miro a via, cheia de motivações e desejos muitas vezes maiores do que ela mesma, Freya tratava-se de um indivíduo indiscutivelmente apaixonante.

Era por isso que Miro a conhecia, mesmo Freya pertencendo ao Barril — aquilo não parecia verdade, Freya não parecia pertencer a lugar algum —, ele ainda a via perambulando pelo restante da cidade, muitas vezes caminhando por cima de casas e prédios sob as pontas dos próprios pés. Freya era originalmente uma acrobata, e fazia uso de suas habilidades que herdara da infância para pular de prédios altos, perseguir mercantes, roubar o dinheiro dos bolsos deles ou até mesmo colecionar os seus constrangimentos.

Vergonha era uma coisa muito mais cara do que grana em si. Miro descobrira aos poucos, devido principalmente a sua amizade com Brekker, que as pessoas podiam pagar bem caro para esconder seus segredos.

Cara — Miro disse em voz alta, mesmo sabendo que isso assustaria o pequeno gato amolecido e doente no seu colo. O rapaz ergueu o olhar para visualizar Orfeu parado ao lado da porta de entrada do celeiro.

O celeiro era uma aquisição nova de Drogo, o homem que arrumava lutas clandestinas para Miro participar. Era um lugar fétido, feio assim como tudo naquele lado da cidade, mas bastante útil. Miro podia se esconder dos olhares curiosos dos seus parceiros de lutas ali, assim como também utilizava daquele grande espaço para treinar. Ele era o lutador preferido de Drogo, o único que não perdia uma competição, então aquele celeiro era praticamente só pra ele.

— Isso não é necessário, é? — Miro apontou para a bengala de Orfeu, ao mesmo tempo em que delicadamente retirava o gato do próprio colo. Alguns pelos brancos e curtos ficaram colados na sua calça. — Você nem é tão manco assim.

Orfeu permaneceu em silêncio, apenas o encarando como o cara bizarro que ele era. A maioria das pessoas de Ketterdam sentiam medo ou repulsa por Orfeu Archeryon, e Miro Velez se enquadrava bem na segunda opção.

– Sentiu minha falta? — Uma voz atrás dele fez Miro se sobressair e o gato deixado ao seu lado se afastar rastejando – sua pata da frente estava meio danificada, Miro o resgatou das ruas há apenas um dia, e fora engraçado e trágico ao mesmo tempo assistir ao gatinho tentando fugir.

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⏰ Última atualização: Apr 05 ⏰

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