Laura sempre volta quando algo está incrivelmente errado o que acaba sendo bem comum em sua vidinha quase apagável. Ela sentiu por alguns segundos um breve momento de glória, mas foi em breve mesmo. A vida dela é como daquelas pessoas que vemos em uma estação de metrô, no shopping tomando uma casquinha de sorvete e andando na rua. É chata. É cheia de cacos de vidros e de esperanças mortas e inúteis. Poucas pessoas entendem Laura, ela sorri sempre que dá, mas sempre chora internamente. Ela odeia anos bons quase tanto quando odeia anos ruins. Quase se esqueceu que a vida costuma cobrar caro por raros momentos de alegria. Quase mesmo, dessa vez.
Quando as coisas começaram a dar errado? Qual foi o momento que você se deu conta das coisas desperdiçadas? Com quantos anos você percebeu que não era a protagonista de nenhuma das suas histórias? Com quantos anos percebeu que você é ruim até naquilo que é obcecada? Com quantos anos você percebeu que se importa demais? Com quantos anos percebeu que qualquer tentativa de ser feliz acaba virando um desastre no final? Com quantos anos percebeu que a Teoria do Caos parece funcionar mais para você do que para as outras pessoas. Você é o Caos.
Sabe qual a verdade? Você tem medo. Medo do preço já sentido em seus ombros dos últimos momentos que foi tão feliz. Medo de ser infeliz esse ano. E se você for? Você tem medo de ser pior, e se for? O que você vai fazer? Você vai fazer alguma coisa? Como pode ser tão burra e egoísta? Como pode ter estragado a chance da sua vida, depois de tanto trabalho duro. Como feliz isso, Laura? São muitas interrogações para perguntas que não vão ser respondidas. Sua vida é sempre assim, perguntas sem respostas. É tão estranho te ver como um livro velho em uma prateleira e agora tenho medo que até suas folhas se rasguem. Suas páginas já estão riscadas, mas pelo menos tem página. Talvez não tenha mais nada nos próximos dias. Acho que não vai ter mais folhas, só a capa.
Não consigo ser adulta da forma que deveria ser. Não consigo, não quero. Não aguento mais as migalhas. Tudo que eu queria era algo para me orgulhar e nunca é o suficiente. Nunca é o suficiente, pois a vida não permite que eu chegue ao meu suficiente. Sinto que tenho cordas amarradas ao meus pés, elas parecem que me deixam decolar, mas nunca voar alto o suficiente. Não importa o que eu faça, parece que nunca dá certo. Qual o segredo das outras pessoas? Alguns diriam persistência. Eu não tenho mais como persistir. Não tenho mais escolha e me machuca muito ter que me contentar. Eu dei tudo que eu tinha, não foi o suficiente. Nunca é.
Ela nunca pediu por muito, mas nunca por pouco. Acho que a ironia da vida dela é ter os sonhos destruídos. A vida dela é tão irônica que deveria ser uma piada em uma Sitcom ruim. Os sonhos dela são tão de todo mundo que as pessoas ao seu redor realizam ele e ela não fica nem com as sobras. Por que tão estúpida, Laura? Por que? Pessoas como você riem em um dia para terem toda a alegria tirada no outro. Como você prometeu que seria feliz? Até parece que a felicidade só depende de você. Isso é conversa de infelizes que negam sua infelicidade e mesmo que dependesse, quando pode contar consigo mesma? Quando? Deve fazer um longo, longo tempo. Você teria coragem de contar que se imagina morrendo aos poucos na pausa do almoço, logo quando acorda ou antes de ir dormir? Você teria coragem de fazer as coisas que imagina fazendo? Você teria coragem de passar pelos próximos dias com um sorriso no rosto e sem derramar um lágrima? Tem coragem de fingir estar feliz por outras pessoas mesmo estando tão triste por dentro? Por quanto tempo mais você vai ter coragem?
Eu queria evitar ser assim, tão esperançosa. Ano vem, ano vai e eu continuo enchendo meu coração de esperanças. Estou ficando velha para isso, mas porquê meu coração acha que não? Será que o ponto do universo é me ver sofrer? Ele me trata como um sem-teto, sempre me entrega pequenas migalhas, mas nunca me tira da solidão da rua. É impressionante como nenhum dos meus sonhos segue a linha que eu planejei. Nenhum. E sim, entendo que a vida não é um morango e que nem sempre as coisas saem como planejado. Eu entendo. Mas NUNCA saiu como planejado. Nem por um segundo. Eu não quero migalhas, não mereço só isso. Eu preciso de tudo ou de nada.
Não consigo seguir em frente e agora parece que eu estou desesperadamente esperando que outras pessoas sintam o que eu sinto só para eu não estar sozinha no fim do poço. Que tipo de pessoa é tão egoísta ao ponto de ser assim como eu? Eu nunca rezei contra ninguém, mas parece que eu não rezo a favor de ninguém porque o mundo não é a favor de mim. Ele nunca foi e estou tão cansada de lutar contra ele ou suas ironias e estatísticas. Meu coração vai se partir em poucos dias e meu maior sonho vai ser outro vidro quebrado. Um sonho que eu lutei a vida toda. O momento pelo qual abdiquei de tudo e de todos nunca vai chegar.
Esse sonho não me quis, como ainda posso querer ele? Como posso querer tanto algo depois de me maltratar tanto? Como posso querer tanto assim depois de tanto choro. Como pode ele querer outras pessoas e não a mim que sempre o quis? Eu queria não sentir nada, mas eu sinto tudo e tenho medo dos próximos dias. Tenho medo das minhas feridas e tenho medo de que outras sejam abertas. Estou exausta. Mordi minha língua, fiz de tudo para ela sangrar. Nem o sangue me quer. Acho que estou fadada a ser assim. Sinto muito, muito mesmo.
Laura, qual é o preço da eternidade?
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Laura's Thoughts: your almost life
RandomLaura é uma garota como as outros, cheias de pensamento e esperanças. Nesse livro, narrado em primeira pessoa, ela conta sobre os anos de sua vida. Ela vai aprender que nem tudo que reluz é ouro e que as coisas, por mais que tente, quase nunca são c...