Capítulo 1: Sozinho

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Eu não me importo com os presentes

Que estão embaixo da árvore de Natal

Eu só quero você para mim

Mais do que você jamais poderia imaginar

Faça o meu desejo se realiza

"All I Want for Christmas Is You" - Mariah Carey

Elara

O shopping estava lotado. Havia uma grande quantidade de gente ocupando todos os espaços possíveis. Se Newton visse isso, com certeza, a sua lei de dois corpos não poderiam ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, cairia por terra. Mas todo esse fluxo exorbitante de gente é normal nessa época do ano, há vista que, boa parte das pessoas já receberam os seus salários do mês e as bonificações de fim de ano estão para cair em breve.

Estamos há pouquíssimos dias do Natal e quem não é muito organizado ou não tem recursos suficientes para comprar presentes com antecedência, estão comprando tudo agora. Agradeço aos Deuses por minha família ser desunida e mal fazemos comemorações nessa data. Depois que a minha bisavó morreu, a minha família rachou e nenhuma comemoração natalina faria mais sentido sem ela entre a gente. Acho que isso é um círculo natural da vida. Nem sempre os nossos laços familiares são eternos.

No entanto, neste natal queria presentear os meus pais. Meus irmãos ficaram responsáveis pelo presente do nosso pai e eu o da nossa mãe. Era para ser uma surpresa para ambos, mas dei uma trapaceada e perguntei o que minha mãe queria de natal. Bem melhor do que dar presente às cegas e ela não gostar.

Esbarro em algumas pessoas enquanto caminho. Vejo por cima da multidão de gente, a loja que pretendo entrar, parecendo um cenário de um filme apocalíptico. Todas as vendedoras com grupos enormes de clientes, tentando dar conta de todos, enquanto as prateleiras estão uma enorme bagunça. Ter vindo ao shopping foi uma péssima ideia. Me amaldiçoou por não ter comprado online o presente da minha mãe, e só ter pedido para retirar na loja mais próxima de casa.

Mal dava para andar dentro da loja. Passei mais tempo parada no meio do caos do que sendo atendida. Ainda bem que a minha mãe tinha me falado exatamente a linha de produtos que queria. Em um tempo recorde, consegui pagar e sair daquela confusão. Suspiro aliviada e continuo a minha saga a fim de comprar pelo menos um óleo de banho para mim, antes de voltar para casa. Ao ver a próxima loja, onde tenho costume de comprar, com uma fila do caixa e para fora da loja, perco toda a minha coragem de encarar esse caos.

Por um milagre, encontro um banquinho livre de frente ao estande de Natal. A decoração é de tirar o fôlego. Realmente, deve ter custado uma nota para fazer toda aquela ornamentação natalina. A uma árvore de natal enorme, que começa no térreo onde estou e vai até o terceiro andar do shopping. Nela tem vários ursinhos, flores artificiais em prata e dourado, laços nas mesmas cores e tradicionais bolas de natal das mais diversas cores.

Havia caixas de presentes flutuando sobre o estande, provavelmente, presas com uma corda fina no teto do shopping para dar esse feito. As casinhas dos ajudantes do Papai Noel parecem ser mágicas de tão bem detalhadas em tons dourados. Além delas, havia uma casa enorme principal do querido velhinho era muito mais bonita e ornamentada que as outras. O Brasil pode até não ter a neve ou os outros requintes natalinos, mas ainda assim, consegue ter a incrível beleza dessa data como todo lugar no mundo.

Reparo bem no senhor, sentado na enorme poltrona vermelha, vestido de Papai Noel. Mesmo com o shopping lotado de crianças e adultos perambulando para cima e para baixo, não vejo quase ninguém se aproximando para fazer os seus pedidos ou tirar uma foto com o senhor. Ainda que todo mundo saiba que o Papai Noel do shopping não é de verdade – e os adultos saibam que ele nem existe para começo de conversa –, é meio triste olhar para o senhor sozinho.

Quando era criança vivia assistindo os especiais de natal e o meu maior sonho era encontrar o papai noel. Queria despejar todos os meus desejos de criança sapeca para ele, pois acreditava que o velhinho de vermelho conseguiria trazer até a lua se pedisse. Acho que isso é influência da minha bisa – que Deus a tenha –, que sempre manteve todas as lendas infantis vivas para mim e meus primos. Mas, infelizmente, em cidade do interior não há nada comparado com esses estandes dos shoppings das grandes cidades. O prefeito da cidade apenas enche a cidade com aqueles anjinhos feitos de garrafas pets, que são mais velhas do que a história do município. Nem havia pessoas dispostas a se passarem por Papai Noel debaixo de um calor de 40º graus, o que é compreensível.

Dou uma olhada em volta e as pessoas parecem alheias a toda aquela pompa natalina. Simplesmente, ninguém dá ousadia para o estande, com certeza foi feito durante a madrugada para estar montada em tempo hábil para os visitantes do shopping no dia seguinte. Passo mais alguns minutos encarando o senhor com o seu semblante desanimado e tomo a minha decisão de fazer a minha última boa ação do ano. Voltarei amanhã.


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⏰ Última atualização: Jan 26 ⏰

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