Capítulo 1

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-Papai, papai, papai!!!
-Solte minha filha, deixe - a em paz!!
-Papai, papai, não me deixe!!
-Não irei te deixar querida, nunca irei te deixar, prometo! !
.......
Algumas promessas nunca se cumprem em nossas vidas, apenas se acumulam e formam um lago de decepções e nossos corações...
Essas foram as últimas palavras de papai após ouvir as portas se fecharem, sentir as minhas narinas serem tapadas e as minhas pálpebras descansarem serenamente.
Queria eu poder ouvi - lo mais uma vez, queria eu poder senti - lo outra vez. Oh quão terrível é a falta que ele faz em meu coração, nunca me perdoarei por ter aberto a porta, papai me disse que não podia abrir, papai me disse que não podia atender, papai me disse que se um dia isso fosse acontecer, este apenas me disse que eu devia correr...

-Andyyyyyyyyyy!!!
-ahn?-abro os meus olhos vagarosamente e me deparo com alguém pulando em cima de mim!-O que foi? Não vê que estou a dormir?- digo com voz de sono.
-Poxa Andy, este é o seu grande dia!!!- a pessoa na minha frente que no caso é numa linda menina de cabelos longos e negros que possuí um par de esmeraldas verdes gritantes diz, se sentando ao meu lado meio exausta.
-Grande dia?, não estou sabendo de nada!- digo mal humorada me aconchegando novamente debaixo dos meus cobertores tendando fechar os olhos.
-Vamos garota acorde, Jake já está a preparar o café para nós, levante -se vista uma roupa, e por favor, não se atrase, as mercadorias já estão para chegar, se você se atrasar já sabe o que irá acontecer!- ouço a porta se fechar e crio coragem para me levantar.

Grande dia, até parece que entregar drogas a usuários dopados parece ser interessante, na real nada aqui é interessante. Vivo em um lugar sujo, onde tudo que entra e saí daqui ou são drogas ou são corpos. Drogas pelo fato de aqui ser o ponto de trocas e vendas de ervas e pedras, corpos pelo fato de quem não pagar ou não cumprir o trato mandado, ser morto, mutilado, esquartejado, esfaqueado, estrangulado e entre outras típicas mortes que presencio praticamente todos os dias neste "estabelecimento".
Levanto da minha cama com muito esforço pois o corte ainda não havia cicatrizado em minha perna, pego o kit de primeiros socorros na gaveta e troco o curativo antigo encharcado de sangue, por um curativo novo que após tocar a ferida causada por um facão se encharca aos poucos novamente.
Tomo um banho para retirar o peso da minha mente, pois sentir a água correr pelo meu corpo e sentir meus cabelos molhados baterem contra a minha cintura é um dos sentimentos que eu mais almejo atualmente. Tudo que eu passei aqui simplesmente por que não fiz o que meu pai mandou, foi exatamente tudo culpa minha, foi eu que matei minha mãe e meu pai, foi eu que abri a maldita porta. Eu simplesmente não pude provar pela última vez a torta de morango que mamãe raramente fazia. Eu simplesmente não pude me sentar no colo do papai e ouvi - lo dizer pela última vez que me amava. Eu fui burra, e todos os dias eu me lamento por ter feito isso. Se não fosse por mim meus pais estariam vivos e eu estaria em uma digna universidade talvez chorando pelo meu namorado ter me traído com uma líder de torcida. É exatamente isso que adolescentes da minha idade fazem, choram por garotos, se preocupam com roupas, maquiagem, festas e amigas. Mas fui tão burra que nem pensei em meu futuro, não pensei que eu me tornaria uma droga. Uma infeliz aprendiz de tráfico e uma futura traficante de merda.
Acordo dos meus devaneios e término o banho. Vou até o "guarda roupa" que no caso era só uma gaveta pois dividia o resto com as outras aprendizes e retiro meus jeans pretos desgastados e uma blusa de alça fina também preta. Escovo meus longos cabelos castanhos claros e ondulados. Após isso calço meu all star preto. Não é que eu goste de roupa preta, mas sim por que preto é a cor que se indica no "uniforme".
Deve estar se perguntando como vim parar aqui. Pois bem, após os homens de preto me levarem para longe de casa a única coisa que eu lembro é de ter acordado em uma cama no qual é a mesma que eu durmo atualmente. Eu não sabia o que fazer, estava totalmente atordoada e o pânico corria pelas minhas veias. Eu era uma menina de 8 anos que havia sido retirada dos pais por homens que naquele momento eu considerava maus. Eu apenas fiquei sentada em cima da cama sem mexer se quer um músculo. Quando meus ouvidos captaram a porta ser aberta meu olhos pequenos se moveram para o mesmo e como instinto de defesa me encolhi sobre a cama.

Run Or Die // H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora