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Acordei ofegante,olhei ao redor do lugar, a minha falta de conhecimento sobre ele me deixou ainda mais angustiada, as paredes de madeira, e macas espalhadas por toda parte, que merda de lugar é esse ? As memórias voltaram aos poucos, o ataque ao meu colégio, o modo como minha mãe me sentou na cama e me disse que meu pai não é meu pai, e sim meu padrasto, me mandou arrumar as malas e ficar em segurança. A memória me fez querer rir, assim como fiz naquele momento, eu precisava do meu celular e ligar pro meu pai, avisar que a mamãe tinha tido um surto, que ela precisava urgentemente de uma clínica psiquiátrica. Deuses gregos, que idiotice.

Comecei a andar pelo local, caçando minhas malas, ou a saída, ou qualquer pessoa que pudesse me dar alguma informação sobre aonde eu estava. O chão frio de madeira contra meus pés descalços,e o ar gelado do local deixaram minha pele arrepiada, quase no final da grande sala, eu passei por um espelho, chegando mais perto pra poder ver melhor, decidindo me preocupar com meus óculos em outro momento, encarei meu reflexo,o cabelo preto e ondulado levemente amassado pelo tempo deitada, a parte azul atrás dele se destacando mesmo no escuro, um dos meus brincos faltando na orelha esquerda, merda, era meu brinco favorito, e minha sobrancelhas grossas levemente bagunçadas, minha blusa que um dia fora branca, estava amarelada, eu precisava urgentemente de um banho.


Sai do local, e olhei ao redor, o acampamento era enorme, tinha várias cabanas, locais que pareciam campos de treinamento, aquilo é uma plantação de morangos ? Onde minha mãe me meteu ?

Fui andando até o único local que estava iluminado, no local mais alto, quase uma pequena colina, era enorme e lembrava os templos gregos, ignorando a dor das pequenas pedras nos meus pés, e o escuro. Andei pelo local, caçando qualquer pessoa viva, até entrar em uma sala, onde um homem grisalho estava sentado, enquanto lia alguns papéis.

– boa noite - eu disse, fazendo ele levantar a cabeça, e franzir as sobrancelhas, qualquer outra coisa que eu poderia dizer morreu em minha garganta, um centauro, ele era um maldito centauro.

– boa noite, senhorita Crain, você não deveria estar na enfermaria?- o homem disse, parecendo alheio ao meu susto, o que diabos essas pessoas tinha me dado aqui ? Isso não pode ser real.

– Você é metade cavalo, VOCÊ É METADE CAVALO.

– O termo politicamente correto é centauro, mas essa também é uma forma de descrever.- ele falou com humor.

Agarrei a cadeira ao meu lado e me sentei antes que acabasse caindo, eu só podia estar enlouquecendo, a loucura da minha mãe me contagiou, e agora até eu vou precisar de uma clínica psiquiátrica.

– Você não está doida, senhorita Crain, normalmente vocês sempre ficam bem confusos quando chegam aqui, é até bem normal.

– Normal ? Normal ? VOCÊ É METADE CAVALO. Não pode me dizer que algo nesse lugar é normal.- eu falei exaltada, isso é só um sonho, isso é só um sonho , isso é só um sonho.– Isso não é real, você é uma alucinação, eu vou acordar, e estar na minha casa ,e vou rir desse sonho idiota com minha mãe e meu pai.

O homem meio animal me olhou com certo pesar, essa coisa estava com pena de mim, e balançou a cabeça chegando perto de sua mesinha de centro, e servindo chá em duas xícaras de porcelana, com aparência delicada e velha. Ele veio e me entregou a pequena peça de porcelana, e se afastou de novo , eu não bebi o chá, primeiro porque chá é horrível, menos o feito de maracujá,e segundo, ele é um estranho metade cavalo, sabe-se lá o que tem dentro dessa bebida, pode ser mais desse remédio alucinógeno.

Encarei minhas próprias pernas praticamente desnudas, meu short jeans tão curtos que eram quase completamente cobertos pela minha blusa, que é de um tecido leve, e deixa um dos meus ombros de fora, mostrando a alça de renda do meu sutiã, balancei os dedos dos pés, eu preciso pintar outra vez, o esmalte já está descascando.

Um dia - short fic / Clarisse La Rue Onde histórias criam vida. Descubra agora