Dazai acabava de retornar dos fundos da loja quando seus olhos foram imediatamente de encontro ao relógio arredondado em formato de flor que ostentava toda a sua esquisitice ao topo do balcão de atendimento; um hábito que ele costumava ter ao contar os segundos para voltar para casa, mas que se transformou em um tipo diferente de ansiedade.
Três e meia da tarde, sorriu — e seu rosto se iluminou ao escutar, vindo de suas costas, o barulho suave do sininho anunciando a chegada de um novo cliente.
Quando girou em seus calcanhares para encontrar a figura que terminava de fechar a porta, ele sequer percebeu quando o sorriso alargou-se ao confirmar suas suspeitas. Dazai poderia reconhecer em qualquer lugar do mundo aquela combinação composta pela jaqueta de couro e o comprido cabelo com madeixas alaranjadas tão calorosas que nem o chapéu escuro era capaz de ofuscá-las.
Sempre tão pontual, pensou o florista, enquanto carregava uma pequena caixa de madeira recheada de flores para as prateleiras da entrada, percebendo o modo como os olhos safira não hesitaram em encontrar os seus antes mesmo que ele encurtasse a distância entre os dois — quase como se procurar Dazai fosse, sem sombra de dúvidas, a primeira coisa que ele fazia ao chegar na floricultura.
(Encontrá-lo com o olhar — uma simples tática que Dazai sempre usava para informá-lo que ele estava disponível para atendê-lo, antes que Yosano ou Kenji chegassem primeiro para roubar-lhe aquele momento.)
— Chuuya! — A voz saiu empolgada quando ele depositou a caixa em uma prateleira vazia e assistiu ao modo como o homem caminhava a passos firmes em sua direção, em seu velho costume de sempre ir para onde Dazai estava.
Chuuya sorriu, mãos escondidas nos bolsos de sua jaqueta, e revirou os olhos ao assistir Dazai escrevendo um bilhete ao lado da caixa de flores, "Yosano, o chefe disse para você arrumar estas flores <3".
— Ele deu este trabalho a você, não foi?
— Ah, você já me conhece tão bem! — Dazai comentou, juntando as mãos em frente ao rosto para fingir emoção pela frase. E seu sorriso alargou-se mais ainda ao agilmente desviar de um chute leve que recebeu do outro.
— Pare de dar mais trabalho pra ela, seu vagabundo! — Chuuya reclamava, mas havia um óbvio sorriso em seu rosto que não passou despercebido pelo florista.
Então Dazai cruzou os braços, dando um longo suspiro.
— Por que eu faria? Ela é melhor que eu nessas coisas, de toda forma. — E, antes que Chuuya pudesse estender aquela discussão, ele se apressou em questionar, inclinando um pouco a cabeça com curiosidade. — Está indo visitar seus amigos novamente? Eles pediram por alguma flor em específico hoje?
Algo na postura de Chuuya pareceu relaxar ao ouvir aquelas palavras e, mesmo tendo desviado o olhar, Dazai percebeu o sorriso agora mais calmo que se formava em seu rosto.
— Hoje eu tenho boas notícias para eles. Você teria algumas irises?
— Pra já! — Dazai estalou os dedos, imediatamente caminhando para onde ele sabia que estariam as belas flores púrpuras. E ele não comentou a respeito, mas algo em seu peito borbulhava ao notar o modo como Chuuya nunca hesitava em segui-lo pelos corredores (vez ou outra soltando comentários mundanos sobre seus últimos dias no trabalho ou o modo como o seu cachorro estava carente naqueles dias). E ele acomodou-se ao seu lado como se ali pertencesse quando as flores foram enfim encontradas, ombros perto demais enquanto eles discutiam juntos quais eram aquelas em melhores condições, seus cheiros e as combinações ideais para o buquê final.
E era exatamente por aquele motivo que Dazai sempre calculava perfeitamente cada segundo do seu tempo na floricultura, e também ajudava o fato de Chuuya ser sempre tão pontual com seus cronogramas. Caso um trabalho grande caísse em suas costas justamente naquele dia e hora, ele discretamente o oferecia a Yosano ou sorrateiramente fingia cansaço e implorava por ajuda para que pudesse terminar mais cedo; caso estivesse em atendimento com outra pessoa, sua mente trabalhava mais rápido do que nunca para encontrar o melhor resultado em flores e significados para que o serviço fosse entregue imediatamente.
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abraçando a morte com flores
FanfictionChuuya era um cliente frequente da loja de flores onde Dazai trabalhava. Ele voltava todos os meses, na mesma data e à mesma hora, trazendo sempre os sorrisos mais brilhantes que Dazai já vira em sua vida. Tão brilhantes que Dazai demorou alguns mes...