❃ você finalmente voltou

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As notícias boas demoram mais para chegar e eu confesso que, no caso dessa notícia em específico, o ditado não se cumpriu. Foi necessária uma visita surpresa de vários residentes de Morioh para me explicar aquilo e tudo parecia, sinceramente, algo impossível. Mas eu confiava plenamente em Koichi — não que eu não confiasse em Josuke, Okuyasu e Rohan, mas ele tinha uma credibilidade maior comigo — e quando ele me contou sobre tudo aquilo, sobre a visita de Giorno Giovanna e a usuária de stand que era capaz de trazer algumas pessoas de volta do passado... Bem, nunca fui muito habilidoso em expressar as coisas que sinto, não levo como um defeito, mas senti o coração acelerar de forma anormal no meu peito.

Em 1987, no Egito, nós perdemos muito em busca do nosso objetivo. Foi uma longa viagem em busca de Dio Brando e nela, inúmeras coisas aconteceram até que finalmente sua existência foi eliminada pelas minhas próprias mãos. No entanto, mesmo que nosso objetivo em comum fosse derrotar Dio, muitos sentimentos correram dentro de nossos corações, como medo, ansiedade, até mesmo felicidade, surpresa e... amor. Amor não vindo apenas do laço de amizade que criamos naqueles cinquenta dias, mas um amor incompreendido por mim e só percebido depois que vi que tudo o que eu poderia ter escapou das minhas mãos.

Doía profundamente só perceber o que eu sentia depois que tudo acabou. Meu avô me deu a notícia de que Kakyoin havia morrido durante uma luta com Dio e eu tentei manter a cabeça centrada e não tragar aquele gosto amargo no momento, pois precisava dar fim a tudo e fazer valer todas as vidas que foram tiradas por aquele psicopata. Mas quando já não existia mais Dio, que o corpo que ele havia roubado de Jonathan Joestar já havia virado poeira no horizonte, a ficha finalmente caiu. Eu não estava só, tinha meu avô, minha mãe, Polnareff e aquela foto que guardava como o meu maior tesouro, mas eu me sentia sozinho em uma multidão todas as vezes que pensava que Kakyoin não existia mais neste mundo. Que Dio Brando o tinha tirado de mim.

Pensar em Kakyoin era diferente agora que eu já não o tinha ao meu lado. Foi só quando perdi que percebi que eu apreciava sua companhia mais do que deveria. Que sua risada era como música para os meus ouvidos, que seu humor radiante era um contraste com aquela nuvem carregada acima de minha cabeça, que sua determinação o deixava ainda mais bonito. Eu me lembrava diariamente dele, mas também lembrava que eu nunca mais poderia vê-lo. E me lembrava de que finalmente eu havia entendido o que se passava comigo...

Não consegui dizer como me sentia enquanto ele estava vivo. E então ele morreu...

Arrependimento é uma palavra amarga que engolimos diariamente em forma de lembranças embaçadas. As possibilidades infinitas de um futuro que nunca vai existir são como sal na ferida e todos os dias tentamos lavar esses machucados, mas ao invés de água, lavamos com álcool, fazendo arder mais ainda. São as nossas escolhas erradas que nos mostram o quanto estamos cegos pela saudade, pelo arrependimento e pela dor de saber que nada do que tínhamos vai voltar.

E foi exatamente assim, fazendo escolhas erradas, andando por caminhos que eu não queria, que acabei me casando cedo. Apesar de ter errado, meu único acerto nisso foi Jolyne. Ela era um pedaço de mim que me trazia felicidade e orgulho, uma pequena luz radiante diante de tantas sombras em meu coração... mas eu, ainda assim, conseguia errar com ela também sendo um pai horrível e ausente, assim como meu pai foi para mim.

Tudo estava extremamente errado. O meu mundo estava errado sem Kakyoin Noriaki. E eu sabia que ele não voltaria, eu sabia que eu jamais poderia finalmente dizer como me sentia, mostrar para ele o quão importante ele foi para mim.

Mas então Koichi e os outros me visitaram naquele sábado ensolarado na Flórida. Eu estava em meu apartamento sozinho, uma vez que há tempos já havia me divorciado e me mudei para um lugar menor. Todas aquelas explicações sobre Requiem, a flecha e Ghost Of You me deixaram muito tonto, apesar de manter minha pose impassível. Parecia que eu estava sonhando e que todo aquele assunto era apenas o fruto da minha vontade imensa de ter Kakyoin novamente, que era apenas a manifestação da minha dor e dos meus arrependimentos.

Love Wins All ❃ JOTAKAKOnde histórias criam vida. Descubra agora