Em Talamor, a terra dos cinco reinos onde todos lutam por poder e a paz é frágil e mantida com muito custo, os problemas estão apenas começando.
Kieran Sulis usurpou o trono de Laibia e esse foi o primeiro passo para conquistar todo o continente, e...
"Nada neste mundo é tão mágico e tão assustador quanto uma moça prestes a se tornar mulher."
— Kiersten White, A Farsa de Guinevere
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O VENTO QUE SOPRAVA NO TOPO da Colina da Névoa era gélido, mas não incomodava Eledwen; somente uma chuva forte a tiraria dali. Era tradição em Ravaryn, todos os jovens que fossem sagrados cavaleiros precisavam passar uma noite inteira de joelhos ali, em devoção a Rhyfel, o Guerreiro, e na manhã seguinte seriam recebidos com gritos e aplausos caso não desistissem. Por ser mulher, a princesa não poderia receber o título de cavaleiro, mas isso não importava, pois sabia lutar e nunca teve o desejo de possuir tal título. Apenas queria provar a si mesma que era capaz de passar pelos ritos.
Sua espada encontrava-se desembainhada no chão em sua frente, o aço brilhando feito prata à luz da lua que volta e meia aparecia através das nuvens. Que não chova, por favor, Eledwen pensava, Que não chova muito forte.
Por sorte, apesar da grande quantidade de nuvens no céu, não choveu até que o dia viesse a clarear, quando um chuvisco começou a cair. Eledwen deixou-se sair da posição em que esteve nas últimas horas, sentando no chão e analisando os joelhos machucados; suas calças haviam rasgado na região e o sangue saia por ali. Doía muito, assim como seu corpo, mas era uma dor boa que ela iria suportar.
Sentia-se forte e, sorridente, desceu a colina enquanto guardava a espada na bainha em sua cintura. Deveria erguer o capuz para se proteger da chuva que parecia aumentar, porém gostava das gotas de água atingindo-lhe no rosto. Lá embaixo, Brianna Kindrick se aproximava trazendo dois cavalos de pelagem castanha pelas rédeas, com seu próprio capuz preto erguido. Chegara bem na hora.
A princesa correu com o manto esvoaçando atrás de si, respirando fundo ao parar diante da amiga.
— Bom, parece que a noite foi longa — Brianna comentou, passando as rédeas de um dos cavalos para Eledwen — Você está sangrando. O que Morwen irá dizer sobre isso?
— Minha irmã com certeza dirá que o sangue é a confirmação de minha devoção e que todos os guerreiros devem sangrar — respondeu, fazendo um breve carinho no focinho de Nahar, o animal que lhe pertencia — Mas agora temos que ir, estou faminta e você provavelmente também está.
— Você sabe que eu só lembro de comer uma vez na vida e outra na morte — Brianna resmungou, embora tivesse montado em seu cavalo ao mesmo tempo que Eledwen.
Era algo comum que os camponeses vissem Eledwen e Brianna cavalgando juntas de um lado para o outro, pois tornaram-se amigas no momento em que se conheceram. Tão diferentes eram as duas que rapidamente conseguiam reconhecê-las: Brianna era de estatura mais baixa, com cabelos ruivos que caíam sobre os ombros pequenos, e olhos verdes; Eledwen era alta e forte, como uma lança, de cabelos negros que tocavam sua cintura e olhos como obsidianas. Apenas a tez pálida era o que tinham de semelhante.
