𝐶𝐴𝑃𝐼𝑇𝑈𝐿𝑂 IV

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  À medida que eu entrava naquele ambiente, os meus ouvidos eram tomados por risadas espalhafatosas, falatórios, alvoroço e tumulto. Afinal, o que eu estava fazendo neste ambiente? Eu precisava encontrar urgentemente a cozinha deste lugar, porém antes necessito averiguar cada espaço minunciosamente. Beatrix estava junto dos meus pais conversando, foi a oportunidade perfeita. Todos relacionavam amistosamente entre si, porém eu sabia muito bem o final dessas festas, puxões de cabelos entre as jovens, algazarras, disputas obstinadas por um homem destituído de beleza.

Os seus olhos e ações revelavam que um título não traz mudança, pelo contrário, propriedades e bens à medida que aquele ou aquela que os tem, comporta-se de modo presunçoso e egocêntrico. Como seriam estas pessoas sem as máscaras que elas colocam sobre sua face? Quem são elas quando estão desprovidas de posses e riquezas? O que fazem quando estão privados dos olhos da sociedade?

A medida que eu percorria o salão, os meus ouvidos pouco a pouco se deleitava, apreciando cada nota tocada por aquele pianista na ala principal. A famosa e bela música clássica de tchaikovsky inundou todo o salão, gradualmente os casais iniciavam uma dança, envolvidos pela agradável harmonia.

Ao lado de uma grande escultura de mármore, contemplei um aglomerado de homens e mulheres, o que chamou a minha atenção. À medida que eu me aproximava, pude ouvir as palavras que manifestavam. Uma guerra de sílabas, porém, saberiam eles o significado do que estavam dizendo? Tinham por conhecimento a veracidade das informações que citavam. Com passos habilidosos, eu me aproximei, fiquei por ali alguns segundos, pois eu precisava ser convidada a participar.

─ O que estão reclamando? Sabemos muito bem que fornecemos a eles o que é por direito. Já não há fome, eles não passam necessidades. Tem tudo o que precisam, o trabalho que fornecemos a ele provém a eles o sustento. ─ Um homem estufou o seu peito, pronunciando-se de maneira intolerável. Alguns concordaram, outros somente permaneceram em silêncio, então o homem com aparência desajustada continuou. ─ Quem discordar, deverá apresentar alegações fundamentadas. Todas as minhas considerações estão corretas.

As pessoas baixaram a cabeça, ficando em silêncio, alguns desviaram os seus olhos, mostrando estarem à mercê das suas palavras. Os meus olhos fixaram-se nos dele. ─ Quem poderia ser ele? ─ Questionei ao analisar a sua fala e postura.

─ Você! Aí, no fundo. O que tanto olha? Também está pensando como os outros? Já se convenceu? ─ O homem barbudo questionou, mirando em minha direção.

─ Quer realmente a minha opinião? ─ Me pronunciei, todos ao redor abriram espaço, direcionando os seus olhos para o fundo do aglomerado, um garçom se aproxima, prendendo a atenção no incidente que estará prestes a acontecer. Pois eu não posso me calar.

─ Claro! Afinal, estamos aqui para discutir sobre as circunstâncias do nosso país. ─ Respondeu ele, pegando um champanhe da mão do garçom. O jovem pareceu desconcertado, ele estava somente sendo atencioso ao servir aquelas pessoas.

─ A soberba procede à ruína, e a altivez de espírito procede à queda. Decerto que todas as informações que acabou de citar estão corretas. Porém, acredito que o senhor citou somente aquilo que lhe convém, que lhe diz respeito, o que lhe apraz. 1% da população deste país tem alimento e saneamento básico. Mas os outros 99% não sabem ao menos o que são estes benefícios, os jornais que recebe em sua casa todos os dias, por aqueles que o senhor mesmo diz ser o que" já não tem fome" mostram todas essas informações, creio que o senhor sabe ler, e tem consciência. As informações que passou estão totalmente deturpadas. ─ Todos estavam espantados com as minhas palavras, o garçom permaneceu onde estava. ─ Creio que aqueles que trabalham nas cirúrgicas; em indústrias; homens e mulheres que servem ao senhor, fazem muito mais que a vossa senhoria, que o único peso que já pegou, creio eu em toda sua vida, foi o lápis e a caneta para assinar os seus papéis. ─ O homem constrangeu-se com as minhas palavras, mostrava-se intimidado com tudo que fora dito. ─ Eu não falei tais palavras para diminuir seu intelecto, mas para esclarecer as informações ditas. A verdadeira sabedoria é aquela que não buscamos nada em troca, não devemos usar o nosso conhecimento para diminuir, e sim para sermos justos.

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⏰ Última atualização: Feb 06, 2024 ⏰

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