°antes°

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. . .
Não se esqueça.

Eu murmurava frases desconexas, sentindo todo o peso da gravidade amarrado em cima de onde deveriam estar meus pulmões. Não. Se. Esqueça.

Acima dos meus olhos, os planetas pendurados por fios de náilon dançavam ao redor do Sol de isopor que ficava no centro. Era o trabalho de escola mais bobo que já tinha feito, mas era o único que realmente havia me ensinado algo útil, então pensei que deveria ser preservado.

Encarei o fio solto após Netuno, pendurado no vazio mais distante do Sol. Nas minhas mãos se escondia seu antigo habitante: Plutão.

Plutão deixou de ser planeta em agosto de 2006. Na semana seguinte, arrancaram o quadro de ciências da parede da sala de aula da sexta série. Voltaram com um novo, mas, daquela vez, ele estava faltando; lembro de ter chegado em casa e tê-lo cortado fora da maquete com uma tesoura escolar.

Desde então, Plutão é tudo que eu sou e onde minha mente habita. Meu corpo está na Terra, mas partes de mim flutuam pelo espaço; não pertenço a lugar nenhum.

Me chamo Soul. Estamos no final de 2009. Há três anos, orbito Plutão.

Ouvi minha mãe gritar da cozinha e me levantei do chão empoeirado do sótão. Isso não é sobre a ciência da mente; é sobre o que a realidade traz. E o que conseguimos.

Desço as escadas, o pequeno planeta em meu bolso. Queria poder ver as estrelas, ou qualquer coisa de verdade. Sinto falta de antes.

Não se esqueça de mim.


notas do capítulo
é apenas o começo
- sua amiga kaly

Orbitando PlutãoOnde histórias criam vida. Descubra agora