Nós

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Com o fracasso na batalha do Ministério, os gritos de dor dos Comensais da Morte ecoavam pelas paredes da Mansão Malfoy, misturando-se aos estrondos dos trovões. A tempestade desabava lá fora, iluminando o interior do ambiente com a luminosidade dos raios que cortavam o céu. Embora a escuridão fosse terrivelmente mais assustadora do que as nuances cinza-chumbo do horizonte, tudo o que restava para Narcissa era o medo.

Olhando pela janela de seu quarto, ela refletia sobre como os dias retratavam pouco a pouco seus pensamentos e sombras que manchavam seu semblante. Antes, ela poderia ser descrita como uma bela Rainha de Gelo, mas naquele instante seu espírito se partia e os sentimentos transbordavam em seu rosto. Tudo havia perdido o sentido quando seu precioso menino foi chamado para ocupar o lugar que pertencia ao pai.

Incapaz de conter as lágrimas ou impedir que seu estado mental abalado dirigisse seus passos, Narcissa chorou como se seu coração estivesse sendo rasgado. Voldemort queria matar seu amado filho... Draco era a pessoa que ela mais amava no mundo e ela temia perdê-lo a qualquer momento. Ela sabia que alguém criado com tamanha devoção nunca seria capaz de cometer atos hediondos, especialmente o de matar Albus Dumbledore.

Se Lucius era um incompetente e um covarde miserável, que falhara de forma absurda, ela não se importava se ele fosse torturado e morto. Há anos ela não se interessava pelo destino que o marido teria, principalmente quando considerava todos os horrores que ele impôs à própria família ao se aliar ao Lorde das Trevas.

Para piorar, o homem de rosto ofídico estava a cada segundo mais enfurecido com Bellatrix. Ela era seu braço esquerdo, sua general, a seguidora mais fiel e disposta a fazer tudo o que ele ordenasse... Como poderia quase ser aprisionada novamente?

Foi nesse momento que Narcissa ponderou que sua irmã não era completamente incapaz ou havia perdido totalmente a sanidade. Aquele deslize mostrava que ali havia alguém que ela não mais reconhecia. Era como se sua irmã mais velha estivesse morta e o que restava era um simulacro psicótico. Tudo se transformava em uma mera questão de tempo.

Se, naqueles longos e tortuosos minutos, Bellatrix urrava de dor pelas sessões de Cruciatus que lhe eram impostas, o próximo passo seria a vingança cruel contra os Malfoy. Sem considerar os riscos de suas atitudes, Narcissa se viu diante da encruzilhada mais decisiva de sua vida.

Com a decisão tomada, trocou de roupa e atravessou os corredores com passos largos e firmes. Procuraria ajuda e faria qualquer coisa para obtê-la. Antes de desaparatar, respirou fundo e se lembrou da única pessoa a quem pediria socorro.

Ele, entre todos os homens que conhecia, era o único em quem confiaria cegamente e, se fosse necessário, o seguiria para onde quer que fosse. Não se lembrava mais de quando, onde ou por que entregara seu coração e alma sem pedir nada em troca. Apenas queria ser salva de um destino cruel.

Sem saber ao certo o que diria ou quais argumentos seriam fortes o suficiente para convencê-lo, Narcissa aparatou e se viu próxima ao rio assoreado. Convicta de suas ponderações, seguiu entre o labirinto de ruas e casas, ignorando o cheiro de esgoto, fumaça, sujeira e animais mortos.

Aquele lugar era, definitivamente, horrível, e ela concordava com Lily Potter em usar artimanhas para escapar daquele ambiente. Só não compreendia a razão pela qual Severus permanecia ali. Essa dúvida sempre surgia quando ela cruzava aquelas ruas. Ela não podia acreditar que ele se mantinha em um processo de punição eterna por coisas das quais não era responsável. Ele foi traído, ignorado, humilhado e trocado por um idiota rico, e, para piorar, o fantasma da ruiva cadáver insistia em assombrar sua vida.

Cruzando a última esquina, ela deu mais alguns passos em direção à casa, ainda envolta em suas considerações sobre o ambiente. Não foi uma, mas inúmeras vezes que ela ofereceu ajuda a Severus. Ela queria que ele se mudasse para Hogsmeade ou qualquer outro lugar que lhe agradasse. Não via nenhum obstáculo para presenteá-lo com uma bela e espaçosa casa. Um terreno amplo onde pudesse cultivar plantas para suas poções, um laboratório enorme onde pudesse trabalhar tranquilamente e o restante do ambiente suficientemente amplo para... sacudindo a cabeça em negação, ela lembrou que a resposta era sempre contrária aos seus desejos.

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