ONE.

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— EU ODEIO VOCÊ! — Os meus gritos ecoam pela enorme sala fazendo a raiva nos olhos da mais velha aumentar.

— EU TE DOU TUDO, ESTHER! VOCÊ QUE É UMA MAL AGRADECIDA! — De certa forma, seu tom de voz me causa arrepios, mas não baixo a guarda.

— ME DÁ O QUE? DOR? MEDO? — Lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas isso não a faz se sentir culpada.

— Olha só, Esther. Se você acha que tem liberdade sobre si mesma, então vá em frente. Mas tudo que eu faço, é para te proteger. Você deveria ser igual sua irmã, sabia? Inteligente, educada, gentil e amável. — A forma como ela me compara a minha irmã faz meu sangue ferver.

— Valeu aí, mãe. — Dou um sorriso sarcástico e pego meu moletom saindo porta a fora.

— ONDE VOCÊ VAI? ESTHER, VOLTE AQUI AGORA! VOCÊ ESTÁ DE CASTIGO! — Ela grita mas não dou ouvidos. Abro o portão e saio andando sem rumo pelas ruas desertas.

Eu não tenho ninguém. Não tenho amigos, nem namorado, nem parentes. Somente meu pai, mas ele vive viajando a negócios, vejo ele pelo menos duas vezes ao ano. 

Tem uma praça bem no final da minha rua, quase ninguém vai lá. Ela está velha e bem enferrujada, mas é o único lugar que me traz paz. Toda vez que brigo com minha mãe ou algo assim, eu vou para lá, e é para lá que estou indo agora. Vinte minutos, é o tempo exato que levo para chegar. Andei tão distraída que nem percebi quando cheguei. Fico olhando o céu acinzentado com poucas nuvens. Fecho os olhos sentindo a brisa leve do vento carregando meus cabelos para trás do meu ombro. Abro os olhos e vejo um passarinho logo a minha frente, abro um sorrisinho mas não me aproximo dele, sei que vou assusta-lo e ele vai fugir. Assim como todos fizeram. Horas se passam, mas para mim, pareceram segundos. Ando com as mãos no bolso indo novamente para minha casa. Abro lentamente a porta, vejo que mamãe está no escritório falando com papai. Meus lábios se curvam em um sorriso e saio correndo me intrometendo no meio da ligação deles.

— Oi papai! Estou com saudades, quando você volta para casa? — Minha mãe me olha feio por ter interrompido.

— Oi filha! Papai também está com saudades, logo logo estarei aí com você. — Senti saudade da sua voz. A gente se despede e eu subo para meu quarto me jogando em minha cama. Não demorou para minha mãe abrir a porta e cruzar os braços olhando fixamente para mim.

— A partir de amanhã você vai para uma escola nova, onde você vai aprender a ter a educação que você precisa ter. — Ela não parecia estar sendo sarcástica.

— Eu não vou para escola nova. E meus amigos? — Algo no seu sorriso me faz ter noção do que está por vir.

— Que amigos? — Ela pergunta me fazendo ficar quieta. Vendo que não vou respondê-la, ela continua: — Às seis da manhã quero você pronta. — Ela sai do quarto sem mais nenhuma palavra.

Eu odeio ela.

𝘠𝘰𝘶𝘳 𝘌𝘺𝘦𝘴 - Ellie Williams Onde histórias criam vida. Descubra agora