A lua estava mais distante, no horizonte se preparava para descansar. Era alta madrugada quando finalmente os corpos se separaram.
Naquela noite tudo era permitido. Com o raiar do dia, os amantes não saberiam qual seria seu destino. Por isso, Tieta permitiu que Ricardo amanhecesse o dia ao seu lado, no quarto que um dia foi sonhado para os dois. Acharam melhor deixar a janela aberta, para serem acordados com os primeiros raios de sol.
A manhã se anunciou, os corpos mesmo exaustos de tanto amor e saudade, uniram-se novamente. Amaram-se com a luz da manhã e ao som das ondas do mar. Estas quebravam num ritmo tenso e intenso, como a música que todos, no seu íntimo, ouviram na noite anterior. Uma canção tão forte que cada acorde vibrava os nervos, aquecia o sangue e fazia corrê-lo mais rápido.
Um pescador que passava comentou:
PESCADOR: __ O mar hoje está agitado, mas não parece revolta, parece que Iemanjá está dando uma festança!
Quando os corpos se afastaram outra vez, o mar era só calmaria. A canção agora ia longe, fazendo coro distante para a despedida do casal.
TIETA: __ Agora você precisa ir embora.
RICARDO: __ E a gente como fica? Como vai ser depois?
TIETA: __ Continua o mesmo cabrito desarvorado de antes. Não pensa no que pode acontecer depois. O que importa é aqui, agora...
Quando saíram do quarto Cora já havia preparado o café, a mesa estava posta.
TIETA: __ Bom dia, Cora! Pra que tanta comida? "Tô sem fome nenhuma !"
CORA:__ Por isso mesmo, achei melhor fazer um bolo e trazer pão da cidade. Olhando para Ricardo diz:
CORA:__ Encontrei Aracy comprando pão. Ela disse que sua mulher estava preocupada com o senhor, achando que tinha dormido na prefeitura.
TIETA: __ Cardo ficou me fazendo companhia, ficamos conversando, quando nos demos conta, era tarde demais. Não tinha como atravessar o rio.
RICARDO: __ A lua estava tão bonita, que perdi a noção do tempo. Quando dei por mim era madrugada.
Antes de ir para a prefeitura, Ricardo passou em casa para tomar um banho e dar uma satisfação à Imaculada. Não queria encontra-la depois daquela noite, mas era inevitável.
Muito aborrecida Imaculada o esperava. Não desfez a birra depois da explicação do marido.
RICARDO: __ Fazia muito tempo que eu não via Tieta, você sabe do afeto que tenho por ela, toda gratidão que sinto. Tu bem sabe se não fosse ela, eu não seria prefeito, Ascânio jamais seria deputado e Santana do Agreste estaria acabada. Nunca mais se reergueria da areia. Mesmo longe, foi ela quem levantou essa cidade, ajudando com dinheiro e prestígio entre os políticos.
IMACULADA: __ Então, quer dizer que agora, enquanto sua tia estiver na cidade, ao invés de passar as noites na prefeitura, o senhor vai passar as noites na praia?
RICARDO: __ Eu fiquei admirando a lua, perdi a noção do tempo.
IMACULADA: __ Eu vou cuidar da minha vida. Vou para Buraco Fundo. É dia de "contação de histórias ". Se quiser ver os seus filhos, almoce em casa! Porque depois Aracy vai levá-los para a ONG. Eles adoram ouvir histórias, participar das rodas de conversa.
"Seria tão bom se Imaculada fosse abduzida e não voltasse nunca mais. De repente ficasse com ódio dele e decidisse ir embora." Esses pensamentos passavam pela cabeça de Ricardo enquanto tentava descansar. Mandou avisar Dona Aída, sua vice-prefeita, para assumir as funções na prefeitura aquele dia.
A imagem de Tieta se misturava a dos filhos. Agora era diferente! Tinha dois filhos. Mas se Imaculada fosse embora, Tieta podia assumir Ricardinho e Thiago como se fossem seus. Tieta era boa, generosa e não deixaria os sobrinhos desamparados.
Ao mesmo tempo lembrava que não sabia se a tia tinha voltado de vez, ou apenas a passeio. Será que os dois teriam novo encontro?
Mesmo cansado, Ricardo almoçou com as crianças.
Quando Aracy saía para buscar os meninos na escola, Tieta chegava à casa que fora de Perpétua.
TIETA: __ Eu vim falar com Imaculada, ver as crianças.
ARACY: __ Eu vou agora buscar os meninos na escola e levá-los para Buraco Fundo. Hoje é dia de Imaculada contar histórias para a criançada. Mas Cardo está aí. Pode entrar D. Tieta.Nair Gevezier 06/07/2018.
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Da época que fui feliz
FanfictionDa época que fui feliz é uma fanfi, uma história criada a partir do romance de Ricardo e Tieta. Ricardo infeliz no seu casamento com Imaculada, pensa cada vez mais em Tieta, seu grande amor. Preocupada com o sobrinho e eterno amor, volta para o Agre...