Toda noite era a mesma coisa. Inventava algum projeto para analisar, o qual não se concretizava nunca, e cada dia saia mais tarde da prefeitura.
Em casa a esposa Imaculada reclamava:
IMACULADA: _ Essa semana você não deu se quer "boa noite! " às crianças. Elas até tentam, mas não aguentam esperar por você. Aliás nem eu. Jantei sozinha de novo. Se quiser tem um prato no forno.
Aquela noite sem se dar conta, Ricardo tinha entrado madrugada a dentro, depois de passar horas absorto diante de papéis que nada queriam dizer. Resolveu fechar a prefeitura e ir para casa. Antes de sair entrou na sala onde outrora funcionara o escritório da Brastânio, a sala do telefone. Seguindo um impulso ligou para um número de São Paulo, número que sabia de cor, de tanto olhar para o cartão e não ter coragem de ligar.
TIETA:__ Alô!
RICARDO: __Tieta?
TIETA:_ Cardo? (Pausa) aconteceu alguma coisa? Tu me ligando uma hora dessas!
RICARDO: __Desculpa! Eu estava saindo da prefeitura, passei pelo telefone, e me deu uma vontade danada de ligar pra ti.
TIETA:__ Na prefeitura, até essa hora?
RICARDO: __Eu estava estudando um projeto e perdi a noção do tempo.
TIETA: __E Imaculada e as crianças, como estão?
RICARDO:__ Bem.
TIETA: __Fico feliz em escutar sua voz. Sinal que você não esqueceu sua tia.
RICARDO __Eu jamais vou te esquecer.
TIETA: __ É melhor tu ir pra casa agora, tua mulher deve está preocupada.
RICARDO: __Boa noite!
TIETA: __Boa noite!
Em São Paulo Tieta percebeu que alguma coisa acontecia ao sobrinho. Ela o conhecia bem demais para saber que havia algo de errado. Querendo ou não, aquele cabrito fazia parte dela, de um jeito, ou de outro estaca marcado em sua vida para sempre.
Depois do casamento do irmão caçula, Ricardo mudou-se com Imaculada para o casarão de Perpétua. Porém, se recusou a ficar no quarto que fora de sua mãe.
Aquele cômodo era uma espécie de "quarto proibido ", onde só ele entrava e Aracy, para fazer a limpeza, sem retirar nada do lugar.
Na casa onde Tieta passou seus últimos dias no Agreste, tinha conseguido alguns objetos pessoais deixados pela tia. Um resto de perfume num vidro, um lenço de seda, um robe, aquele robe que tantas vezes o fez ajoelhar no milho.
Imaculada dormia, aproveitou para entrar no "santuário de Tieta", aquele quarto onde tinha aprendido tantas coisas. Naquela cama descobriu os prazeres do sexo, as delícias do amor, o sabor de uma reconciliação após uma briga temperada por ciúmes.
Na manhã seguinte Imaculada disse que sentiu sua falta durante à noite.
IMACULADA: __Dessa forma fica difícil manter um casamento. Você mal aparece em casa, e quando vem chega tarde, dorme em outro quarto.
RICARDO: __Não queria lhe incomodar. Perdi a noção do tempo, cheguei tarde demais e achei melhor dormir no outro quarto.
IMACULADA: __Aquele quarto, onde ninguém entra?
A discussão foi interrompida por um barulho estranho, um barulho que cada vez se aproximava mais. Aracy veio correndo contar a novidade.
ARACY: __Gente, tá pousando um helicóptero na cidade.
Saíram todos para ver do que se tratava, ao terminar seu pouso a aeronave se abre, o piloto desce, em seguida um par de sapatos vermelhos aparecem sustentando uma dama igualmente vestida.
Ricardo não precisava ver o rosto da tal mulher para saber de quem se tratava.
Sim era ela: sua primeira e única grande paixão, seu amor eterno, sua outra metade que voltava.
Preocupada com o telefonema fora de hora e sem propósito de Ricardo, Tieta resolveu voltar ao Agreste, e sua chegada não podia ser diferente. Tinha que ser em grande estilo.Nair Gevezier 03/06/2018.
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Da época que fui feliz
FanficDa época que fui feliz é uma fanfi, uma história criada a partir do romance de Ricardo e Tieta. Ricardo infeliz no seu casamento com Imaculada, pensa cada vez mais em Tieta, seu grande amor. Preocupada com o sobrinho e eterno amor, volta para o Agre...