10 - Dia Perfeito

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APOLO

Era como despertar para um mundo novo, uma vida nova.

Após o jantar eu fui para o meu quarto e era tão novo e estranho chamar aquele de "meu quarto", coisa que eu me acostumaria rapidamente, devo admitir, mas naquele instante era tudo tão novo que me peguei olhando para tudo, absolutamente perdido. Eu tinha ali tudo que eu sempre sonhei.

Parei ao lado da mesa de estudos, me sentando ali, mexendo nos lápis e canetas, olhando cada caderno até que encontrei algo que me pareceu divertido. Um bloco de rascunhos e material para desenho. Uma lapiseira muito boa e borracha de vinil. Peguei aquele bloco e me joguei na cama, apoiando as costas na cabeceira e colocando o caderno sobre as minhas pernas enquanto pegava o celular que ele tinha deixado comigo. A galeria tinha fotos que acho que ele não se lembrou quando me entregou, mas que revelavam uma pessoa que me dava vontade de conhecer. Tinha algumas fotos dele em um parque, uma selfie com seus cachorros e também em um grande casarão nas montanhas. Além de fotos que pareciam ser um hobby porque ele fotografava o dia a dia, pessoas, cenários, flores, animais.

Eu escolhi uma que eu gostava muito e que me acompanhou naqueles dias em que estive na casa de Meg. Uma selfie dele no parque, com os cabelos ondulados e longos presos em um rabo de cavalo, fones de ouvido, roupa de corrida e a pista com o pôr do sol atrás. Por um momento eu fechei os olhos e quase consegui estar naquele dia, então decidi que iria desenhar aquilo.

Fazia tanto tempo que não tinha vontade de desenhar nada, porque meu pai me tirava toda a vontade de fazer qualquer coisa agradável, além de me usar como algum tipo de troféu para exibir para os amigos, me chamando para dizer. - Você precisa ver o talento dele filho... Por que não mostra seus desenhos?... - Ou. - Por que não faz um desenho dele? Se exibe um pouco pro seu pai.

Então aos poucos eu perdi a vontade de desenhar, mas ali... Eu juro que nem vi o tempo passar, não era para ser nada grandioso, apenas um desenho à grafite com hachuras, mas quando percebi as horas já tinham passado e o sol entrava pela janela, meu quarto era completamente voltado para o leste. Eu estava com sono e me pareceu uma boa ideia só deixar o desenho ali e me enrolar e dormir. Era tão calmo, tão confortável.

Queria dizer que aquele sono tinha sido alegre e sem sonhos, mas infelizmente não tive tanta sorte, porque nele eu estava em um quarto escuro, eu sentia todo o meu corpo doer e via meu pai ali, apenas nas sombras, sentado em uma cadeira, me olhando e seus olhos brilhavam como olhos de gato. Então a voz dele soou em meu ouvido. - Você achou que poderia fugir? Eu vou te ensinar uma lição e você vai aprender a nunca mais me desafiar. - Aquela última frase eu já tinha ouvido tantas vezes e não em sonhos, mas sempre quando ele entrava no meu quarto de noite, após eu ter feito algo que o desagradava, como levantar a voz no jantar, ou levar um amigo da escola para casa.

Aos poucos eu passei a não ter nenhum amigo simplesmente por medo de que eles descobrissem ou que ele me punisse novamente.

Aquele sonho trazia tantas coisas com ele e eu estava tão desesperado que, quando senti aquele toque no meu ombro e acordei, eu acordei gritando. - Não!!! Por favor pai!!! Não encosta em mim!!! - Me encolhendo completamente encostado à cabeceira enquanto olhava para meu tio que nem mesmo se movera. Ele estava ali, sentado na beirada da cama, com aquele ar de preocupado e eu tremia. Levou um tempo para eu perceber que ele não era meu pai porque, por mais que não fossem idênticos e nem mesmo usassem a mesma aparência, ainda assim tinham muitas semelhanças por serem gêmeos.

Eu estava chorando e me balançando para frente e para trás, murmurando para ele não me machucar, quando ouvi sua voz preocupada. - Você está seguro, Apolo. Eu não sou o seu pai... - E aos poucos eu comecei a voltar a mim. - Respira comigo. - Disse, me fazendo acompanhar sua respiração e assim eu comecei a me acalmar. -Eu vou encostar em você, tudo bem? - Ele perguntou, esperando que eu balançasse a cabeça e então ele tocou no meu ombro e quando eu senti o perfume dele eu consegui realizar que não era mesmo meu pai e não consegui evitar de me jogar ali e chorar no ombro dele, sentindo meu tio me abraçar de um jeito protetor, beijando minha cabeça como já tinha feito antes, fazendo um leve moimento como que de ninar que ajudou a me acalmar.

Hades (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora