Preto, Laranja e Verde

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Pela primeira vez, Bakugo achou que seu primeiro ano seria o último de sua vida, mas por algum milagre do além, ali estava ele, no terceiro ano e mais vivo do que poderia sentir.

Após os eventos traumáticos que foi há um ano e meio, ele definitivamente precisava de um novo hobby. Um hobby que fosse mais tranquilo, apenas para se distrair e que coubesse em qualquer situação, em momentos que estava treinando, tocando bateria, estudando, cozinhando para aquele bando de idiotas que chama de amigos, andando tranquilo pela Yuuei ou deitado observando o teto de seu quarto.

E foi assim que ele encontrou a fotografia.

No segundo ano do ensino médio, Bakugo tirava foto apenas da natureza e natureza morta. Tudo ao seu redor parecia diferente, tudo parecia parte de uma bela fotografia, até mesmo as mais melancólicas, como suas fotos cinzentas, que eram geralmente acompanhadas de um dia de chuva a tarde ou um céu cinzento ao anoitecer.

Aos poucos, as fotos vermelhas entraram em seu portfólio, mas que só ele tinha acesso. Eram suas fotos em momentos que tentava controlar sua raiva. As flores vermelhas, morangos, o céu bonito da tarde que lhe lembrava mais a chegada de algum apocalipse do que um entardecer comum e os tênis de Deku. E esse último estava lá mais do que gostaria. 

No entanto, como poderia evitar se sempre que estava tão enfurecido o seu amigo de infância lhe acompanhava?

Ainda que não fosse culpa dele, o temperamento explosivo de Katsuki somado as coisas idiotas que seus amigos lhe falavam o deixava puto. Sorte que ele sempre tinha vermelho por perto.

Não que ele catalogasse as fotos por cores, mas ele tinhas as suas favoritas.

Apesar de amador, tem uma foto que considera uma das suas mais bonitas. Foi tirada no final do ano passado. Estavam estudando no terraço enquanto, de relance, observava Deku deitado no parapeito, alegando que ali estava mais fresco. A brisa vinha fresca e suave balançando seus cabelos verdes e enrolados.

- Kacchan, o que acha de Katsudon pro almoço?

Os olhos verdes que antes prestavam completa atenção no caderninho branco com vários rabiscos e anotações, agora detinha total atenção em si. Ele piscou várias vezes e sorriu tentando parecer o mais adorável o possível para que kacchan aceitasse seu pedido.

- Se você terminar essa merda antes do meio-dia, eu até posso pensar, nerd!

Izuku abriu um sorriso de orelha a orelha e ajeitou-se rapidamente para terminar o quanto antes.

O pensamento intrusivo dizendo que faria mesmo se Deku não conseguisse terminar, o pegou desprevenido, lhe deixando um tanto confuso. 

Contudo, mal teve tempo de pensar sobre isso, pois tão rápido que esse pensamento lhe veio, ele se foi com a chegada de um novo elemento em sua visão: uma borboleta, mais especificamente uma monarca, pousou sutilmente na cabeleira verde que nem notou sua chegada.

Discretamente pegou seu telefone e capturou o momento.

Nesse dia, ele custou a admitir, mas foi a primeira vez que teve vontade de tirar foto de algum ser vivo. 

E que preto, laranja e verde sejam suas cores favoritas.

Agora, ele achava estupidamente estranho o fato de Deku ser tão fotogênico, nenhuma de suas fotos o deixava feio.

Entrou em seu notebook e rolou as milhares de fotos que tirou, sua maioria em escalas de cinza, vermelho e, aos montes, as verdes.

Tinham tantas fotos verdes, e não se orgulhava disso, mas o conteúdo delas não eram plantas.

Analisou uma que tirou, enquanto Deku dormia serenamente no sofá da sala comum dos dormitórios. Já era tarde e acordara no meio da noite e, sem o que fazer, foi andar pela casa acabando por encontrar o menino dormindo de forma desleixada no sofá.

E mesmo assim, lhe parecia encantador.

Aproximou-se e tirou uma foto.

- Bastardo de merda, não tem um ângulo que te deixa feio.

Ele sentou-se ali mesmo no chão e adormeceu com a cabeça encostada na região da costela de Deku, e no final, ambos acordaram doloridos.

Saiu dessa pasta e começou a olhar fotos deles pequenos, com certeza tinha alguma coisa ali, aliás, nem sabia porque estava tão desesperado para encontrar uma foto feia do brócolis.

Quando pequeno, ele era de certa forma fofo, as bochechas grandes e o sorriso tão grande quanto. No fundamental, apesar de magro e desajeitado, ele com certeza não era feio, como que dizia isto a ele? Quer dizer, Bakugo já fizera tantas atrocidades com o menino que o chamar de feio era o menos pior.

E aí está! A culpa o remoendo mais uma vez. Não importa quantas vezes Deku dizia que estava tudo bem, que tinha o perdoado, pois toda vez que se lembrava que foi um lixo para seu melhor amigo, tinha vontade de se esmurrar. Izuku era forte, disso ele sempre soube, mas aguentar isso, superar e ter espaço para perdoá-lo? Definitivamente, Deku merecia o primeiro lugar tanto quanto ele.

Bakugo saiu da escrivaninha e olhou janela a fora e viu ele, treinando como se não houvesse amanhã para ser o melhor. Mesmo ele já sendo o melhor.

Com um nó na garganta, levantou o celular e mirou em sua direção: O cabelo bem cortado nas laterais, com o volume bagunçado e bonito na parte de cima meio grudado em sua testa pelo suor. Ele observou-o fazendo alguns golpes, enquanto ofegava pelo treino intenso, mesmo que só.

Deu alguns cliques na câmera e então o viu parar de se movimentar, indo pegar a garrafinha de água ao lado da árvore.

E só então notou o quão diferente Deku estava. Não o olhando como uma das suas fotografias, mas como uma arte ao vivo que não estava apreciando tanto quanto deveria.

Ele tinha um sorriso bonito e o corte de cabelo definitivamente lhe favorecia bastante, seu rosto estava menos arredondado e mais marcado, mas seus olhos continuavam vívidos e intensos como sempre, como se pudessem ler até sua alma caso trocassem olhares, além das sardas que adornavam não só seu rosto, mas todo seu corpo.

Apesar do corpo grande e aparência um pouco mais madura, ele continuava tão mole quanto manteiga e qualquer ato atípico de Katsuki o deixava travado ou sem jeito. Claro, não estava acostumado com o loiro tão manso, lhe acariciando os cabelos ou o elogiando por seus feitos.

Droga, Katsuki podia sentir o sangue subir para suas bochechas. E como ele se odiava por sentir essas sensações tão formigantes e gentis ao, apenas, mencionar Izuku em sua cabeça. Suspirou extasiado e largou seu telefone em um tripé, gravando toda a área que Deku treinava.

Se jogou da janela, amaciando a queda com suas explosões.

- Duelo agora, Deku!

Gritou desafiante para o outro que sorriu pelo chamado.

Correu em direção a Bakugo se preparando para atacar, pulou indo pra cima dele, mas interrompeu o ataque assim que percebeu que Bakugo não havia se movido, mas tinha um sorriso presunçoso.

Ele pousou muito perto de Bakugo, quase se desequilibrando. O loiro aproveitou e sumiu com o que restava de espaço pessoal puxando Deku firmemente pela cintura e deu um selar em seus lábios que agora estava aberta em descrença.

Bakugo puxou Deku na nuca para um abraço firme que se prolongou por alguns instantes. Izuku mesmo que perdido, retribuiu o abraço e afundou seu nariz no pescoço de Kacchan, inalando o cheiro doce de caramelo que tanto lhe agradava.

- Kacchan, eu tô todo suado.

Advertiu-o, apesar de que não queria sair dali por nada.

- Cala a boca, nerd.

Izuku se afastou minimamente, apenas para ver o rosto envergonhado de Kacchan, então lhe roubou um selar também.

- Eu também gosto de você, Kacchan.

Izuku definitivamente era sua fotografia favorita.






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⏰ Última atualização: Feb 09 ⏰

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