002

1 4 0
                                    


A CRIATURA mágica tinha quase cem por cento de certeza que não veria mais o homem que a salvou, porém, como sempre foi esperançosa, acreditava no um por cento que restava sem nem saber o nome dele.
Na verdade, ela não sabia nada sobre o mesmo, só conhecia um pouco de sua arrogância, ingratidão e o espírito heroico que nele habitava

— por que me chamou papai? — a fada questionou um pouco decepcionada por ter de largar o homem que acabará de conhecer

— parece desanimada, o que aconteceu? — o homem disse observando o semblante da filha

— nada demais, apenas um dia cansativo! — respondeu evitando mais perguntas — por que me chamou?

— você é jovem, sábia, encantadora! Por que não dá uma chance a alguém que tem as mesmas características e inteligência que você? — sorriu

— o que quer dizer com isso, papai?

— dominic parece bem interessante…— sugeriu o pai levantando os ombros

— não para mim, sabe que não saio a procura de alguém para mim, sabe que ele não é para mim — disse desconfiada

— e por que não, minha querida? Ele é igual a você!

— pai, já vai começar com essa história de “Ele é igual a você”? Eu não gosto dele, e não quero saber se ele pensa como eu, age como eu ou até respira da mesma forma que eu respiro! Não irei ficar ao lado de alguém pelo resto da minha vida sem sentir um sentimento de amor e afeto pela pessoa, e felizmente eu não sinto nada por Dominic

Safira disparou saindo do campo de vista de seu pai

Dominic não era um homem mau, era apenas orgulhoso de mais, arrogante de mais, ingrato de mais e… tudo bem, ele era um péssimo homem aos olhos de Safira.
Ao contrário dela, ele enxergava beleza e as melhores coisas em Safira River, assim como todas as outras criaturas.

Duas noites se passaram, pessoas comuns, criaturas (a)normais facilmente esqueceriam do ocorrido entre dois seres diferentes.
Mas isso não aconteceu com Safira e o humano desconhecido e quase ingrato (da forma que a fada o nomeou)

Sentada a beira do rio, olhando o movimento da água e dos seres que por ali brilhavam, sozinha e no silêncio da noite, Safira estava presa em seus pensamentos, tantas coisas a cercavam.

Estava tão perdida que não percebeu quando alguém se juntou a ela a beira do rio

— Safira, certo? — a voz masculina questionou a causando um espanto enorme

— o que faz aqui? Disse que seria um grande problema se alguém visse dois seres diferentes tendo contato! — a criatura exclamou assustada

— perdoe-me, não queria te assustar! Eu disse isso mas precisava vê-la novamente

— me ver? — perguntou ainda assustada

— exatamente, creio que a imagem que você teve de minha pessoa na primeira vez que nos vemos não foi tão agradável, quero te mostrar que não sou ingrato e arrogante como pensa — sorriu

— não podemos ser vistos aqui, venha — a fada disse puxando o guerreiro para longe da beira do rio
Era tarde da noite, todos dormiam em seus aposentos, haviam apenas os dois em meio tantas árvores, tantos lugares mágicos e silenciosos

A fada o levou até uma árvore mágica e brilhante, as luzes eram azuis, como uma safira, e como a fada.

— eu nem sei seu nome — a fada sussurrou se encostando na árvore

— por que está sussurrando? — o homem se sentou na grama

— acho que você não percebeu, mas está de madrugada, a floresta toda dorme! — sussurrou

— este foi o melhor horário que achei para vir aqui — levantou os ombros

— péssimo! Diga seu nome!

— Ethan, já que deseja tanto saber

— assim como você quis saber o meu há duas noites atrás — sorriu

— não me lembro disso! — mentiu

— disse que precisava saber o nome da criatura que salvou sua vida…— Safira fez questão de o lembrar

— tenho certeza absoluta que isso não aconteceu — o homem, cujo o nome era Ethan Moretti, riu de forma irônica

— para com isso, tenho certeza que em algum lugar debaixo dessa armadura há um pouco de gratidão e bondade! — a fada disse encostando em sua armadura de ferro e causando uma leve queimadura no dedo

— ferro queima as fadas, não é? Não deveria ter vindo com isso — ethan falou preocupado tirando sua armadura

— não se preocupe, não foi algo tão horrendo assim — tentou esconder a dor que sentia

Ethan tirou a armadura pesada e a deixou de lado junto de sua espada e tudo que havia em seu corpo que poderia ferir Safira

— não vai sentir frio? — Safira perguntou vendo o homem ficar sem proteção em seu peitoral que era coberto por tatuagens e cicatrizes

— já passei por coisa pior do que um leve vento — sorriu vendo a criatura observar as pinturas que estampavam sem corpo bronzeado

— la vita imita l’arte — safira repetiu a frase que estava tatuada acima do peito do guerreiro — quais são os significados das tatuagens?

— são muitas, acho que não temos tanto tempo para explicar cada uma delas — ethan sussurrou

— então não enrole, diga logo — safira sorriu se aproximando do homem a sua frente prestando atenção em suas palavras

— essa significa minha família — apontou para o pescoço — essa relata cada acontecimento da minha infância

— e essa? — Safira tocou na tatuagens de um coração e uma espada quebrada o causando arrepios

— a promessa de que vou fazer o possível e impossível para a pessoa que eu amar

— e você ama alguém? — perguntou atenta

— acho que nunca amei — o homem respirou fundo mudando de assunto — você tinha razão, acho que estou com frio — disse juntando as mãos

— eu posso te esquentar — safira o abraçou

— e pensei que você fosse a fada da água — riu

— você não é tão inteligente como pensei, meu corpo diferente do seu, está quente, eu posso te aquecer dessa forma

— não precisa me humilhar desse jeito — murmurou sentindo o abraço da criatura que brilhava ainda mais sob a luz azul da árvore

— não vou te humilhar se você aprender a ter inteligência — safira sorriu

Encantos & Espadas Onde histórias criam vida. Descubra agora