Capítulo | 04

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(Esse capítulo está um pouquinho maior do que os outros, e por isso eu demorei um pouco mais pra aparecer por aqui. Eu espero que gostem, e que não fiquem chateados comigo. Boa leitura meus lindos!)

|LALISA MANOBAN|

Minhas pernas pendiam e balançavam distraidamente do lado de fora da janela, vez ou outra se chocando na parede de pedras, meus cabelos voavam incansavelmente toda vez que uma maresia forte batia contra meu rosto, espalhando calafrios pelo meu corpo e fazendo minha blusa branca de manga longa dançar em meu torço. Com meu pescoço livre e despido eu conseguia sentir o material gelado envolta dele, e distraidamente levei a mão até lá.

Eu tenho lembranças vagas dos meus pais, muito vagas. As únicas coisas que são frescas em minha memória são os dois dançando juntos uma canção antiga, sendo iluminados por poucos candeeiros, e apenas seus passos e suas vozes eram audíveis naquele pequeno cômodo, tudo isso afim de me arrancar uma risada, pois eu havia caído do cavalo, e por eu ser muito pequena doeu mais do que deveria. Eu lembro da mulher de cabelos louros avermelhados, com algumas mechas laterais presas, deixando apenas alguns fios ondulados em seu rosto. Ela vestia calças e botas, como os rapazes, e eu me lembro bem de achá-la especial por ser diferente das outras mulheres. O rapaz que acompanhava ela era um pouco mais alto, tinha ombros largos, braços fortes e cabelos negros, ondulados e negros. Suas vestimentas não eram muito diferente da mulher, a única coisa que não era semelhante entre os dois era a espada pendendo do lado esquerdo da sua cintura. Eu lembro de ele ter uma risada contagiante, extremamente contagiante. Eu lembro de eles movimentarem seus corpos em uma perfeita sintonia, uma sintonia e uma harmonia que era lindo de assistir, eles sentiam tanto amor um pelo outro que era capaz de fazer você amar eles apenas pelo fato de eles se amarem.

E eu os amava muito.

Tudo que eu tenho de lembrança deles é isso, a única memória que levo comigo é desse dia em específico. Infelizmente eu vou ser sempre incapaz de detalhar os traços dos dois, pois eu não me lembro, me lembro de absolutamente nenhum detalhe e isso me preenche com uma porção de sentimentos negativos toda vez que paro pra refletir sobre o assunto. Tudo que vejo nas lembranças são enormes borrões em seus rostos, como se minha cabeça tivesse excluído qualquer vestígios dos traços de ambos propositalmente e sempre que tento lembrar de algo a mais, é como andar em uma enorme caixa preta. Por mais que eu corra, chore ou grite, sempre estará tudo vazio, um completo silêncio, um silêncio que me preenche de fúria e frustramento.

No meu aniversário de doze anos meu avô me deu um colar, feito por ele mesmo, mas a muito tempo atrás. O colar era de cobre banhado a prata, e tinha um pequeno pingente com uma joia vermelha e cintilante cravejada, com alguns detalhes em volta. Cheguei a questionar meu avô se aquilo seria um Rubi, mas ele negou e disse que era uma pedra qualquer que havia conseguido com uma velha amiga. Porém, eu preferi continuar acreditando que era um Rubi, era muito lindo pra não ser. Meu velhinho disse que o colar pertencia a minha mãe, que ela nunca o tirava, era como se fosse uma parte dela. Eu estranhei, pois eu não me lembrava de ter uma pedra tão bonita pendendo em seu torço. Mas sinceramente, nem de seu rosto eu lembrava, digamos que minhas memórias não são muito confiáveis.

Eu não havia percebido, mas a palma da minha mão estava sangrando, devido a força que eu apertava o pingente. O líquido vermelho deslizava estre meus dedos e trilhava caminho pelo meu antebraço, mas naquele momento eu não me importei, em vez disso eu o envolvi com mais força, sentindo o material perfurar mais ainda minha mão quente e suada. Desde que coloquei o colar, nunca mais o tirei, se era uma parte da minha mãe, seria uma parte minha também, e apertar aquele pingente com força, fazia eu me sentir minimamente forte. Fazia eu sentir ela minimamente comigo.

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⏰ Última atualização: Feb 08 ⏰

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