El Diablo

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Minha mãe costumava pagar aulas de balé para mim quando eu era criança. Sempre que ela convidava alguém para ir até nossa casa, fazia parte da noite ela mostrar os álbuns com fotos de minhas apresentações de balé. Constrangedor? Um pouco. Mas para o azar de minha mãe, eu percebi que não gostava de balé, porém, para a felicidade dela, eu descobri que amava dança! Quando eu estava dançando e quando a música dopava minha audição, era como se nada mais existisse, como se nada mais importasse. Esse amor era tão real, que durante um tempo realmente acreditei que queria trabalhar com isso, bom, isso até o fatídico dia em que minha mãe me deu minha primeira máquina de costurar e desde que assisti "De repente 30". Dança permaneceu como um hobby, no entanto, com o passar do tempo tornou-se uma forma de desestressar...Pois é, alguns lutam box, outros fazem academia e eu faço aulas de dança. Agradeça o meu chefe por isso.
Após a música "Like That by Doja Cat" chegar ao final, todos começamos a aplaudir, orgulhosos de nós mesmos por termos decorado essa coreografia em tempo recorde! A professora, Enya, que estampava um sorriso em seu rosto, parecia muito satisfeita com nosso desempenho. Andei até o canto da sala onde estava minha mochila e me agachei para pegar minha garrafinha de água. Estou oficialmente morta depois dessa coreografia.
— Danica! — Ouvi Enya me chamar — Parabéns! Você foi muito bem hoje. A cada dia que se passa fico ainda mais surpresa com suas habilidades.
Ela se agachou ao meu lado.
— Obrigada — Sorri cansada — Dei o meu máximo nessa coreografia.
— Estou começando a achar que logo vamos ter que ir para coreografias mais complexas.
— Ah, não — Fiz uma careta — Não me diga isso.
— É sempre bom aprimorar sua dança — Disse rindo da minha expressão.
— Professora, Enya! — Alguém a chamou.
— Bem, vou nessa. Te vejo amanhã?
— Acho que sim.
Ela acenou e foi em direção a uma das novas alunas. Por conta de meu trabalho, nem sempre eu podia comparecer às aulas, ou seja, nunca podia dar certeza de minha presença.
Guardei minha garrafinha, peguei meu celular, pendurei minha mochila em um de meus ombros e me levantei, andei em direção a saída do studio. Preciso ir logo para casa, afinal, ainda preciso me arrumar para ir para o trabalho. Parada em frente ao studio, chamei um Uber, que felizmente não demorou muito para chegar e em poucos minutos eu já estava em frente ao meu prédio. Não pude evitar de olhar em direção ao estúdio de tatuagem logo ao lado, e para minha surpresa, ele ainda não estava aberto. Onde está a Marjorie? — Questionei mentalmente.
Sem mais delongas, adentrei o prédio e peguei o elevador até o sétimo andar. Para a minha surpresa, ou nem tanto, a porta já estava aberta, no entanto, eu nunca, nunca me esquecia de trancar a porta.
— Pelo visto tem ratos na minha cozinha...— Falei adentrando o meu apartamento e dando de cara com três meliantes na minha cozinha, como eu já suspeitava.
Com "meliantes" quero dizer: Mattheo, Vincent e Marjorie.
— Qual é, a gente precisa tomar café da manhã — Reclamou meu irmão, Matt.
— E o que você acha de fazer o seu café da manhã na sua casa? — Questionei.
— O seu fogão é melhor — Respondeu Vincent.
Ele usava uma das minhas caras frigideiras e uma espátula de silicone para fazer ovos mexidos.
— Entenda seus amigos — Marjorie fez um biquinho.
— Cara, vocês são impossíveis — Reclamei largando minha mochila na poltrona da entrada e andando até o centro da cozinha — Bom, já que vocês estão usando minhas coisas e minha cozinha, nada mais justo do que preparar algo para mim também, não é?
— Nesse caso, só pagando — Disse Mattheo e Marjorie riu.
— Engraçadinho — Reclamei puxando sua orelha e o ouvindo grunhir.
— Claro, senhorita, chefe Kingsley ao seu dispor — Anunciou Vincent.
— Quero um pão na chapa e café com leite — Pedi — Enquanto isso vou tomar banho. Não posso me atrasar para o trabalho.
— Vai lá nossa estilista favorita — Falou Marjorie.
Andei até o meu quarto, que graças aos Deuses se tratava de uma suíte, ou seja, eu tinha um banheiro todinho para mim. Tirei minhas roupas as arremessando no cesto de roupa suja. Após pegar minha toalha corri até o banheiro...Nada melhor do que um banho quente pela manhã, não é? O meu eu adolescente certamente responderia "Com certeza não! Prefiro mais dez minutinhos de sono". Lavar o meu cabelo e hidrata-lo era quase que uma terapia para mim, e nada melhor do que uma sessão fortificada de terapia para aguentar mais um dia de trabalho, em outras palavras, mais um dia com aquele demônio.
Sai do chuveiro e fui correndo até o meu guarda-roupa vestir algo decente...Uma curiosidade nada legal sobre trabalhar como estilista, é que é quase uma obrigação você se vestir bem todos os dias, e honestamente, por mais que você ame muito moda - assim como eu - tem dias que você só quer fazer um coque e ir para o trabalho de moletom.
Eu estava longe de ser aquela estilista que segue todas as tendências, óbvio que eu sempre sei o que está em alta, afinal, isso faz parte do meu trabalho, porém, eu visto o que quero mesmo que seja algo já "ultrapassado". Meus colegas de trabalho costumam dizer que eu trago uma vibe juvenil para o nosso local de trabalho, claramente uma forma carinhosa de dizer que me visto como adolescente. Existe um contraste muito grande quando você tem apenas 22 anos e a maioria dos seus colegas de trabalho tem quase 30...a pior parte é que provavelmente vão te tratar como criança e te subestimar mil vezes mais.
Saindo de meus pensamentos odiosos...Escolhi uma roupa digna de críticas de todo ateliê — vesti um romper suit de alças finas na cor preta, uma jaqueta de couro não muito grande, calcei uma New Rock modelo M-TANK 106-C2, minhas polêmicas polainas com pelos também na cor preta e algumas jóias como brincos, colares e anéis — Por sorte não sou o tipo de pessoa que se importa com críticas. Após pegar minha bolsa, sai do quarto indo até a cozinha.
— Vocês tão precisando de alguma coisa? Uma bolacha, um copo de água, uma cesta básica? — Questionei vendo meu irmão e Marjorie devorando desesperadamente os ovos mexidos.
— Eu aceito — Disse Marjorie.
— Eita, como é comediante — Matt fingiu uma risada — Faz tempo que eu não como bem.
— Muito trabalho e pouco tempo, maninho? — Perguntei sentando-me em uma das cadeiras.
— Exatamente...Só tenho tempo de chegar em casa, comer um miojo e ir dormir.
Mattheo trabalhava como veterinário, porém, na área de animais exóticos em um santuário em Montevidéu.
— Você não percebeu que ele tá fumando muito mais? — Vincent questionou servindo-me o pão na chapa e uma caneca com café com leite.
— Obrigada — Agradeci começando a comer rapidamente — Fumando mais? Mattheo! Você naturalmente já fumava muito, agora tá fumando mais ainda?
— Dã, ele tá comprando três maços de uma vez — Revelou Marjorie — E duram só dois dias.
Encarei meu irmão imediatamente, observando sua cara de frustrado...Ele nem ao menos tinha coragem de olhar nos meus olhos.
— É sério isso? — Perguntei sem receber resposta alguma.
Ao olhar para o relógio percebi que se eu não andasse logo iria me atrasar. Sem tempo para discussões agora, Danica.
Comi rapidamente as duas fatias de pão e bebi o café com leite em dois goles.
— E depois ela fala da gente — Marjorie reclamou.
— A diferença é que eu tô atrasada — Respondi batendo o caneca na mesa — Matt, eu realmente preciso ir agora...Mas saiba que vamos conversar quando eu voltar.
Me levantei deixando o prato e a caneca dentro da pia.
— E limpem essa bagunça que vocês deixaram na minha cozinha.
— Sim, senhora — Concordou Vincent.
Corri para dentro do meu banheiro e escovei meus dentes...Sai do banheiro indo em direção a porta de casa.
— Tchau, gente — Acenei para meus amigos — E tranquem a porta.
Eles acenaram de volta. Meus amigos e meu irmão realmente me faziam sentir como uma mãe. Peguei o elevador até a entrada do prédio, e como sempre, um Uber me esperava.
Faz dois anos que trabalho na Valancy, a maior empresa de moda do Uruguai. Sempre foi meu sonho trabalhar com o que gosto e ser reconhecida por isso, então essa oportunidade foi mais do que uma realização para mim, no entanto, eu não imaginava que o meu chefe seria tão horrível! Chefes quase sempre são péssimos, claro, porém, no meu caso parece ser totalmente implicância comigo...Enzo Vogrincic, apelidado carinhosamente por mim de "El Diablo", é uma pessoa muito crítica, não pensa duas vezes antes de tecer comentários sobre o trabalho dos outros, no entanto, no caso dos meus colegas de trabalho sempre é uma crítica construtiva, já no meu caso...A "crítica construtiva" sempre vem acompanhada de um caminhão de piadinhas e sarcasmo. Como uma boa novata, no começo eu abaixava a cabeça e ficava quieta, assim como todos os outros no ateliê, porém, para a infelicidade de Enzo, eu sempre fui conhecida por ter pavio curto, e não demorou muito para eu começar a enfrentá-lo! No começo achei que seria demitida ali mesmo, mas ele não fez nada, por incrível que pareça...Desde então vivemos em pé de guerra! Na verdade, acredito que para Enzo essa relação de cão e gato é divertida.
Ao chegar na empresa, adentrei o local e peguei o elevador indo direto para o andar onde ficava minha sala.
— Bom dia, Greta — Falei passando pela secretária.
— Bom dia, Senhorita Reine. O senhor Vogrincic estava te procurando, ele gostaria de te ver.
— Diga a ele que estou ocupada.
Adentrei a sala antes que Greta pudesse dizer qualquer outra coisa. Peguei meu celular, pendurando a minha bolsa e minha jaqueta no cabideiro e fui me sentar em minha mesa...Abri uma das gavetas da mesa e peguei meu sketchbook e alguns lápis. Passei a noite passada pensando em novas roupas para a nossa coleção, até sonhei com um desfile! Deixei minha mão deslizar sobre a folha e comecei a fazer os desenhos das roupas. Sou extremamente dedicada em meu trabalho, afinal, eu trabalho com o que gosto, portanto, essa "dedicação" é mais natural do que se imagina.
De repente ouvi alguém bater na porta de minha sala três vezes, antes que eu pudesse responder, a porta foi aberta sem mais e nem menos. Antes mesmo de levantar meu olhar, eu já sabia de quem se tratava — El Diablo — com seus simplórios 1,80, cabelos castanhos rebeldes, seus hipnotizantes olhos castanhos, com sua camisa azul com as mangas puxadas mostrando suas mãos e braços com veias marcadas. Alucinante, não é? Parece até um pecado chamar um homem desses de Diabo, mas não se esqueça que Lúcifer era o mais lindo dentre todos os anjos.
— Normalmente se espera a pessoa dizer "Pode entrar" — Pontuei fechando meu sketchbook.
— Normalmente se obedece as ordens do seu chefe e vai vê-lo — Retrucou.
Trocamos um olhar desafiador, como sempre.
— Eu estou ocupada — Respondi — Eu iria depois.
— Mas eu não queria te ver depois — Disse apoiando as mãos em minha mesa e me encarando — Eu queria te ver agora. E ocupada com o que exatamente? Até onde sei, você deveria estar no ateliê trabalhando na nova coleção.
— Presunçoso como sempre, não é? — Forcei um sorriso — Eu já terminei os meus projetos e estou ocupada formulando outros.
— Ah, é? Só acredito vendo.
— Pois então você vai ver — Afirmei me levantando.
— Adoraria! Ou a vossa majestade está muito ocupada agora? — Questionou sorrindo de forma debochada.
Assim que sai de trás da minha mesa, os olhos de Enzo caíram sobre minhas polainas.
— Danica, não se desespere...Mas tem dois guaxinins nos seus pés — Ele forçou uma expressão de medo.
— Nossa! Como você é engraçadinho em! E essa gola? Pegou alguma funcionária na sua sala e esqueceu de arrumar a camisa? — Questionei enquanto saia da sala.
Obviamente ele me seguiu.
— Olha, talvez seja comum para você fazer seu
escritório de motel...Mas lembre-se de não generalizar — Disse em alto e bom som enquanto passávamos na porta dos outros escritórios e na frente da mesa das secretarias.
Ele sabia que aquilo me deixaria constrangida e ele amava me ver sem jeito.
— Enzo! — Chamei sua atenção o encarando.
Ele me lançou um sorriso de satisfação. Paramos em frente ao elevador, apertei o botão e enquanto esperávamos, ele começou:
— Seja lá o que você fez, se for minimamente parecido com esses guaxinins no seu pé, eu prefiro não ver.
— Quem diria que o diretor criativo de uma empresa de moda entenderia tão pouco de moda — Suspirei balançando a cabeça negativamente, fingindo decepção — Para sua infelicidade, os "guaxinins" vão ficar para a coleção de inverno.
Finalmente, o elevador chegou e assim que as portas metálicas se abriram, nós adentramos o mesmo e eu apertei o botão do nono andar.
— A coleção de inverno está oficialmente cancelada — Anunciou ele.
— Imagina se deixássemos a coleção de inverno em suas mãos...que coisas horríveis sairiam.
Tem certeza disso? — Ele me olhou de forma desafiadora.
As portas do elevador se abriram, porém, nós permanecemos ali nos encarando.
Absoluta — Respondi olhando no fundo dos seus olhos e logo em seguida me retirei do elevador.
Adentrei o ateliê e fui direto para minha mesa, onde estavam meus projetos. Parei em frente a uma cortina ao lado de minha mesa e questionei:
— Preparado?
Enzo encostou-se na mesa logo à frente, colocou as mãos nos bolsos de sua calça e disse:
— Mais pronto impossível.
Puxei a cortina revelando três manequins com três vestidos diferentes. Primeiro Enzo deixou seu olhar passear pelos manequins e depois ele se aproximou para avaliar de perto...O primeiro vestido era curto e preto, com alças finas e na região dos seios o tecido era um tule com pequenas pedras pretas bordadas cobrindo os mamilos, além disso, também tinham longas luvas de veludo.
— E se essas pedras caírem? — Enzo questionou.
— Acho improvável, afinal, o material é de ótima qualidade e eu obviamente testei a durabilidade do vestido.
— Testou, é? — Ele me olhou como se duvidasse de mim.
Então seu olhar caiu sobre o segundo vestido — ele era longo e colado, sem alças e com duas fendas de cada lado das pernas, as fendas iam quase até o início da perna, tinha alguns babados e era de um tom escuro de cinza — Perto do outro esse era mais simples, porém, nada discreto.
— Posso encostar? — Perguntou Enzo.
— Claro.
Ele começou a analisar a qualidade do tecido com as pontas dos dedos. Por fim, seu olhar foi até o terceiro e último vestido, e na minha opinião, também o mais provocante — era um vestido longo, também de alças finas e com luvas longas, inteiramente feito de renda preta, ou seja, completamente transparente.
Ouvi Enzo rir soprado enquanto passava a mão por seus cabelos e admirava atentamente o vestido.
— Você aprecia muito a nudez, não é? — Ironizou — Você se esqueceu que o nome dessa coleção é Noite de Primavera?
— Não, na verdade, acho que você que se esqueceu! Os vestidos condizem perfeitamente com o tema.
— Em que tipo de noite alguém usaria um desses? Quem usaria um desses? E onde? — Questionou se virando para mim e me encarando, novamente.
Estufei o peito, levantei o rosto e respondi:
— Em uma festa ou um restaurante...sei lá! As pessoas usam onde bem quiserem!
— Quem entraria em um restaurante com um vestido desses?
— Com certeza o estilo agradará pelo menos uma parte do público.
Você usaria esse vestido?
Honestamente, fui pega de surpresa...Normalmente eu sempre me imaginava usando minhas criações, no entanto, confesso que eu nunca tinha vestido algo tão revelador como esse vestido.
— Sim, usaria — Respondi imediatamente.
Era orgulhosa demais para dar qualquer outra resposta, além disso, eu realmente achava os vestidos lindos, só não tinha certeza se teria coragem de usá-los em público.
Enzo riu soprado e passou a mão em seus cabelos. Detesto homens lindos e filhos da puta, essa combinação é a pior.
— Nós dois sabemos que isso não é verdade.
Como sempre, ele tecia comentários de mal gosto, porém, desta vez tinha um toque de desafio, como se ele quisesse saber se eu tinha coragem de fazer aquilo mesmo.
— Bom, podemos pensar sobre esses dois — Disse apontando para o primeiro e segundo vestido — Mas esse terceiro você pode aproveitar e levar para casa para usar em um restaurante. Continue trabalhando naqueles novos projetos.
Ele me lançou uma piscadela e foi em direção a saída do ateliê. Mais uma vez me senti humilhada pelo El Diablo.
— Por que você não leva esse vestido para casa? Acho que precisa mais do que eu — Retruquei.
— Eu adoraria mas acho que combina mais com você, Chiquita.
"Chiquita"?! Quem ele pensa que é?!
Antes de sair do ateliê, entre a porta de saída, ele disse:
— Ah, quase me esqueci! A festa para a nova coleção será amanhã às 08:00. De preferência, não venha.
Sorriu largo para mim, saindo logo em seguida, sem me dar chance alguma de responder seu deboche.
Meu Deus, como eu o odeio, odeio ele, odeio esse homem! Eu realmente não tinha vontade alguma de comparecer a essa festa, esses eventos costumam ser muito chatos, pois no final das contas também é trabalho. Fiquei apreensiva pensando se alguma das minhas criações entrariam para a coleção...como Enzo disse "Podemos pensar sobre esses dois", no entanto, a festa para exibir as roupas da coleção seria amanhã. Confesso que fiquei triste com o fato de o terceiro vestido não ter sido aprovado por Enzo, afinal, me dediquei muito nele.
Em meio aos meus delírios, tive uma ideia genial, quase que diabólica! Sim, eu iria para festa, e dessa vez, tomaria o lugar de Enzo Vogrincic e me tornaria o verdadeiro centro das atenções, além disso, provaria o meu ponto em relação ao vestido e faria com que ele entrasse naquela festa, Enzo querendo ou não.
Está mais do que na hora de derrubar o El Diablo de seu pódio.

El Demonio en tus ojos | 𝑬𝒏𝒛𝒐 𝑽𝒐𝒈𝒓𝒊𝒏𝒄𝒊𝒄Onde histórias criam vida. Descubra agora