Prólogo

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Antonella Chevalier

Meses atrás, Nova York.

Dizem que a cincos fazes do luto: Negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Ouvi essas palavras pela primeira vez quando era apenas uma garotinha de 8 anos frágil e indefesa chorando pela morte do pai. Quinze anos depois, ainda me sinto assim...mas não sou mais uma garotinha de oito anos.

Observo as mãos trêmulas do meu irmão ao meu lado, e as agarro fortemente em sinal de apoio. Meu coração está dilacerado, partido em pequeno pedaços que nunca poderão ser reconstruídos. Assim como o do meu irmão, seu olhar pra baixo, os olhos vidrados na janela e o silêncio que nós faz ouvir nossos próprios corações.

-Tem certeza que quer estar lá?-ouço o perguntar.

- Como não estaria,Alex? E enterro da nossa avó.

- Os jornalistas estarão lá..- ele me encara- Eles não tem fotos ou notícias suas a anos, sabe o que vai acontecer.

- Vão fazer o que sempre fazem com pessoas como nós, vão nós fotografar e depois manda pra mídia como se isso fosse a porra de um reality show.Quem foi que permitiu que aqueles abutres tivesse permissão pra estar lá?

- Nosso avô - sua explicação é simples e curta, mas o bastante pra me fazer entender.

As próximos horas se tornam uma tortura e passam numa verdadeira lentidão. Sinto os olhares na minhas costas, os flash das câmeras e os cochichos de alguns convidados. Passei anos da minha vida em completa privacidade e longe de qualquer tipo de holofotes. Não sabiam aonde eu morava, no que eu trabalhava, se eu namorava. Uma completa estranha nascida em berço de ouro.

- Nella, sua vez.

Levanto e caminho até do lado do caixão. Coloco a pequena rosa encima do mesmo e me viro olhando a multidão.

- Magnólia Chevalier, era muitas coisas: Esposa, filha, empresária, mas acima de tudo ela era minha avó. Uma mãe pra mim. Ela era forte, ambiciosa, carinhosa, leal, amorosa e tinha um coração gigante, maior do que qualquer pessoa que eu já conheci. Ela se importava com as pessoas,não ligava quanto dinheiro elas tinham, a cor ou etnia delas, nem se importa com a sexualidade. Ela se importava com o interior, com o que você carregava aqui dentro.- digo apontando para o meu próprio coração- Sinto que perdi uma parte de mim, um pedaço do meu próprio coração na qual pertencia a ela e jamais alguém poderá ocupar. Perdi minha inspiração.

Meu irmão se levanta e vem até mim. Sinto o me segurar com medo de que a qualquer instante eu possa cair, e aperta minha mão em sinal de apoio.

- Obrigada por me acolher com você e sempre terei orgulho de ser sua neta, espero conseguir te orgulhar da mesma forma que você sempre disse que eu orgulhava. Vou honrar você e seu legado, e vou transformar um mundo um lugar melhor, por você vovó. Eu nunca vou te esquecer, eu te amo vovó e queria que ainda estivesse aqui.

Termino sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, enquanto eu e o meu irmão somos fotografados como peças em exposição. Meu avô logo em seguida se junta a nós, parando do meu lado e segurando minha mão.

Naquele momento enquanto era fotografada ao lado da minha família, eu não sabia o que o futuro me aguardava. Não fazia ideia de daqui a alguns meses minha vida viraria de cabeça para baixo, como uma montanha russa em declínio. Eu iria descobrir que as pessoas que mais amamos são as primeiras a nós apunhalar pelas costas. Eu iria  descobrir da maneira mais difícil e dolorosa que a pior traição que eu poderia sofrer na vida, viria dele... alguém da minha própria família.

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