O Inferno - Reescrito

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Em queda livre, eu me encontrei em um calor que se apresentava reconfortante, agora se revela como um fogo infernal, eterno, ardente.

A minha chegada é recebida pelo pior dos ares, uma podridão notável se instaurava naquilo que seria considerado minha nova casa, e eu não podia me sentir tão indiferente em relação ao ambiente que eu me encontrava, mesmo que sem querer, eu pedi por isto.

A cima de mim, o pesar de toda minha trajetória me esmaga tão forte quanto uma prensa hidráulica, eu nunca pensei que os meus erros se transformariam em algo tão grande quanto eu, e assim que percebi, já era tarde demais.

Rastejos, arranhões e sujeira, tais pragas infernizavam a minha vida, subindo em minhas pernas em busca de qualquer comida que elas poderiam achar, suas antenas atentas para possíveis mudanças no ar, e os seus sons de regurgitamento, que nojo, elas impregnam do chão ao teto, certificando de espalhar seus ovos e restos em todos os arredores.

Já a mim, eu nunca pensei que minha própria consciência seria o que me deixaria louco, vozes que viam de um além que eu jamais poderia compreender ou acessar me deixavam e ainda deixam insano, mesmo sem nada a perder ou ganhar, elas não param de me pestanejar, entre alucinações e vultos eu me perdia na realidade, apenas voltando aos sons do que eu mais desejava, os céus.

Lá em cima, os tambores e trompetes comemoravam algo em que eu nunca sonharia de alcançar, a paz. Resultado de anos de uma determinação ardente que jamais se deixou apagar, e até mesmo na morte, não se atreve a apagar seu fogo.  Já a mim, tal fogo se apagou em uma escuridão que eu nunca pude achar a luz. Eu escutava tudo, era um som elegante e esbelto, apenas sendo distorcido pelo ambiente atual que eu me encontrava, mesmo não querendo admitir, o inferno.

Eu cai e cai, e agora só consigo escutar oque eu mais gostaria, mesmo sem poder ver, eu consigo escutar o som de almas felizes com o seu desfecho, felizes que fazem parte daquela gigantesca comemoração. A mim, vozes e vultos nunca me deixariam tão mal quanto este sofrimento, um ciclo eterno de escutar e desejar todo o bom que eu sempre lutei para conquistar, apenas para serem quebrados pela dura realidade em que eu me encontro, a minha família, eu espero que todos façam parte desta festa eterna nos céus, e a mim, que a sombra me consuma até só sobrar oque uma vez eu fui.

Esse é o preço de uma vida perturbada que eu mesmo fiz a mim, eu não tenho mais nada, eu não sou mais nada, e por mais que eu queira gritar, por mais que eu queira que alguém me veja e se importe a mim, sei que meu desejo nunca irá se concretizar, eu sou fraco para gritar..

E ninguém se importa em me achar.

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