Primeira e Última vez

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(4778 palavras)

Um homem caminha por um corredor frio e sinuoso, sem fim. Suas botas negras batem no chão metálico em um ritmo apressado, sentia que se demorasse mais um segundo a foice dessa vez acertaria em seu crânio.

DROGA de Captor.

Ele suga o ar entre os dentes, outra onda de dor se alastra pelo seu ombro direito, enfaixado e ainda um pouco ensanguentado.

Era só ter se abaixado, ele não tinha alcance na área de proteção!

Jean remói a memória daquele momento, uma situação que era determinada apenas por uma ação instintiva, uma reação a um vulto vindo em sua direção; muitos teriam tido a cabeça partida em dois naquele instante, mas ele sempre pôde se gabar pela sua destreza.

Mas dessa vez não foi suficiente.

Sua mão enluvada se direciona a um local específico na parede do corredor, pressionando seus dedos contra a superfície com força. O silêncio ensurdecedor do espaço é interrompido pelas maquinarias de uma entrada oculta se abrindo.

Lentamente, a porta revela um quarto escuro, repleto de figuras nas prateleiras e no chão, escondidas pelas sombras.

Seus olhos fitam o cômodo centímetro por centímetro, ao mesmo tempo que seus dedos pairavam sobre a sua arma. Um cubículo 4x4 pequeno, mas grande o suficiente para guardar todas as tralhas que não eram importantes para se levar para o estabelecimento principal.

Ele quase conseguia ver uma aberração no canto da parede; uma silhueta monstruosa e cadavérica com um eterno sorriso, repleto de fileiras de agulhas, brilhando como uma luminária para ele.

Porém, os dados presentes em seu visor se mantém inalterados, e para confirmar suas dúvidas, nada acontece. Ele acende a luz e entra no espaço.

A porta se fecha, o doce oxigênio se concentra na sala, dando liberdade para o homem retirar seu apertado capacete e jogá-lo no chão.

Enfim, ele podia respirar.

Até um chiado explodir da sua cintura tentando retirar qualquer pensamento racional de sua mente. Gradualmente, o som perturbador ganha sentido, formando uma única frase.

— 31, na escuta? Quem fala é o 22.

Ele alivia a força que fazia no cabo da arma. Com sua mão trêmula, pega o walkie-talkie.

— 31 aqui, o que houve, 22?

O chiado de um longo suspiro é audível, alívio. — Como você está se sentindo? A operação deu certo, 31?

Ódio borbulha em seu interior, todas as cenas voltando à tona.—Eu acabei de ter o meu braço arrancado, como você ACHA que eu tô me sentindo?

— 31, me esc-

— UM PESO! Talvez nem para ser uma ISCA. Eles nem sequer vão me ver como alvo — ele começa a andar de um lado para o outro, chutando com força o que estivesse em seu caminho — talvez eles me ignorem, talvez eles me prendam em algum lugar, ou então — uma risada sem humor sai de sua garganta — decidam me colocar na árvore.

Era como se estivesse diante daquela cena novamente. Pedaços de metais e fios decorando o chão pálido e rochoso, da mesma forma que os seus companheiros.

Apesar da escuridão eterna do espaço, em certos momentos era possível ver com clareza alguns elementos, resquícios que davam combustível o suficiente para a imaginação criar o resto da imagem.
Mas Jean podia muito bem ver que a estrutura não era feita com os restos da nave, costurados uns aos outros por espinheiros orgânicos, para formarem os galhos e "frutos" presos a cada ponta. "Frutos" esses que possuíam os visores dos capacetes quebrados, rostos congelados em um terror eterno.

Senhor RoxoOnde histórias criam vida. Descubra agora