Dores do passado

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Acordei me sentindo mais revigorada, a primeira coisa que fiz ao levantar da cama foi abrir as janelas e ir tomar uma ducha com água gelada. Jimin havia me deixado em casa ontem e me aconselhou muito em voltar a minha rotina anterior, e, principalmente, com o tratamento. Disse que me faria bem e ajudaria a afastar os pensamentos ruins.

Entretanto, a ideia de voltar à K-ballet ainda me pareceu um pouco desafiador. Vesti um vestido azul bebê levemente rodado e decidi começar meu dia com a intenção de agendar minha consulta novamente. Se completam quase três meses desde o diagnóstico, e se eu não tivesse procrastinando tanto teria começado o tratamento há uma semana.

Peguei minha bolsa e, antes de sair, olhei pela última vez para o apartamento que tinha sido meu refúgio por tanto tempo. Resolvi conferir tudo mais de uma vez para não correr nenhum risco de luz acesa ou gás ligado.

Ao chegar em frente ao hospital, minha ansiedade começou a aumentar. As lembranças das consultas anteriores e das notícias que recebi lá ainda estavam vivas em minha mente, no entanto, ao pensar na necessidade de enfrentar minha condição, respirei fundo e continuei.

A recepção estava tranquila, e logo consegui agendar uma nova consulta. A data marcada estava a apenas alguns dias de distância, e isso me deu um senso de urgência e determinação. Sabia que seria um passo difícil, mas necessário.

A recepcionista me entregou um papel para assinar e passou as informações que eu deveria saber antes da consulta, reforçou que se eu não comparecesse sem avisar outra vez ficaria difícil um encaixe e teria que entrar na fila de espera. Não consegui nem encará-la na hora, fiquei tão constrangida que nem estava conseguindo puxar a caneta que estava amarrado ao balcão, tive que usar um pouco mais de força, tanto que acabei deixando cair no chão o papel que ela me entregou

"Aish, que vergonha" pensei comigo mesma.

Levantei da cadeira onde estava sentada para ir atrás da folha que repousava aos poucos sobre o chão. Me deparei com um par de tênis branco, tão limpo que parecia papel em branco e perfume amadeirado oriental, existia apenas uma pessoa que eu conhecia que gostava desse tipo de perfume. Senti minha decepção aparecer no exato momento que encarei seu rosto. Kim Taehyung.

Levantei tão depressa que senti minha pressão vacilar por um instante e antes que conseguisse focar na pessoa a minha frente tudo estava balançando ao meu redor.

-Você está bem? - perguntou, parecia preocupado com sua testa franzida.

-Sim, estou bem, obrigada - respondi sem um pingo de carisma e voltei a me sentar.

-Qual é Sn! - puxa uma cadeira sentando ao meu lado - Até quando vai continuar com isso?

-Não sei do que está falando - tento me concentrar no que preciso assinar, ou preencher, já não sei mais o que estou fazendo.

-Será que podemos apenas ter uma conversa? - Ignoro sua pergunta - Uma conversa sincera. Eu sei que você tem muitos motivos para me odiar agora, mas me dê trinta minutos, pelo menos.

-Estou ocupada agora.

-Tudo bem, então depois que você terminar?

Solto um longo suspiro e o encaro séria.

-Apenas trinta minutos. E vai ser sua última chance.

Ele assentiu, se levantou e saiu em direção às portas de entrada/saída. Sei que vou me arrepender de ter feito isso, mas queria saber qual seria a desculpa esfarrapada que ele me daria dessa vez, depois de quase dois anos, se ele tem tanto para me falar porque esperou tanto tempo para isso? Por que agora?

a Última DançaOnde histórias criam vida. Descubra agora