Bebê chorão

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                           VICTOR

Depois de procurar pela garota de cabelos ondulados, na qual agora sei o nome, eu não consegui conter o sorriso e acho que todos perceberam isso, pois depois que saímos do refeitório, meus amigos ficaram enchendo meu saco para que eu a chamasse para sair.

- Ela parece ser legal - Kim diz, os cabelos pretos dele caem em seus olhos.

- Legal e gostosa - Guilherme diz e eu sinto uma pontada de raiva crescer dentro de mim.

- Meu Deus, você é sempre um idiota - Kim diz, falando tudo que eu pensei em dizer, como sempre.

Eu sou amigo desses dois há basicamente 10 anos, lembro da época que vim para o Brasil quando era criança e fiz amizade com os dois na escola, eles eram os únicos que não queriam minha amizade só por dinheiro, apesar de que Guilherme já me pediu dinheiro várias vezes.

Minhas mãos começam a tremer logo quando eu saio do estabelecimento, a pior parte do dia chegou, a hora de voltar para casa.

Meus amigos me acompanham até a nossa rua. Moramos no mesmo condomínio, porém Guilherme acena para nós e caminha para o outro lado da rua. Provavelmente vai ajudar o pai dele na oficina. Ele costuma trabalhar como mecânico junto do pai.

Kim me abraça e sussurra um "vai dar tudo certo" antes de entrar na própria casa. Ele sabe muito bem como eu me sinto em relação aos meus pais. Eu dou um passo longo até a porta da minha casa, mas minhas mãos trêmulas me impedem de abrir a porta. Eu costumo sentir esse tremor sempre que preciso voltar para casa. Meu psicólogo diz que é ansiedade.

Ela costuma vir no mínimo uma vez por dia, sempre tentando deixar claro que ainda está ali, esperando o momento certo para se revelar. A ansiedade é minha pior inimiga, mas também minha melhor amiga.

Eu entro em casa depois de alguns minutos, mas para mim durou séculos. Minha mãe está deitada no sofá, completamente bêbada, e meu pai não está em casa, provavelmente está no escritório, traindo minha mãe com a secretária.

Como sempre, coloco um cobertor em cima do corpo magro da minha mãe e dou um beijo em sua testa. Estou tão acostumado a vê-la desacordada que nem me lembro mais de sua voz. Eu limpo a mesa e jogo todas as latas de cerveja no lixo.

Subo as escadas rapidamente, tentando evitar o encontro com meu pai, já que vi seu carro estacionar na garagem. Minhas mãos começam a tremer novamente e eu tranco meu quarto.

Enquanto tomo banho, ouço os gritos de sempre. Meu pai e minha mãe brigam diariamente, nem sei se lembram que eu ainda moro nessa casa. Minha irmã mais velha, Emily, mora no Canadá com a esposa e os dois filhos. Ela fugiu de casa aos 17 anos e arrumou um emprego para pagar a faculdade. Ela é como um ídolo para mim, sempre sonhei em ter a coragem de fugir de casa.

Mas aqui estou eu, tenho 18 anos e ainda moro com meus pais problemáticos. E agora estou distante da minha irmã. Ligo para ela apenas tarde da noite. Depois de ter se formado em Direito, ela se tornou uma advogada muito requisitada e está sempre ocupada. Holly, a esposa dela, costuma reclamar disso para mim. Ela é dona de casa e odeia ficar sozinha o dia todo. Eu apenas sorrio e tento defender a minha irmã, mesmo que seja difícil.

Minha vida se resume a evitar as brigas dos meus pais e estudar. Tenho muita sorte de ter passado na faculdade federal, meus pais não iriam gostar de pagar a mensalidade para mim todo mês, apesar de eles terem uma quantidade consideravelmente grande de dinheiro na conta do banco.

Saio do banho bufando de raiva, o toque do meu celular está incrivelmente alto e acho que dá para ouvir até da casa do vizinho. Eu encaro o objeto com raiva, mas me acalmo ao ver o nome na tela.

Anti-RomanticOnde histórias criam vida. Descubra agora