Novo Vizinho

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Jeon Jungkook arrastava caixas pelas escadas do prédio, carregando-as para o apartamento recém-alugado. Com um sorriso fácil e olhos que brilhavam com entusiasmo, era difícil não notar sua presença. Sua energia contagiante enchia o corredor, mesmo sem ninguém por perto para testemunhar seu otimismo despreocupado.

"Porra, quantas coisas eu tenho?" Jungkook resmungou, rindo de si mesmo enquanto terminava de levar suas coisas para dentro do apartamento. A bagunça não o incomodava; na verdade, parecia se sentir em casa no caos de caixas e instrumentos musicais espalhados pelo chão.

Quando finalizou, arqueou as costas, sentindo a tensão de horas carregando caixas escorrer pelos músculos. Com um suspiro que fumegava no ar gelado do corredor, ele deu um último empurrão na porta do apartamento, abrindo-a para uma nova fase da sua vida cheia de possibilidades e encontros não planejados. Mas, por enquanto, os encontros teriam que esperar. Jungkook estava sozinho, cercado apenas pelo eco dos seus passos nas paredes nuas da nova morada.

"Isso é liberdade, porra", murmurou para si mesmo, um sorriso fácil emoldurando o rosto enquanto deixava a música que só ele ouvia no fone ditar o ritmo de suas ações. O apartamento era um labirinto de caixas e móveis ainda por arrumar, mas para Jungkook cada objeto deslocado era um acorde numa sinfonia de recomeços. Não havia pressa; a vida era uma sequência de notas soltas à espera de serem tocadas.

Do outro lado da parede fina como papel, Park Jimin vivia uma melodia bem diferente. As manhãs começavam cedo, com o despertador cantando às seis e um batalhão de tarefas que se estendiam ao longo do dia como uma coreografia meticulosa. Entre preparar café da manhã e garantir que Minjun estivesse pronto para a escola, Jimin mal tinha tempo para respirar, quanto mais sonhar.

"Vamos, Minjun, pega teu lanche", dizia ele, lançando uma mochila com heróis estampados nos ombros pequenos do filho. A dança entre ser pai e professor consumia cada fagulha de energia que ele possuía. Em frente ao espelho, as olheiras fundas preenchidas com maquiagem sob os olhos pequenos e expressivos falavam de noites mal dormidas e dias no studio que exigiam mais do que ele parecia capaz de dar.

"Você vai conseguir, cara", sussurrava para o reflexo, tentando crer nas próprias palavras. Seus movimentos eram precisos, cada gesto ensaiado para maximizar o tempo: vestir-se, pentear os cabelos loiros e curtos e escovar os dentes em um balé solo de eficiência.

Enquanto isso, Jungkook desembrulhava seu violão, dedilhando acordes suaves que vibravam contra as paredes e talvez, apenas talvez, atravessassem o abismo invisível que separava dois mundos tão distintos. Ele não sabia da existência do vizinho, do pai solteiro lutando do outro lado, mas se soubesse...

"Quem diabos mora ali ao lado?", Jimin se perguntava, cada batida no violão uma nota dissonante no compasso do seu dia a dia. Porém, o encontro direto entre eles teria que esperar. Por ora, Jimin seguia sua jornada solitária, cada passo um esforço para manter o ritmo da rotina exigente sem tropeçar nas próprias expectativas.

E assim, as vidas de Jeon Jungkook e Park Jimin coexistiam, próximas e distantes, melodias paralelas aguardando o momento em que finalmente iriam se cruzar.

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A madrugada já se infiltrava pelas cortinas quando Jimin, com um sobressalto, despertou. Seu coração batia forte, não pelo pesadelo que o visitara, mas pela realidade sonora que atravessava a fina parede do apartamento. "Caramba, de novo não," ele murmurou para si mesmo, sentindo o peso da exaustão cravar suas garras em seu corpo.

Os gemidos ritmados vindos do quarto vizinho eram quase musicais em sua constância, uma sinfonia de prazer que Jimin não tinha pedido para escutar. Ele pressionou o travesseiro contra os ouvidos, mas o som abafado ainda lhe roubava o sossego, como ondas lascivas quebrando contra as defesas de sua mente cansada.

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