Moreno

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Jimin sentiu o peso da irritação assentar sobre seus ombros como uma capa de chumbo. Minjun, com olhos brilhantes e inocentes, segurava a mão do pai enquanto passavam pelas ruas movimentadas de Seul, implorando pelo mesmo doce que o vizinho desconhecido lhe dera semanas atrás.

"Pai, por favor! Só mais um! Eles são mágicos!" Minjun sussurrou, com aquela voz que fazia o coração de Jimin derreter, apesar da frustração.

"Min, já te dei tantos doces diferentes," respondeu Jimin, sua voz um misto de exasperação e carinho, enquanto vasculhava as prateleiras de uma loja em busca de algum substituto à altura. "O que tem nesse tal doce que é tão especial?"

"Não sei, mas é diferente de tudo!" O pequeno franzia o cenho, desconsolado, rejeitando as guloseimas coloridas que Jimin lhe oferecia, nenhuma delas parecia acender a mesma faísca nos seus olhos.

Desistindo da busca, Jimin suspirou, comprando um pacote qualquer de balas que sabia que seria esquecido assim que chegassem em casa. A obstinação de Minjun era uma lembrança constante de algo que Jimin não podia controlar.

De volta ao apartamento, com Minjun distraído pela TV, Jimin se retirou para a cozinha, seu santuário de quietude momentânea. Foi quando o telefone vibrou no balcão, o nome dela piscando na tela, trazendo uma nova onda de ansiedade.

"O que você quer?" Jimin atendeu, a cautela tingindo cada palavra.

"Eu quero ver o Minjun," veio a resposta rápida, afiada como uma navalha. A voz dela, distante e fria, era uma intrusa em sua vida pacífica.

"Depois de anos? Agora você se importa?" Ele não pôde evitar o veneno em seu tom, a amargura escorrendo por entre os dentes cerrados.

A tensão entre Jimin e Do Kyung-mi,mãe de Minjun, era uma corda esticada prestes a arrebentar. No calor da discussão, as palavras eram flechas lançadas sem mira, cada uma delas deixando sua marca no bem-estar do garoto.

"Ele é meu filho também, e eu tenho o direito de vê-lo!" a voz dela zumbia pelo telefone, arranhando os ouvidos de Jimin.

"Você pensa nisso só agora?" Jimin cuspiu as palavras, o peito subindo e descendo com respirações que lutavam para se manter estáveis. "Depois de anos de silêncio?"

"Eu... eu mudei, Jimin," ela tropeçava nas próprias palavras, tentando construir pontes sobre um abismo de ausência.

"É, mudou tanto que só lembra que tem um filho quando é conveniente." O sarcasmo de Jimin era uma máscara para a dor pulsante em seu peito.

"Por favor, só quero uma chance," ela implorava, mas para Jimin soava como um leilão onde o prêmio era algo que ele não podia perder.

"Minjun vai ficar com você no fim de semana," Jimin cedeu, sentindo cada sílaba como se fosse um prego em seu caixão de preocupações. "Mas se você fizer qualquer merda..."

"Ele vai estar seguro comigo," ela interrompeu, finalmente alcançando o que queria. "Eu sou a mãe dele, Jimin. Tenho direitos."

"Você perdeu esse direito quando decidiu que não queria ser mãe." As palavras saíram de Jimin como balas, cada uma carregada com anos de dor e abandono que enfrentou.

"Vamos resolver isso legalmente então," ela desafiou, e Jimin sentiu o mundo girar sob seus pés.

"Você realmente vai fazer isso? Arrastar Minjun para essa bagunça que você criou?" A imagem de Minjun feliz e despreocupado, mesmo que irritante com aqueles pedidos incessantes por doces, colidiu com a possibilidade de vê-lo preso em uma batalha judicial.

"Ele precisa de mim também," ela insistiu, mas suas palavras soavam oco para Jimin, que conhecia bem a diferença entre precisar e merecer.

"Você vai acabar machucando ele," disse Jimin, a voz endurecida pelo medo de um futuro incerto. "Mas fique sabendo que eu vou lutar com tudo que tenho."

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