O Outro

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O coração de Jimin batia descompassado, uma batida acelerada que ecoava em seus ouvidos, como se quisesse explodir de dentro do peito. Cada vez que ele se mexia na cadeira dura de madeira, parecia mais preso, mais sufocado pelo ambiente opressor do tribunal. O cheiro de desinfetante misturado com o suor da tensão o fazia engolir em seco, um nó crescendo em sua garganta. O ar estava denso, quase palpável, como se carregasse todo o peso do momento.

Ele não conseguia tirar os olhos da porta de madeira escura, onde o juiz deveria entrar a qualquer momento. Aquela espera o corroía, uma antecipação que o deixava à beira de um colapso. 'Vai se foder', pensou, secando as palmas das mãos suadas contra as calças, o tecido áspero arranhando sua pele. 'Por que essa merda tá demorando tanto?'

Ao seu lado, o pequeno Minjun balançava as pernas, o olhar distraído, completamente alheio à gravidade do que estava acontecendo. Ele era uma criança, inocente, sem a mínima noção da gravidade da batalha que se desenrolava ali por causa dele. Jimin olhou para o filho, o peito apertando-se ainda mais.

Ele queria, mais do que qualquer coisa, puxá-lo para um abraço, segurá-lo firme, protegê-lo de tudo aquilo, mas seus pensamentos continuavam retornando para ela. Kyung-mi.

Seu estômago revirou só de pensar no nome. O quão manipuladora ela poderia ser? O quão longe ela iria para conseguir o que queria?

Jimin lembrou do som da voz dela ecoando pela sala quando começou a falar antes dele. Jimin desviou o olhar para a mulher que, com uma expressão cuidadosamente montada, ajeitava o vestido como uma atriz se preparando para entrar no palco. Ela suspirou, fazendo com que as lágrimas se acumulassem no canto dos olhos, como se estivesse prestes a desmoronar sob o peso de uma dor insuportável. Uma encenação perfeita, pensou Jimin, cada movimento calculado.

"Meritíssimo, eu sei que cometi erros, mas quem aqui pode dizer que não cometeu?" Sua voz tremia, cada palavra cuidadosamente modulada para parecer sincera. "Eu era jovem, assustada... Quando meu filho nasceu, eu não estava pronta para ser mãe. Fiz o que achei melhor para ele, deixando-o com o pai, porque sabia que ele estaria em boas mãos. Mas esses anos... esses longos cinco anos sem ele..."

Ela fez uma pausa dramática, inspirando como se lutasse contra a dor de sua própria história. "Foram um tormento. Cada dia longe do meu pequeno foi uma ferida aberta no meu coração. Eu sonhei, Meritíssimo, com o dia em que eu finalmente teria o prazer de viver ao lado dele, de ser a mãe que ele sempre precisou."

Sua voz elevava-se como uma atriz no auge da cena mais emocional, enquanto ela jogava os olhos para o teto, tentando convencer a todos de sua - dor - insuportável.

Jimin estava sentado no banco do outro lado da sala, o corpo rígido, os punhos cerrados em silêncio. Cada palavra saindo da boca daquela mulher fazia seu sangue ferver. Ele sabia. Sabia que era tudo mentira. Cinco anos inteiros haviam passado e ela não tinha mostrado interesse algum. Não houve telefonemas, mensagens ou sequer uma tentativa de contato. Ela o abandonou sem hesitação, fugiu da responsabilidade como se ele não fosse nada mais que uma sombra passageira.

"Eu mereço uma segunda chance," continuou ela, voltando os olhos cheios de falsa ternura para o juiz. "Eu mereço sentir o amor do meu filho, vê-lo crescer, guiá-lo no caminho certo. Por favor, me conceda isso. Me conceda o direito de ser sua mãe, de tê-lo comigo."

Jimin sentiu o estômago revirar. "Direito?" O que ela sabia sobre ser mãe? Tudo que ela queria era desfilar o papel de mãe perfeita, fingir que tinha sido tudo, menos ausente. Ele sabia que era só uma encenação. Aquela mulher não amava seu filho. Não o queria por quem ele era, mas por quem ela poderia parecer ao tê-lo por perto.

O juiz a observava em silêncio, impassível, enquanto ela encenava sua súplica, cada lágrima estrategicamente caída. Jimin não suportava mais ouvir. Sabia que tudo aquilo era uma performance. Ela nunca esteve por perto quando ele chorou à noite, nunca viu seus primeiros passos, nem ouviu suas primeiras palavras.

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