01 - Richard

490 39 3
                                    

Ouvi o barulho das botas de Bob se aproximando e me dei conta de que já é tarde, dei um suspiro longo.

- Boa noite, senhor. - Bob falou quando entrou no escritório.

- Boa noite, Bob... Tudo certo?

- Sim, os cavalos estão no celeiro e decidi levar o gado para o lado leste da propriedade, tem menos vento a noite e o capim é melhor.

- Certo... E os vaqueiros?

- Estão no alojamento... Essa noite, Tate, Erick e eu vamos fazer uma ronda, com o inverno chegando, não é bom arriscar com os ursos.

- Eu vou com vocês. - falei e fiquei de pé - Passei tempo demais sentado aqui nesse escritório, preciso esticar as pernas.

- Sim senhor.

Bob saiu e eu o acompanhei até a cozinha, ele saiu pela porta e eu me aproximei de Marta minha empregada.

- O jantar está pronto Richard.

- Obrigada Marta, mas vou dar uma volta com os rapazes... Pode deixar meu prato que quando eu voltar esquento.

- Tudo bem, posso encerrar por hoje?

- Pode sim, vá para casa.

- Tome cuidado.

- Pode deixar.

Marta é a única tirando minha família que me chama pelo primeiro nome, ela cuida da casa há anos e desde que meu pai morreu que, além da casa, ela cuida de mim, é o que tenho mais próximo de uma mãe por assim dizer. Peguei meu boné e saí da casa, me afastei da entrada até o galpão onde guardo meus carros, tinha duas caminhonetes prontas para sair, entrei no que Bob estava e saímos.

Meus homens são de confiança, Tate e Erick serviram no exército, mas Bob é o meu braço direito, chegou aqui quando criança, temos a mesma idade, meu pai o resgatou de um lar abusivo onde seu pai o surrava todos os dias, foi acolhido por todos aqui, aprendeu o trabalho na fazenda e desde então ele se dedica cem por cento a minha família. Bob fez coisas e viu coisas que apenas minha família sabe, cuidar dessas terras é bem mais difícil do que se imagina e o trabalho vai além de cuidar do gado, meu pai fez muitos inimigos ao longo da vida e agora eu lido com tudo mas fico grato por ter alguém tão devotado ao serviço quanto eu.

Tate e Erick seguiram para norte e leste da propriedade, Bob e eu fomos para o sul e oeste. Rodamos por mais de meia hora, seguindo devagar, peguei meu celular e vi que passava das nove.

- Vamos voltar, mas vá pela estrada. - ordenei e Bob assentiu.

Rodamos um pouco pela estrada que leva até a cidade, quando de repente vimos um corpo na beira da estrada.

- Mas que merda é essa? - Bob falou e se aproximou devagar.

- Será que está vivo?

Assim que perguntei, o corpo se mexeu, mas não muito.

- Encosta e chama os outros. - mandei.

Bob pegou o rádio e chamou Tate e Erick, peguei minha pistola no porta luvas, Bob segurou a sua na cintura e saímos da caminhonete, andamos devagar iluminados pelos faróis altos. Assim que nos aproximamos vimos que era uma mulher e que estava gravemente ferida, seu rosto estava desfigurado e sangrando, me abaixei e ela estava respirando com dificuldade. Ouvimos barulho de um carro, me ergui e vi que era Erick e Tate.

- Vamos levá-la para minha casa.

- Mas senhor, se isso for uma armadilha? - Bob perguntou?

Me virei para os outros pensando.

- Nós não vimos nada de anormal vindo para cá e nem durante a ronda. - Tate falou.

- Não posso deixar essa mulher morrer aqui. - comentei.

- Achei a bolsa dela. - Erick falou um pouco mais distante.

- Está decidido... Vamos levá-la. - Coloquei ela no carro e seguimos de volta para a minha casa.

Ao chegar percebi que ela desmaiou, os ferimentos pareciam bem ruins e havia mais do que notei na estrada. Liguei para o meu piloto particular e mandei que trouxessem o helicóptero para levarmos a moça para o hospital. Foi tudo uma loucura e eu não estava pensando direito, só sabia que não iria deixar essa mulher morrer. Levamos ela para a cidade de Billings, Bob tinha vasculhado na sua bolsa e achou sua identidade, ela se chama Anne Larsson e  consegui que fosse atendida logo.

- Bem, a paciente teve uma concussão, tem duas costelas quebradas, alguns cortes no rosto e vários hematomas, alguns deles demonstram que ela apanha há algum tempo... Quem bateu nela não teve dó nenhuma, que bom que vocês a encontraram.

O médico falou, olhei para Bob e sabia que ele ainda achava que era uma armadilha de alguém.

- Obrigado doutor. - respondi - Posso vê-la?

- Claro.

Entrei no quarto, Anne estava dormindo, tinha uma faixa enrolada no pescoço, um curativo na testa e outras marcas pelo braço, mas agora com o rosto limpo, pude ver melhor os cortes mas também notei sua feição e os traços suaves do seu rosto, Anne é bonita, dei um suspiro longo, quem quer que tenha feito isso com ela é um filho da puta. Saí do quarto e me aproximei de Bob.

- Preciso de você comigo, mas vou mandar o Erick para montar guarda aqui no hospital. Anne não vai sair desse hospital sem antes conversar comigo, preciso saber se foi uma coincidência infeliz ou se ela foi enviada por alguém.

- Sim senhor.

- Agora vamos.

Deixei avisado no hospital que Anne está sob minha responsabilidade e só pode sair comigo do hospital. Sendo como sou, sabia que ela iria tentar fugir quando acordar. Cheguei na fazenda com o dia quase amanhecendo, fui direto tomar uma ducha, depois comi o jantar que Marta tinha deixado para mim.

Acordei um pouco mais tarde e depois do café, fui para o escritório e liguei para um detetive particular amigo meu que mora em Nova York.

- E então o que é que você tem para mim? - ele perguntou depois de conversarmos um pouco.

- Uma mulher, apareceu ferida perto da minha fazenda, preciso que você descubra tudo o que puder sobre ela.

- Certo, o que você acha? Tenho certeza de que tem uma ideia.

- Ou ela realmente está por aqui por acaso e deve estar perdida ou, pode ser alguma pegadinha de alguém por aqui que não gosta de mim. - falei e ele riu.

- Isso não é difícil de achar, amigo.

- Eu sei... Seja como for, quero estar preparado.

- Ok, certo... Me envia o que você tem dela e te dou um retorno amanhã.

- Estou mandando agora... Obrigado.

Encerrei a chamada e fiquei de pé, estava na hora de começar mais um dia de trabalho, pensei em Anne e nos motivos que a trouxeram até aqui, espero não seja a encrenca que acho que é, peguei meu boné e saí do escritório.

Destino do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora