Prólogo

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Acho que todo mundo já teve um crush.

Sim, aquela pessoa linda, com qualidades incríveis, que te faz sorrir à toa, que te faz passar horas pensando em momentos com ela. Como seria bom mostrar para as amigas, ou como seriam lindas as fotos de momentos juntos. E como seria um sonho. Ela é o que você achava que existia somente nos filmes. Mas ela é real e parece tão certa para você que chega até ser coisa do destino. Até tem trilha sonora.

Mas e se for um crush impossível?

Você passa meses tentando mandar um "oi" pelo WhatsApp ou pelo direct do Instagram, mas não consegue. Você a stalkeia em todas as redes sociais, vê quem a marcou nas fotos, se ela tem um gato ou cachorro. Isso tudo para tentar encontrar algo em comum com ela. Uma série, um livro. Tudo para criar um assunto que impressione, algo para puxar conversa.

Aí, ela começa a namorar e você fica arrasada, escondida nos cantos, chorando baixinho. E você não pode sequer dizer "como ela pode?". Afinal, vocês nunca tiveram nada. Ela nem sabe que você existe. E, mesmo assim, você torce para que ela termine logo, o mais rápido possível, só para que seu coração não precise sofrer tanto.
Ela começa a postar indiretas para outras pessoas e você fica imaginando: "Por que não eu?".
Você sofre por ela, enquanto ela está sofrendo por outra pessoa. E, então, tudo dói ainda mais. Você começa a questionar o que está acontecendo com você, com ela, com todo o mundo. Um ciclo vicioso de amores não correspondidos.

Você se sente invisível para ela. Ela te ignora, e você tenta odiá-la, para não amá-la.

Mas dizem que o amor e o ódio andam lado a lado.
E por que esse monólogo? Bom, porque eu também já tive um crush impossível.
Mas para eu te contar essa história, você precisa conhecer meus vizinhos dos fundos.

Meus pais percorreram um extenso caminho até chegarmos onde estamos. Quando nos mudamos para esse condomínio em São Paulo, socializar com nossos vizinhos nunca foi um problema. Exceto com esses vizinhos em particular. Por quê? Bem, eles são pessoas endinheiradas, fechadas. Se nos cumprimentamos três vezes, foi muito.

A família deles é composta pela Sra. Catharina, seu marido Ricardo, e os três filhos: Igor, Valentina e Léo. Como sei tanto sobre eles, se nem nos falamos? Bem, a razão tem nome e sobrenome: Valentina Albuquerque.
Suspiro só de pensar nela, com direito a corações imaginários flutuantes ao meu redor.

Nós duas estudamos na mesma escola, uma prestigiada escola particular daqui de São Paulo.
Não se engane, eu não tenho tanto dinheiro assim. Sou bolsista. Foi por isso que meus pais se mudaram. Eles não queriam privar a filha de estudar na melhor escola do país, só por causa da localização.

Valentina é meu amor platônico desde que a vi brincando com os irmãos no quintal dos fundos da casa dela, quando eu tinha 14 anos. Eu me lembro daquele dia como se fosse ontem. Ela estava rindo, com os cabelos ao vento, parecendo tão livre e feliz. Naquele momento, senti algo dentro de mim, algo que eu nunca tinha sentido antes. Aquele momento parou o tempo para mim. Ela se tornou a pessoa que eu olharia todos os dias. Mas minha paixão foi diminuindo com o tempo. Nunca troquei uma palavra com ela, nem sequer um simples olhar. Acho que Valentina nunca percebeu minha presença. Ela vive no seu próprio mundo, enquanto eu estou aqui, invisível, apenas observando de longe.

O pouco contato que tenho com meus vizinhos está prestes a mudar. Mas, não por escolha minha.

Atrávez da minha janela (VALU)Onde histórias criam vida. Descubra agora