Capítulo 3 - Os minutos mais longos

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Toda vez que separadas nossas mãos entrelaçadas,

Tentava agarrá-la com calor.

Toda vez que acho que poderei te ver novamente,

Meu coração tinge de uma adorável sombra.

(TAXI – Dong Bang Shin Ki)

Eu não soube para onde ir, parei na frente do restaurante com os olhos e o rosto encharcados de lágrimas. Eu não podia deixar que ninguém me visse daquele jeito. Olhei para trás e a hostess ruiva estava me olhando curiosa, preste a vir até mim. Apressada eu acelerei o passo para nenhum caminho em especial, apenas sai andando tentando me acalmar, pensando em uma desculpa boa o suficiente para explicar minha saída abrupta, mas nada coerente se formava em minha mente. Continuei caminhando sem destino, me forçando a estancar o jato de lágrimas.

Para minha surpresa minha mente escolheu um caminho inesperado. O parque. Eu havia esquecido que ele ficava perto do restaurante de Jay e não demorei muito para chegar lá, era só a alguns quarteirões de distância.

O sol brigava com as nuvens pesadas por espaço e estava deixando o dia numa cor alaranjada, a cor dos olhos de Jeremy. Um vento frio arrepiou os pelos do meu braço, a qualquer momento poderia chover. Ótimo, eu não tinha um guarda-chuva. Mas perceber que poderia terminar a noite encharcada não me fez dar meia volta para o restaurante, nem pra qualquer outro lugar, eu não tinha ideia de para qual lugar ir, e aquele parecia o mais apropriado.

Adentrei no parque, decidida e sem rumo ao mesmo tempo, o som dos passarinhos empoleirado nas árvores abafava a vida cotidiana do vai e vem dos carros na pista que ficava logo à frente. De onde eu estava conseguia ver uma parte do meu antigo colégio do outro lado da rua. Hoje era sábado, não havia aula, não havia o murmúrio dos alunos saindo em direção as suas respectivas casas, nem buscando um refugio no parque, como um dia eu fiz, e estava repetindo nesse momento. Eu sorri ao me lembrar de mim mesma saindo pelas grandes portas, a mochila lilás nas costas, vindo em direção ao parque no qual me encontrava agora.

Eu sabia o que estavas prestes a fazer, não era saudável, mas era o que eu precisava no momento. E eu precisava reviver o passado, alimentar a ilusão de que tudo jamais mudaria.

O parque estava pouco movimentado e esquecido por muitos que por ali passavam todos os dias. Havia apenas uma senhora idosa dando de comida aos pombos, e umas duas pessoas caminhando, nenhuma criança usava os brinquedos velhos da área reservada a eles, estava tarde e frio demais para isso. Andei até o centro do parque, onde ficava a ponte de madeira em formato de arco que dava travessia pelo pequeno rio que ficava embaixo. Caminhei até a metade da ponte e me sentei com as pernas balançando no ar, observando alguns poucos raios do sol brincarem na água. Eu não tinha mais forças para segurar as lágrimas e logo às senti molhando o meu rosto. Aqui eu não me recriminaria por isso. Esse era o meu lugar. Eu podia chorar por todos esses meses que me repreendi só por pensar nisso. Eu podia chorar por toda e qualquer impossibilidade. Chorar pela minha covardia e pelo meu egoísmo. Chorar por estar chorando. Eu não me importava que ninguém visse, porque nesse lugar eu não podia ser julgada.

As lembranças começaram a vir a tona, uma atropelando a outra.

Flashback

Uma grande toalha xadrez estava forrada no chão com duas cestas de piquenique segurando-a. O sol brilhava fraco no céu, estava entardecendo. Não havíamos tido aula naquela manhã, alguma reunião boba de professores, assim decidimos passar um tempo no parque.

Amanda e Christopher jogavam alguma coisa com pedrinhas e a cada minuto um caía na gargalhada. Eu havia desistido de tentar entender o jogo. Jeremy, Nat e mais uns dois garotos jogavam futebol, um pouco mais distantes, de vez em quando a bola acertava onde Jay e eu estávamos sentados aproveitando o clima. E pela milionésima vez naquela tarde a maldita bola de futebol acertou minha cabeça.

Closer - Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora