1. Ladeiras de Olinda

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A mulher bufou mais uma vez observando a multidão de pessoas à sua frente. Mais dois carros já se colocavam atrás do seu, começando a formar uma pequena fila.

Que ideia de jerico, pensava.

Fizera o caminho todo questionando o que estava fazendo na rua naquele dia quando podia estar em casa deitada em sua cama confortável e descansando. Podia, agora, estar assistindo a um filme enrolada em algum cobertor a uma temperatura ambiente que não passasse dos 20°C enquanto se entupia de massas e açúcares.

Qual é? Era carnaval! Logo, estava liberada para comer o que quisesse.

No entanto, em uma situação completamente diferente do que pretendia, estava na rua debaixo de um sol de rachar com uma temperatura passando dos 30°C.

Um absurdo, pensava.

Àquela altura, já tinha decidido sair do carro. Estacionara em uma área mais tranquila e afastada e pusera-se a andar à procura de algum local onde pudesse sentar. Como esperava, até onde podia enxergar, nenhum estabelecimento encontrava-se aberto, porém havia calçadas e escadas que serviriam no momento e foi por ali mesmo que decidira ficar. Sentara no oitavo degrau de uma escadaria não muito alta que dava para uma pequena igreja. Outras pessoas também se encontravam por ali sentadas, assim como ela, ou andando.

Olinda transbordava!

Observava as pessoas transitando para lá e para cá, despreocupadas com qualquer outra questão que não fosse aproveitar aquele momento. Andavam. Pulavam. Gritavam. Cantavam. Dançavam. Abraçavam. Beijavam. Sorriam. Alheias a qualquer evento externo que não fosse o simples fato de estarem ali.

Entorpecidas, era assim que Caroline achava que as pessoas ficavam nessa época do ano.

Não criticava, sabia que às vezes era necessário se desligar do mundo e aproveitar única e exclusivamente o momento. Achava até bonito como algumas pessoas conseguiam se entregar àquilo. Olhar para a pessoa e ver com facilidade o quão aprazível algo pode ser. Ela não era aquele tipo de pessoa; carnaval não era sua época preferida do ano, exceto pelo feriado. Isso, no entanto, não a impedia de achar gracioso quem verdadeiramente se divertia com aquilo.

Ainda estava irritada com a situação. Se perguntassem, ainda responderia que preferia estar em casa ou em algum lugar mais tranquilo. Porém já estava ali e não tinha mais o que fazer senão tentar aproveitar. Um pouco menos irritada com essa constatação, permitiu-se olhar à sua volta mais uma vez dando-se conta do dia lindo que fazia. Apesar do calor absurdo, um céu em um imenso azul parecia sorrir para ela. As ruas também pareciam sorrir. Estavam cheias, coloridas e barulhentas. Haviam as mais diferentes pessoas, com as mais diferentes roupas e fantasias. Criança, adulto, idoso, homem e mulher todos juntos e misturados.

Olinda estava contagiante e sorria para ela. Vibrava!

Havia um palco grande mais à frente, conseguia enxergar de relance de onde estava. Uma batida forte emanava de lá e as pessoas se agitavam ao som de músicas cantadas, apresentações de passistas de frevo e a batucada de maracatu que aconteciam ali perto. Também conseguia ver os bonecos gigantes cruzando as ruas por entre a multidão. Caroline achava aquilo genial. Tinha várias representações, de Reginaldo Rossi e Alceu Valença a Galvão Bueno e William Bonner. Apesar de achar todos incríveis, ela elegeu seu favorito: Zé do rádio.

Como boa rubro-negra pernambucana que era, conhecia a história do time para qual torcia. Zé do rádio foi e ainda é um símbolo para a torcida do Sport Clube do Recife. O senhor ficou conhecido por sempre ir assistir aos jogos acompanhado de seu inseparável rádio de pilha. Geralmente próximo à comissão técnica e com o rádio ligado, costumava causar certa irritação em técnicos rivais por causa do som que ouvia e, por isso, ficara conhecido por alguns deles como um dos torcedores mais chatos do time. Para Caroline, o cara era uma figura; certamente um personagem no futebol pernambucano, e por isso não havia como escolher outra representação.

One Shots | ROSATTAZOnde histórias criam vida. Descubra agora