Ela me sussurrou uma peça do futuro nas partículas do vento.
O futuro acontece em São Paulo, num apartamento movimentado com vista privilegiada para a famosa Avenida Paulista. Arquitetura e urbanismo, um gato amarelo e um cachorro de raça deitados na cama de casal. O céu brilhando em um tom de rosa poluído no fim da tarde, duas cadeiras em uma cafeteria cara e uma conversa boba sobre nosso dia. Ela me trouxe flores e eu a deixei comer minha torta de pêssego. Saímos de mãos dadas, sem medo da mãe dela descobrir ou minha avó se decepcionar. Não sinto falta de nada.
Assisti a peça como sendo um dos livros de romance da minha adolescência.
Meu futuro seria em Minas Gerais, numa casa pequena alugada em nome da minha mãe. Psicologia, sem gato ou cachorro deitado na minha cama de solteiro. Não existe cafeteria, mas talvez tenha um cara legal sentado ao meu lado na sacada. Ele toma meu chá de camomila e eu escrevo sobre São Paulo com o nome dele no lugar do dela. Não tenho medo que ninguém nos veja, mas sinto falta do calor da mão dela na minha.
Ele não diz nada sobre o futuro, o chá na sacada o agrada, não o café em São Paulo.
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Aurora Poetarum
PoetryUm compilado de textos e poemas extraídos de madrugadas sem dormir e muitos anos de choro reprimido.